50 fatos sobre Roda Viva que o Oficina estreia 50 anos depois

Roderick Himeros é Ben Silver em “Roda Viva”, de Chico Buarque, que o Oficina remonta dirigido por Zé Celso 50 anos depois da histórica montagem de 1968 – Foto: Jennifer Glass – Fotos do Ofício – Divulgação – Blog do Arcanjo – UOL

“Roda Viva”, texto de Chico Buarque que é marco histórico do teatro brasileiro feito pelo Teat(r)o Oficina em 1968, retorna aos palcos 50 anos depois, nesta quinta (6), em concorrida estreia no Sesc Pompeia, em São Paulo, onde faz quatro apresentações até domingo sob direção do mesmo José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso. Entre 23 de dezembro e 10 de fevereiro, a montagem aporta na sede do grupo, no Bixiga.

Após remontar “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade, também 50 anos depois em 2017, o Oficina mergulha novamente na saga do pop star Ben Silver, na realidade Benedito da Silva, em uma peça que discute não só a indústria cultural e midiática como o Brasil da ditadura militar e o atual. O Blog do Arcanjo no UOL descobriu e conta para você 50 curiosidades sobre o emblemático espetáculo.

1 – “Roda Viva” é um texto escrito por Chico Buarque quando este tinha apenas 24 anos e era uma jovem estrela em ascensão na música popular brasileira. O compositor resolveu discutir na peça boa parte do que viveu ao tornar-se um ídolo de massas após o estouro da música “A Banda”.

2 – Zé Celso estreou a peça em 17 de janeiro no Teatro Princesa Isabel, em Copacabana, no Rio. Depois, fez temporada no Teatro Ruth Escobar, em São Paulo.

3 – Antônio Pedro Borges foi o assistente de direção de Zé Celso na primeira encenação. Já o cenário e os figurinos de 1968 foram criados por Flávio Império, enquanto Marques de Oliveira assinou a iluminação.

4 – Além de autor do texto, Chico Buarque também compôs a trilha sonora, que teve direção musical de Carlos Castilho.

5 – O ícone da dança Klauss Vianna assinou as coreografias, com assistência de Jura Otero.

6 – O elenco original contou com jovens atores que se tornariam depois grandes estrelas, como Marília Pêra, Marieta Severo, Pedro Paulo Rangel e Zezé Motta.

7 – O elenco completo original de “Roda Viva” em 1968 foi formado por Ada Guauss, Alceste Castellani, André Valli, Angela Falcão, Angela Vasconcellos, Antônio Pedro Borges, Antônio Vasconcellos, Eudósia Acunã, Fábio Camargo, Fernando Reski, Flávio São Thiago, Hamilton Monteiro, Heleno Prestes, Jura Otero, Margot Baird, Maria Alice Camargo, Maria Alice Faria, Marieta Severo, Marília Pêra, Paulo César Pereio, Pedro Paulo Rangel, Rodrigo Santiago, Ruth Escobar, Samuel Costa Júnior, Valquíria Mamberti e Zezé Motta.

8 – Assinaram a produção pioneira de “Roda Viva” Joe Kantor, Renato C. de Castro, Roberto Colossi e o Teatro Ruth Escobar, onde a montagem aportou em São Paulo.

9 – A remontagem de “Roda Viva” comemora não só os 50 anos da estreia histórica como também os 60 anos do Oficina, fundado por Zé Celso em 1958, então um jovem de Araraquara que tinha se mudado para São Paulo onde estudou direito na Faculdade do Largo de São Francisco (USP).

10 – Chico Buarque escreveu “Roda Viva” após assistir “O Rei da Vela” em 1967, marco cênico do tropicalismo e do Oficina, para ser uma resposta à esta.

11 – “Roda Viva” possui como destaque a presença do coro pela primeira vez nas peças do Oficina, que revolucionou o teatro brasileiro e nunca mais deixou de estar nas peças do grupo, integrando público e artistas.

12 – A presença do coro em “Roda Viva” foi vista como algo revolucionário e abraçada pela juventude de 1968. Representava uma ruptura com a tradição em pleno anos de chumbo da ditadura militar. A encenação de Zé Celso dialogava fortemente com a tropicália, movimento cultural antropófago e brasileiríssimo, do qual ele é a maior expressão no teatro.

13 – Ao quebrar a quarta parede do teatro, que separa artistas no palco e público na plateia, Zé Celso mudou o curso da história do teatro brasileiro moderno, tornando-se o maior encenador do Brasil, posto que ocupa até hoje, reconhecido mundialmente.

