FIT Rio Preto renova forças e leva 25 mil ao teatro
Por Miguel Arcanjo Prado
Enviado especial a São José do Rio Preto (SP)*
Depois de passar por um período de crise financeira, um dos mais tradicionais festivais teatrais do Brasil recobrou suas forças. O FIT Rio Preto 2018, o Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto, levou 25 mil pessoas ao teatro entre os últimos dias 5 e 14 de julho.
Foram dez dias com 23 espetáculos nacionais e internacionais no evento que reuniu 400 artistas em mais de 50 apresentações em 16 diferentes locais da cidade do interior paulista.
O evento completou 49 anos de existência, sendo esta a sua 18ª edição internacional, realizada em parceria entre a Prefeitura Municipal de São José do Rio Preto e o Sesc São Paulo.
O FIT Rio Preto reverberou nacionalmente com peças de discurso potente, como “Isto É um Negro”, “Cabaret Macchina”, “Entrelinhas” e “Romeu e Julieta – Obra-Atentado em Homenagem aos Que Morreram Lutando”, além de performances que flertaram de modo intenso com o risco, caso de “O Ânus Solar”, de Maikon K, que chegou a se cortar com uma motosserra de forma acidental durante sua apresentação no festival, ou com a delicadeza, caso de “Todo lo que Está a Mi Lado”, do argentino Fernando Rubio.
Em conversa exclusiva com o Blog do Arcanjo no UOL, Jorge Vermelho, ícone do teatro rio-pretense e integrante da coordenação do evento, e os curadores Janaina Leite, atriz do Grupo XIX de Teatro, Marcos Bulhões, professor e pesquisador de performance da USP, e Sérgio Luis Venit de Oliveira, assessor da Gerência de Ação Cultural do Sesc São Paulo, comemoram o alcance e as discussões propostas em um palco que fervilhou a diversidade de corpos e discursos.
“O FIT Rio Preto volta a se colocar neste lugar de importância entre os festivais de artes cênicas do Brasil, principalmente por seu campo investigativo, um território disposto e disponível para a experimentação e o risco, sendo lugar de discussão de temas urgentes”, diz Jorge Vermelho.
“O FIT Rio Preto não vem para dar respostas, mas para perguntar. E ele foi potente em lançar essas perguntas. O FIT Rio Preto cumpre a função de provocar esse ser crítico”, aponta o premiado ator rio-pretense.
Para Janaina Leite, “o FIT Rio Preto se confirmou naquilo que apontava: uma contundência política marcada, maior que imaginávamos, e uma contundência estética, uma diversidade de linguagens, de maneiras de articular relação entre formas e discurso”.
Para a atriz curadora, “a performatividade foi marca dos trabalhos, com um discurso frontal e a discussão das minorias marcada: da negritude, dos indígenas, da questão de gênero e corpos não-hegemônicos”.
Leite ainda afirma que se havia certa tensão que um festival denso afugentasse o público, isso não foi confirmado pelos espectadores que lotaram todas as atividades. “As pessoas estiveram muito engajadas no FIT Rio Preto, o que foi para além de nossas expectativas”, diz.
Para Marcos Bulhões, “os objetivos desta curadoria foram atingidos”: “Tivemos casa lotada e muito público jovem. É muito gratificante que espetáculos com corpos não-hegemônicos tiveram sua vez”, celebra.
Sérgio Oliveira aponta que houve “fila da esperança” em todas as sessões. “Também tivemos a classe artística local muito. O conceito do Festival foi omportante neste ano, dando visibilidade às vozes insurgentes, da mulher, do negro, do trans. O Festival anuncia um novo teatro, que lida de forma diferente com as formas tradicionais e traz novos ares e novas questões. E a questão celebrativa também foi importante, ter o festival como um lugar de encontro com o outro. O Graneleiro foi um espaço especial que cumpriu essa função”, conclui o curador.
*O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do Sesc São Paulo e FIT Rio Preto.