Em ano difícil na cultura, 14ª CineOP resiste e leva 15 mil ao cinema

A mulher que rege o cinema em Minas Gerais: Raquel Hallak, da Universo Produção, que realiza as mostras de cinema de Tiradentes, Ouro Preto e BH – Foto: Leo Lara – Universo Produção – Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo – UOL

ENVIADO ESPECIAL A OURO PRETO (MG) — Nunca foi tão importante discutir a preservação de nosso cinema, tema da 14ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto. Após perigar não acontecer, o evento realizado pela Universo Produção juntou realizadores, artistas, educadores, imprensa e preservadores do cinema na cidade histórica mineira entre 5 e 10 de junho. Com foco na manutenção e na valorização cinematográfica brasileira de ontem, de hoje e do amanhã, o evento exibiu 103 filmes de graça para 15 mil pessoas.

Entre o público, estiveram 3.600 alunos de 16 escolas públicas dos distritos de Ouro Preto, muitos dos quais descobrindo pela primeira vez os encantos da sétima arte nas concorridas sessões no histórico Cine Vila Rica.

Público acompanha o filme “A Mulher da Luz Própria”, sobre Helena Ignez, no Cine Vila Rica, na 14ª CineOP – Foto: Jackson Romanelli – Universo Produção – Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo – UOL

Segundo Raquel Hallak, da Universo Produção, o objetivo é que a sala não fique aberta só durante os dias da CineOP, mas que permaneça em atividade todo o ano. Tivemos de fazer uma série de reformas para deixá-lo apto a sediar a CineOP, mas o Cine Vila Rica precisa de uma grande reforma. Já há um projeto em andamento em parceria da Ufop [Universidade Federal de Ouro Preto] com a Codemig, mas ainda não há previsões de prazos”, afirma.

Crianças assistem a filmes na 14ª CineOP: 3.600 alunos de 16 escolas públicas de Ouro Preto em contato com o cinema – Foto: Leo Lara – Universo Produção – Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo – UOL

Ela conta que temeu que este ano a CineOP não acontecesse. “A gente está em um momento muito complexo para a cultura e a educação neste país. Há um ambiente hostil com as leis de incentivo à Cultura e encontramos mais resistência no meio empresarial. Existe uma desinformação muito grande. Estamos sofrendo, como todo o setor cultural”, diz Raquel.

Mesmo assim, a gestora e produtora cultural mineira não desanima. “Eu sou muito otimista. A gente tem de trabalhar para manter as coisas de pé. São 14 edições da CineOP, 22 edições da Mostra de Cinema de Tiradentes e 13 do CineBH. A cada edição é sempre um recomeçar. Para a cultura no Brasil não há garantia”, lamenta.

Cinema para todos e ao ar livre: público assiste no Cine Cemig na Praça Tiradentes, em Ouro Preto, ao filme “Carvana” – Foto: Leo Lara – Universo Produção – Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo – UOL

Raquel fala da importância de que governos federal, estaduais e municipais se sensibilize da importância de festivais artísticos com presença contínua no calendário. “Eventos que têm essa legitimação da sociedade e da classe artística precisam ser preservados pelo governo. Eventos como a CineOP deveriam ser ‘tombados’”, avalia. “Afinal, estamos falando de patrimônio em uma cidade-patrimônio da Humanidade”, complementa, ressaltando a importância do apoio da Cemig para que a CineOP fosse realizada.

Quintino Vargas, sócio de Raquel na Universo Produção, ao lado de Fernanda Hallak, lembra que os festivais que produzem em Minas Gerais geram milhares de empregos diretos e indiretos, além de movimentar a economia, desde passagens aéreas e terrestres para convidados, traslados, estadias em hotéis, alimentação nos restaurantes locais, fora toda a equipe técnica contratada a cada cidade para a realização desses eventos.

Raquel Hallak discursa na abertura da 14ª CineOP, ao lado dos sócios Fernanda Hallak e Quintino Vargas, da Universo Produção – Foto: Nereu Jr. – Universo Produção – Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo – UOL

“Só na CineOP temos contratos com mais de 200 diferentes empresas. Um evento como esse movimenta uma verdadeira teia. Há estudo que mostra que a cada 1 real investido na Cultura ele dá retorno de R$ 1,59”, diz. Ao que Raquel complementa: “A cultura é um bom negócio. Precisamos fazer com que a população entenda isso cada vez mais e deixe de lado a desinformação das fake news”.

Ela lembra a importância dos festivais para a formação de “toda uma nova geração no cinema brasileiro, não só na realização como também na crítica”. E cita como exemplos os filmes mineiros de sucesso internacional “Arábia”, de Affonso Uchôa e João Dumans, elogiado pelo The News York Times, e “Temporada”, de André Novais Oliveira, comprado pela Netflix. “Nossos festivais de cinema em Minas Gerais são espaço de fomento, de formação e de preservação do cinema brasileiro”, conclui Raquel.

Ouro Preto faz festa em suas ruas centenárias para celebrar a 14ª CineOP – Foto: Leo Lara – Universo Produção – Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo – UOL

*O colunista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite da 14ª CineOP e da Universo Produção.

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