“Paris tem pretos e pretas em cargos de respeito”, diz Rincon Sapiência

O músico Rincon Sapiência: “Paris tem pretos e pretas em cargos e situação de respeito” – Foto: Mouky – Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo – UOL

A viagem do músico paulistano Rincon Sapiência a Paris rendeu frutos. O MC, que também é empresário e produtor musical, acaba de lançar o single “Bon Voyage (Crioulo em Paris)”, inspirado pela cidade e com clipe gravado na capital francesa [assista ao clipe ao fim desta entrevista].

A canção será apresentada ao público no show que ele faz neste sábado (27), às 22h, na Casa Natura Musical, em São Paulo. A apresentação contará com participação especial de Karol Conka, convidada da noite.

O artista de 33 anos concedeu esta entrevista exclusiva ao Blog do Arcanjo, na qual fala da sua experiência inesquecível na Cidade Luz. Leia com toda a calma do mundo.

Miguel Arcanjo Prado — Estar em Paris movimentou quais tipos de sentimentos em você?
Rincon Sapiência — Paris movimentou os mais diversos sentimentos, seus encontros, lojas, grifes, comportamentos, organização da cidade e coisas do tipo. E os recortes, recorte étnico, a atmosfera de estar em um bairro preto e em outra região de Paris é totalmente diferente. O bairro preto tem seus cheiros, músicas, roupas, atividades comerciais. Em outros lugares já se tem coisas mais parecidas com os clichês que a gente recebe antes de conhecer a cidade. Sem dúvida nenhuma foi um dos lugares que já fui fora do Brasil que me trouxeram muitas reflexões em torno do êxodo, imigração, xenofobia, coisas do tipo, foi um mix de sentimentos que eu tive a partir dessa viagem.

Miguel Arcanjo Prado — A presença negra atualmente é maior em Paris do que já foi no passado. Como sentiu que a cidade lida com essa presença?
Rincon Sapiência — Por incrível que pareça Paris convive com alguns avanços que não convivemos por aqui. Detalhes simples. É uma cidade de muitos imigrantes de todos os lugares possível, mas é um lugar de muitos pretos também. Você vê a presença deles na publicidade, vários pretos bem vestidos, com carrão, ocupando lugares legais, vestindo coisas legais, comendo coisas legais, bebendo coisas legais. Tem detalhes que a gente vê que demarcam um avanço de um país que estruturalmente é bem organizado. Mas também algumas reproduções são parecidas, então você vai ver também pretos em atividades ilícitas, em subempregos, em bairros mais precários, fazendo o trabalho de cuidar de criança, de empregada doméstica e coisas desse tipo é algo que eu vi e até cito na música também. Então, algumas reproduções são de praxe sobre a presença preta no mundo. A gente vê a reprodução de alguns detalhes que a gente sofre socialmente, mas Paris, ainda assim, é um lugar que tem aparentemente uma educação diferente em alguns aspectos e uma estrutura melhor econômica. Então, naturalmente, você também vê pretos e pretas em cargos e situações de muito respeito também.

Miguel Arcanjo Prado — O fato de ser estrangeiro e negro em Paris inspirou essa música ‘Bon Voyage’ de que forma?
Rincon Sapiência — O fato de ser preto cai num lugar que eu era mais um entre vários. Então, a visão é a mesma de sempre, a mesma posição e postura que se tem aqui você tem lá também, como um cidadão preto. Esse recorte eu confesso que não foi tão determinante nas minhas reflexões. Agora, o lance do estrangeiro sim, porque Paris é muito habituada com esse convívio. Tem pessoas do Sri Lanka, Marrocos, Camarões, Benim, Senegal, Costa do Marfim, Congo, Argélia… É muita gente estrangeira. Então, naturalmente, alguns se associam mais. Os africanos pretos eu vi uma ligação, sobretudo com os argelinos. Os indianos vi mais no lance deles, restaurante deles. Eu como brasileiro se associa muito à música e aquelas praxes de sempre, não dá pra definir de uma forma única. Paris tem um tratamento tal com os estrangeiros, porque cada estrangeiro traz uma religião, crença, cultura, hábitos e, nessa mistura toda, foi muito interessante vivenciar essa experiência. Mas, se tratando de coisas negativas, existam várias relacionadas a racismo e xenofobia, como em todo lugares do mundo, mas do pouco tempo que fiquei as curiosidades passaram mais pelo recorte do imigrante do que o recorte racial.

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