Crítica: Sutil e potente, Violento enfrenta o racismo estrutural no Brasil

Preto Amparo em cena da peça “Violento”: sutileza e potência para abordar o racismo estrutural no Brasil – Foto: Pablo Bernardo – Divulgação – Blog do Arcanjo – UOL

Focado mais em imagens do que palavras, espetáculo “Violento” se impõe pela sutileza com a qual aborda um difícil, mas necessário tema: o racismo estrutural brasileiro. A peça mineira faz última apresentação em São Paulo nesta terça (18), às 20h, no Sesc Consolação (r. Dr. Vila Nova, 245), com ingresso a R$ 20 (inteira), R$ 10 (meia) e R$ 8 (comerciários e dependentes com credencial plena).

Crítica por Miguel Arcanjo Prado
“Violento”
com Preto Amparo, direção Alexandre de Sena e produção de Grazi Medrado
Avaliação: Muito Bom
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Pouco antes de dar o horário para o começo anunciado da peça “Violento”, ela já acontece do lado de fora do Sesc Consolação, na região central de São Paulo. Na calçada da rua Doutor Vila Nova, o ator Preto Amparo caminha, vestido de calça e blusão com um capuz, puxando com um barbante um carrinho de polícia.  Alguns percebem o caráter performativo e significativo destas simples, e ao mesmo tempo potente, performance que dá início à obra.

Ao acompanhar o ator e seu carrinho de polícia barulhento, embalado pela trilha sonora que emana do próprio artista, o público é levado à Sala Beta, onde a peça propriamente acontece. A peça vai no caminho inverso à verborragia dos “textões” das pautas identitárias nos últimos tempos, apostando na sutileza para um tema espinhento e, como diz seu título, violento: o racismo estrutural brasileiro.

Primeiro solo do ator Preto Amparo, “Violento” fala do racismo estrutural no Brasil, sob direção de Alexandre de Sena e produção de Grazi Medrado: última sessão em SP nesta terça (18), às 20h, encerrando temporada de sucesso no Sesc Consolação – Foto: Pablo Bernardo/Divulgação – Blog do Arcanjo – UOL

Sem muito texto e calcando-se mais na criação de imagens repletas de significados e forças, com a criação de intensos quadros pós-dramáticos, a obra dirigida sensivelmente por Alexandre de Sena e produzida por Grazi Medrado — figuras exponentes no ressurgimento do teatro negro na cena de Belo Horizonte — vai estabelecendo pontes de diálogo para explicitar o racismo estrutural ao qual o corpo negro está submetido na sociedade brasileira.

Mesmo apostando na delicadeza, a obra não deixa de ter cenas contundentes, como quando Preto Amparo destrói a marretadas o tal carrinho policial de brinquedo, metáfora para a resistência ao genocídio da população negra cometido pelas polícias militares de norte a sul deste país, ou mesmo quando o ator escolhe apenas pessoas negras na plateia para receber suas flores, soando como um chamado para a conscientização da necessidade de uma luta conjunta e resistente do povo preto em prol da ainda longínqua igualdade racial no país chamado Brasil.

E, para tal igualdade tornar-se realidade, é preciso também que brancos, amarelos e mestiços se somem à ideia de que este deve ser um país feito por todos e para todos. Com mais amor e menos ódio.

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