Mãe Stella de Oxóssi deixou legado de sabedoria em aplicativo para celular

Mãe Stella de Oxóssi (1925-2018): ícone da cultura afro-brasileira morre aos 93 anos, mas deixa seus ensinamentos no aplicativo para celular Orientações de Mãe Stella – Foto: Divulgação – Blog do Arcanjo – UOL

A morte de Mãe Stella de Oxóssi, a ialorixá Maria Stella de Azevedo Santos, nesta quinta (27), aos 93 anos, deixa um vácuo gigante na cultura afro-brasileira, tal qual como ocorreu quando da morte de sua mãe, Mãe Senhora (1890-1967), e de outras lideranças negras como Mãe Menininha do Gantois (1894-1986) ou Mãe Hilda Jitolú (1923-2009).

Mãe Stella foi fiel guardiã de toda uma cultura de um povo de um lugar chamado Bahia de Todos os Santos, sempre pregando a paz e a integração harmoniosa das religiões por meio do sincretismo tão presente na Bahia.

Preservando tradições, mas sempre conectada a seu tempo, Mãe Stella ajudou nos últimos anos na criação do aplicativo para celulares Orientações de Mãe Stella. Nele, deixou mensagens escritas e faladas, tal qual manda a tradição da oralidade africana, como parte de seu legado de sabedoria ao futuro.

Mãe Stella foi zelosa da cultura afro-brasileira

O cuidado de Mãe Stella com a preservação das tradições do candomblé era tamanho que ela, na juventude, tinha certa animosidade com o fotógrafo e antropólogo francês Pierre Verger (1902-1996), que possuía ânsia de investigar e documentar os cultos afro-brasileiros e africanos.

“Inclino-me também para pedir desculpas públicas pela implicância que tinha com a insistência dos que gostavam de conhecer e descobrir os segredos do candomblé e tornar público parte deles”, escreveu Mãe Stella neste ano no prefácio para a reedição do livro “Orixás”, de Verger.

“Sinceramente, quando jovem não gostava de vê-lo conversando horas com minha Mãe Senhora. Pensava (como hoje pensam sobre mim) que ele se aproximava apenas para fazer uso de seus conhecimentos. Mas, hoje sei que uma Iyalorixá nunca se permite ser usada e, muito menos, usar alguém. Ela apenas recebe e acolhe a orientação dos orixás para fazer alianças que possam vir a contribuir com o caminhar da humanidade”, afirmou.

Convivência com personalidades

Durante 42 anos, após herdar o comando de sua mãe, a lendária Mãe Senhora, Mãe Stella esteve à frente do centenário Ilê Axé Opó Afonjá, casa frequentada por nomes como o fotógrafo Verger, os escritores Jorge Amado (1912-2001) e Zélia Gattai (1916-2008), o pintor Carybé (1911-1997), o político Antônio Carlos Magalhães (1927-2007) e os filósofos franceses Jean-Paul Sartre (1905-1980) e Simone de Beauvouir (1908-1986).

Mãe Stella contribuiu de forma inquestionável para o ensino das culturas afro-brasileiras, ajudando a difundir conhecimentos antes reclusos à tradição da oralidade africana, além de sempre defender o papel preponderante da mulher na sociedade.

Seu legado foi reconhecido em vida: ela ocupava desde 2013 a cadeira 33 da Academia de Letras da Bahia, além de ter sido outorgada com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia e pela Universidade Estadual da Bahia.

Baixe o aplicativo Orientações de Mãe Stella

Siga Miguel Arcanjo Prado no Instagram

Please follow and like us: