“Quero enegrecer Chico Buarque”, diz Jé Oliveira com Gota D’Água Preta

Jé Oliveira é Jasão em “Gota D’Água {Preta}, que estreia nesta sexta (8) no Itaú Cultural, em SP, com proposta de enegrecer o clássico de Chico Buarque – Foto: Evandro Macedo – Divulgação Itaú Cultural – Blog do Arcanjo – UOL

Enegrecer Chico Buarque é a proposta do ator, dramaturgo e diretor Jé Oliveira em sua montagem “Gota D’Água {Preta}”, que estreia nesta sexta (8), no Itaú Cultural da avenida Paulista, onde fica em cartaz até 17 de fevereiro.

A obra segue a tendência em se remontar clássicos do teatro brasileiro com atores negros, como ocorreu no ano passado com “Navalha na Carne Negra”, releitura do famoso texto de Plínio Marcos.

Na nova versão de “Gota D’Água”, um clássico do teatro musical nacional escrito por Chico Buarque e Paulo Pontes em 1975, dos 13 atores em cena, 11 são negros. Daí o novo nome: “Gota D’Água {Preta}”.

E é o próprio Jé quem dá vida a Jasão, o personagem masculino central da obra. Sua mulher abandonada, Joana, é vivida pela cantora Juçara Marçal, do grupo Metá Metá.

A obra ainda traz Rodrigo Mercadante como Creonte, o proprietário do conjunto habitacional no qual se passa a história, além dos atores Aysha Nascimento, Dani Nega, Ícaro Rodrigues, Marina Esteves, Mateus Sousa e Salloma Salomão.

Em conversa exclusiva com o Blog do Arcanjo no UOL, Jé Oliveira reforça a “concepção conceitual de enegrecimento do Chico Buarque e Paulo Pontes”. E diz que “isso vaza para todos os níveis, sobretudo à parte musical”.

Um velho clássico com novos corpos: “Gota D’Água {Preta} estreia nesta sexta (8) fazendo o musical de Chico Buarque e Paulo Pontes dialogar com os Racionais MC’s – Foto: Evandro Macedo – Divulgação Itaú Cultural – Blog do Arcanjo – UOL

O artista idealizador e produtor da montagem revela por exemplo que a relação da personagem Joana com as religiões de matriz africana, presente na obra original, foi aprofundada. “Estamos também trazendo reforços da musicalidade negra”, afirma.

Para isso, Jé Oliveira buscou para dialogar com a obra de Chico Buarque o grupo musical paulistano ao qual rendeu tributo em seu espetáculo anterior, “Farinha com Açúcar”: os Racionais MC’s.

“Na nossa montagem a musicalidade do Chico Buarque dialoga de igual para igual, de ombro a ombro, com os Racionais MC’s”, define.

“A gente canta a canção-tema ‘Gota D’Água’ em um viés clássico, com voz e violão, e depois, na repetição, cantamos em cima da base do ‘Negro Drama’, dos Racionais MC’s, estabelecendo aí uma síntese do conceito de diálogo entre Chico Buarque e a cultura preta favelada representada pelos Racionais MC’s, em um encontro de duas potências artísticas”, fala Jé.

Ele pondera que “é de extrema importância estrear a peça neste momento histórico do Brasil”. E define o espetáculo como “uma restituição de um imaginário que foi apropriado para os corpos que o geraram”.

E revela uma curiosidade de caracterização em homenagem a Chico Buarque: o bigode que estampa seu rosto.

“O bigode homenageia uma fase importante do Chico e sua obra e, também, celebra os anos 1970, época em que foi criada essa história”, conclui.

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