14 – Junto dos artistas do Oficina, Zé Celso mexeu no texto para a versão 2018, fazendo com que o mesmo dialogue fortemente com a atualidade política no Brasil, fazendo claras referências às conturbadas eleições de 2018.

15 – Na remontagem de 2018, Zé Celso contou com a ajuda da conselheira poeta Catherine Hirsch.

16 – O ator Roderick Himeros interpreta o protagonista de “Roda Viva” em 2018, o astro Ben Silver, ou Benedito da Silva.

17 – Estão no elenco de “Roda Viva” 2018 Roderick Himeros, Camila Mota, Guilherme Calzavara, Joana Medeiros, Marcelo Drummond e o coro formado por Sylvia Prado, Isabela Mariotto, Clarisse Johansson, Kael Studart, Nash Laila, Lucas Andrade, Tulio Starling, Tony Reis, Danielle Rosa, Fernanda Taddei, Carol Castanho, Cyro Morais, Kelly Campello, Cafira Zoé, Marcelo Dalourzi, Marcella Maia, Mayara Baptista, Nolram Rocha, Viviane Clara e Zé Ed.

18 – Felipe Botelho assina a direção musical de “Roda Viva” 2018.

19 – A banda de “Roda Viva” 2018 é formada por Amanda Ferraresi no violoncelo, André Santana, na bateria, Carina Iglecias, na percussão, Felipe Botelho, no baixo, Giuliano Ferrari, no piano, Ito Alves, na percussão e Moita Matos, na guitarra.

20 – A sonoplastia nova é assinada por Gustavo Lemos, já as coreografias de “Roda Viva” 2018 são de Ibrahima Sarr.

21 – A remontagem conta ainda com preparação “seneafrica e höröyá”, com farto material da cultura africana, trazido por Ibrahima Sarr, André Ricardo, Birima Mbaye, Moustapha Dieng e Aziz Mbaye. Mamadou Sarr fez a tradução nos ensaios.

22 – Carila Matzenbacher e Marília Gallmester fizeram a arquitetura cênica de “Roda Viva” 2018, com assistência de Marcelo X.

23 – Otto Barros assume a direção de cena de “Roda Viva” 2018, com Elisete Jeremias como diretora de cena convidada. Ela ocupou o cargo por muitos anos no Oficina. Ambos contam com assistência de Felipe Wircker.

24 – Sonia Ushiyama cuida da maquiagem e dos figurinos de “Roda Viva” 2018, com assistência de Selma Paiva. Já Vicenzo Soccio assina cabelo e visagismo da remontagem.

25 – Cida Melo é a camareira do Oficina.

26 – Os atores de “Roda Viva” são iluminados por Guilherme Bonfanti, com assistência de Luana Della Crist, Pedro Felizes e Padu Palmério. Na operação da luz estão Luana Della Crist, Pedro Felizes, Cyntia Monteiro e Felipe Sampaio, além de Ananda Giuliani e Gabriela Rossetto, que fazem o coro da luz.

27 – A remontagem de “Roda Viva” tem um estagiário. O nome dele é Guilherme Soares.

28 – Camila Fonseca cuida da operação de som para que todos sejam ouvidos, sempre com a assistência de Clevinho Ferreira, em “Roda Viva” 2018.

29 – “Roda Viva” 2018 conta com uma novidade: recriação da peça em forma de cinema ao vivo, nas mãos dos jovens cineastas Igor Marotti — o Glauber Rocha do Oficina — e Cecília Lucchesi.

30 – Zé Celso assina com Camila Mota e Marcelo Drummond a direção de produção e estratégia de “Roda Viva” 2018.

31 – Para que essa multidão de “Roda Viva” 2018 atue a contento e em paz trabalham incansavelmente Anderson Puchetti na produção executiva e administração, e Ana Sette e Ederson Barroso, na produção.

32 – Na comunicação de “Roda Viva” 2018 estão Brenda Amaral — responsável pela assessoria de imprensa —, Cafira Zoé e Camila Mota. Com o artístico auxílio de Igor Marotti e Cecília Lucchesi no design gráfico, ilustrações, pinturas e diagramação.

33 – As fotos de “Roda Viva” 2018 são de Jennifer Glass, a fotógrafa oficial do Oficina escolhida por Zé Celso.

