Com João Gilberto, Woodstock brasileiro vira filme O Barato de Iacanga

Filme “O Barato de Iacanga” mostra o Woodstok brasileiro: João Gilberto toca no Festival de Águas Claras, que marcou os anos 1970 e 1980 e é recuperado pelo documentário de Thiago Mattar – Foto: Divulgação O Barato de Iacanga – Blog do @miguel.arcanjo – UOL

ENVIADO ESPECIAL A OURO PRETO (MG) — Pouca gente sabe, mas o Brasil já teve seu Woodstock. Na verdade, ele se chamava Festival de Águas Claras, e foi realizado não apenas uma, mas quatro vezes, entre 1975 e 1984, atraindo até 80 mil jovens no espírito paz e amor à cidade Iacanga, no interior de São Paulo a 375 km da capital. Todos sedentos por verem em cima de um palco improvisado com madeiras da fazenda estrelas do porte de João Gilberto — que completou 88 anos nesta segunda (10) —, Os Mutantes, Raul Seixas, Gilberto Gil, Hermeto Pascoal e Alceu Valença, entre outros. Claro que tudo regado a muita psicodelia, com direito a barracas múltiplas no gramado, amor livre, sol e chuva, além de banhos nus no rio próximo.

Esta história interessantíssima e até então um esquecido capítulo da música brasileira é recuperada com glória no filme documentário “O Barato de Iacanga”, de Thiago Mattar. O longa encerrou com destaque a 14ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, nesta segunda (10), em sessão aplaudida pelo público ouro-pretano no Cine Vila Rica. O documentário é fruto da obsessão do jovem cineasta paulista Thiago Mattar, que estreia como diretor de um longa neste projeto embalado por ele com esmero nos últimos dez anos.

O cineasta Thiago Mattar, diretor de “O Barato de Iacanga”, documentário sobre o Woodstock brasileiro – Foto: Leo Lara/Universo Produçao – Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo – UOL

Foi nas conversas familiares que Thiago descobriu da existência daquele festival hippie no meio do nada e do qual nunca havia ouvido falar, como a maioria dos habitantes deste país desmemoriado. Decidiu que ele seria o contador daquela história.

“Nunca imaginava que naquela cidade pacata do interior onde morou minha bisavó paterna em uma casinha de madeira até morrer havia existido um festival como aquele. Quando meu pai me disse que não só tinha existido, como havia ido e que um primo dele foi quem realizou, quase não acreditei”, fala o cineasta em conversa exclusiva com o Blog do Arcanjo no café do Cine Vila Rica, em Ouro Preto. “Para mim, até então, Iacanga era uma cidade de velhinhos, não a cidade do ‘Woodstock brasileiro’”, lembra.

Thiago Mattar apresenta o filme “O Barato de Iacanga” na 14ª CineOP: sessão aplaudida, mas ainda sem previsão de estreia comercial – Foto: Jackson Romanelli – Universo Produção – Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo – UOL

Depois da revelação do pai, Thiago começou uma verdadeira cruzada para encontrar histórias e imagens do tal festival, que mal figurava até então no Google. Logo, seu pai lhe passou o contato do primo Antonio Cecchinn Jr., o Leivinha, o organizador daquela festa que foi um verdadeiro barato.

“Aos poucos fui conseguindo material que estava perdido nos arquivos da TV Cultura, o fotógrafo Mario Luiz Thompson, verdadeira lenda da fotografia musical, também filmou em Super-8, além da Band e da Olhar Eletrônico, que também filmaram o festival”, conta o diretor, que também reuniu farto material fotográfico com sua incansável pesquisa.

Boa parte do pequeno orçamento do longa foi para cobrir os direitos autorais. “Tive pesadelos que ao mesmo tempo eram sonhos durante o processo”, confessa. “Tinha medo de ser alguém que passa a vida toda fazendo uma coisa e não a concretiza. Virar o chato do bar com a história de um projeto incrível que nunca sai. Foi um envolvimento enorme, uma verdadeira obsessão, e sem nenhuma grana”, conta, lembrando que Marcelo Machado, diretor do documentário “Tropicália”, lhe abriu com generosidade muitas portas para que “O Barato de Iacanga” se concretizasse.

“Aqui em Ouro Preto muita gente veio falar comigo após a sessão dizendo que não conhecia e que estava muito feliz por eu ter contado essa história. Todo mundo saiu da sessão mais quentinho, consegui esquentar o coração da galera, fazer o pessoal rir, as reações foram ótimas. É muito bom ouvir risadas e aplausos no meio da sessão”, comemora.

Público da 14ª CineOP assiste a “O Barato de Iacanga”, filme de Thiago Mattar que encerrou a Mostra de Cinema de Ouro Preto, em Minas Gerais, nesta segunda (10) – Foto: Jackson Romanelli – Universo Produção – Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo – UOL

Mesmo com o sucesso não só na CineOP como também na Itália, onde o documentário representou o Brasil no Seeyousound – Music Filme Experience, em Turim, ainda não está garantido que o todo o público brasileiro verá “O Barato de Iacanga”. “Até agora ainda não sabemos se o filme vai estrear comercialmente. Queremos muito, mas ainda não é certeza”, fala Thiago, deixando o diálogo aberto para distribuidores e salas que quiserem somar-se à empreitada. O público paulistano é mais sortudo e terá a chance de ver o filme nos próximos dias em três sessões dentro do Festival In-Edit, dedicado a documentário [veja serviço ao fim].

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Também está garantida exibição na TV paga. “Fizemos uma parceria importante com o canal Curta, onde o filme vai estrear no segundo semestre”. Para Thiago, ver seu filme indo ao encontro do público é a maior satisfação para quem lutou tanto para ver essa história na telona. “O Festival de Águas Claras teve uma importância política enorme e assustou a ditadura. Consegui um documento que recomendava aos governos estaduais cuidado com festivais como aquele”, conta.

“O Barato de Iacanga”, de Thiago Mattar
Sessões no Festival In-Edit Brasil em São Paulo
15/6 – Sábado, 17h – Cinesesc – com presença do diretor
18/6 – Terça, 19h – SPCine Olido – com presença do diretor e debate ao fim
20/6 – Quinta, 16h – Cinemateca Brasileira – com presença do diretor e debate; sessão com legenda audiodescritiva.

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*O colunista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite da 14ª CineOP e da Universo Produção.

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