Morre João Gilberto, e o Brasil fica sem música, completamente desafinado

João Gilberto toca no Festival de Águas Claras em São Paulo na década de 1980 em registro do filme “O Barato de Iacanga”, de Thiago Mattar – Foto: Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo – UOL

A morte de João Gilberto neste sábado (6) aos 88 anos deixa o Brasil sem música, completamente desafinado.

O genial músico baiano criador da batida da bossa nova e de um jeito de interpretar que influenciou artistas não só do Brasil como de todo o mundo era a própria definição de um ser musical.

A música habitava em João Gilberto, que por ela nutria devoção e respeito absolutos.

Talvez, por não suportar os excessos do mundo contemporâneo, cada vez mais mergulhado em barulhento descompasso, ele tenha se retirado nos últimos anos, isolando-se na acústica perfeita de seu apartamento no Leblon, para infortúnio de todos nós.

Tive o privilégio de ver João Gilberto de perto uma única vez.

Justamente naquele que seria seu último show, em 2008, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo.

Então repórter da Ilustrada na Folha de S.Paulo, fui escalado para cobrir sua chegada e saída do tão esperado concerto.

Lembro-me do arrepio que senti ao vê-lo sair do carro, já bastante atrasado, e do olhar que me deu quando gritei, na companhia de uma multidão de repórteres, por seu nome.

Enquanto via seu rosto ser iluminado pelos múltiplos flashes ao percorrer o curto caminho entre o carro e a entrada do camarim, ele me deu um sorriso com toda a candura do mundo.

Aquele gesto de paz em meio ao caos foi inesquecível e, diante dele, tive a certeza de que aquela seria a primeira e última vez que estaria diante de um dos maiores gênios da música do mundo.

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