34 – “Roda Viva” 2018 ainda tem tradução de Maria Bitarello e Thais Sandrini como arquivista.

35 – A primeira versão de “Roda Viva” foi atacada de forma violenta pelo Comando de Caça aos Comunistas (CCC) que espancou os artistas durante a ditadura civil-militar durante uma das sessões.

36 – “Roda Viva” e seus artistas sofreram censura e repressão em 1968, que foi o ano em que foi editado em 13 de dezembro o AI-5, que tirou os direitos políticos civis dos brasileiros, dando todo o poder à ditadura. Zé Celso chegou a ser torturado.

37 – Zé Celso ressignifica a peça com os tempos atuais e a traz para “a cosmopolítica no aqui agora de 2018” com “labaredas em tempos de insurreição”.

38 – Zé Celso diz que os coros das ruas de 1968 invadiram “Roda Viva” original. Em 1968 houve o fatídico maio francês e lendárias passeatas no Brasil contra a censura e pela liberdade e democracia em um país mergulhado na ditadura.

39 – O protagonista de “Roda Viva” é Benedito da Silva (Roderick Himeros), cantor e compositor fabricado pela mídia para o sucesso.

40 – A trama se desenvolve pelas intervenções do Anjo da Guarda (Gui Calzavara) e do Capeta (Joana Medeiros), que fazem de Benedito o cantor de grande sucesso popular Ben Silver.

41 – Mané (Marcelo Drummond), amigo de juventude do protagonista, durante todo o espetáculo fica na mesa de bar, como um fio terra de Benedito que tem sua genialidade fabricada e ininterruptamente monitorada e redirigida pelos índices de popularidade.

42 – Assim, Ben Silver, o herói pop é transformado em Benedito Lampião, cantor “bem brasileiro, bem violento, cantando baião e marcando o ritmo na queixada”.

43 – Quando ele enfim é devorado pelo coro, sua esposa, Juliana (Camila Mota), o substitui como novo ícone da cultura, mas liberta da formatação, com um acordo cosmopolítico de produção. A cena na qual Ben é devorado pelo coro entrou para a história do teatro brasileiro, com Zé utilizando um fígado real, que respingava sangue na plateia.

44 – Constam da dramaturgia original canções que depois tornaram-se famosas no repertório de Chico Buarque, como “Roda Viva” e “Sem fantasia”. Na montagem de 2018 são incorporadas “Caravanas” e a bossa nova “Cordão”, músicas recentes de Chico.

45 – Para fazer o cenário e figurino de “Roda Viva”, Flávio Império pesquisou o “baixo catolicismo carioca” e as religiões de matriz africana, além de ter trabalhado com figurinistas do Chacrinha, o grande comunicador tropicalista da TV.

46 – Zé Celso lembra como “Roda Viva” surgiu: “Chegou Roda Viva, Chico nos convidou, a mim e Flávio para fazermos uma peça que ele escreveu. O texto pedia quatro pessoas no coro. Mas quando abrimos os testes para atores cariocas veio uma multidão e tomou o espaço, sem saber o que era palco ou o que era plateia, se o ator poderia tocar nas outras pessoas ou não. Era uma geração que trazia em si todas as revoluções”.

47 – Zé continua: “Quer dizer, tinha gente feia, bonita, veado, sapata, hetero, negro, branco, tudo e traziam no corpo todas as revoluções que depois se dividiriam em revolução ecológica, revolução feminista, revolução gay, revolução da alimentação, revolução religiosa. Eram esses jovens de 1968, esses pagãos”.

48 – Zé Celso, citando Camille Paglia, “que diz que 1968 significou um retorno ao paganismo no mundo inteiro e eu concordo”, afirma: “1968 é um retorno ao paganismo”.

49 – “Para mim, o desbunde foi mais importante do que a luta armada, que eu apoiei, participei e fui torturado por tê-la apoiado. Não me arrependo, foi certo. Mas fazendo um balanço geral vejo que a turma que foi para a luta armada não quebrou os padrões positivistas, os padrões de vida mesmo, não se descolonizou. A descolonização houve no momento onde a gente se re-ligou ao nosso passado arcaico e foi descobrir o índio e o negro na gente, o fã da rádio Nacional, o cara que gosta de música pop, o cara que começou a misturar, comer tudo, comer de tudo”, fala Zé Celso.

50 – Neste 2018, o Oficina “põe em cena, pra além do show business” em “Roda Viva”, “a criação e devoração dos mitos e messias do aqui e agora”.

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