Mauricio Xavier é destaque no musical Os Produtores com Miguel Falabella

O ator Mauricio Xavier é destaque no musical Os Produtores, que se despede do Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo – Foto: Divulgação – Blog do Arcanjo – UOL

O ator Maurício Xavier é um dos destaques do musical “Os Produtores” como Carmen Ghia. Ao lado de Sandro Christopher, ele forma a divertida dupla que hipnotiza e faz gargalhar o público. A montagem protagonizada e dirigida por Miguel Falabella faz suas últimas sessões neste fim de semana no Teatro Procópio Ferreira e ainda conta com Danielle Winits e Marco Luque no elenco. Paulistano de 46 anos e com trajetória de sucesso no mundo teatral, além de colecionar vários papéis na TV inclusive estando no elenco da nova série brasileira da Netflix, “Samantha!”, Mauricio conversou com o Blog do Arcanjo no UOL sobre este momento profissional e ainda lembrou momentos marcantes de sua carreira, além de revelar sua opinião sobre representatividade negra nas artes.

Miguel Arcanjo Prado — O que esse musical tem de especial pra você?
Mauricio Xavier — “Os Produtores” é um musical hilário, escrito pelo genial Mel Brooks, é o maior vencedor de Tony Awards da história, este mérito não é atoa. A forma como é construída a história é sensacional. Permite aos atores colorirem e brilharem ao interpretar. Não é um espetáculo “engessado”, de forma alguma.

Miguel Arcanjo Prado — Como é jogar com Sandro Christopher?
Mauricio Xavier —  Me sinto sempre disponível para o jogo cênico e, para estas personagens, não há limites. Ser generoso passa a ser primordial, a troca é necessária, e Sandro Christopher é um exemplo a se seguir. É inegável a conexão, sempre rimos muito, antes e durante o processo da montagem, e esta sinestesia, de certa forma, levamos para o palco, nos “retroalimentamos” cenicamente. Às vezes se um está desconectado por qualquer motivo que seja, o outro o traz imediatamente de volta à cena. Uma cumplicidade cênica muito rica, o jogo é ótimo, bem divertido.

Mauricio Xavier e Sandro Christopher em Os Produtores: dupla é amada pelo público – Foto: Caio Gallucci/Divulgação – Blog do Arcanjo – UOL

Miguel Arcanjo Prado — Como é sentir que o público ama essa dupla?
Mauricio Xavier —  Temos que estar atentos ao personagem “plateia”, que não pode ser ignorado de forma alguma neste tipo de montagem. Às vezes a “platéia” reage de formas diferentes. Saber ter sensibilidade, “ouvido”, e saber se “equalizar” nas reações do público passa a ser a grande chave. Em geral se todos saem de suas casas para se divertirem, a conectividade passa a ser direta e intensa. Adoro quebrar a quarta parede. Principalmente, ao lado de Miguel Falabella, que, a meu ver, é um dos melhores “mestres” vivos da atualidade neste tipo de arte.

Miguel Arcanjo Prado — Você teve muitos mestres no teatro?
Mauricio Xavier —  Já trabalhei com grandes mestres como Gianni Ratto, Aimar Labaki, Osvaldo Montenegro, Gabriel Villela, Jacques Lagoa, Roberto Lage, com os inesquecíveis Roberto Talma, Vladimir Capella e Mário Masetti, e também Hsu Chien, Wolf Maya, fiz por quatro anos “The Lion King” em Hamburgo na Alemanha, de Elton John e Julie Taymor. De volta ao Brasil, fiz “Avenida Q” dirigido pela dupla Möeller e Botelho, e também “New York, New York”, dirigido por José Possi Neto, dentre várias outras obras no teatro musical. E reitero que tenho um carinho especial por “Os Produtores”.

Miguel Falabella e Mauricio Xavier – Foto: Divulgação – Blog do Arcanjo – UOL

Miguel Arcanjo Prado — O que o Miguel Falabella é para você?
Mauricio Xavier —  A paixão pelo grande diretor e artista Miguel Falabella já vem de longa data. Sinto que há uma sinestesia entre nossa performance e alma de artista. Gosto do seu estilo de escrita e da vivacidade de seu humor, me identifico muito. Há permissões e também uma generosidade elegante que nos faz estarmos sempre próximos. Posso escrever uma enciclopédia só de coisas boas.

Miguel Arcanjo Prado — Percebi que o elenco de “Os Produtores” traz três atores negros. Falabella é um diretor que faz questão de ter artistas negros em suas obras? O que acha?
Mauricio Xavier —  Eu acredito que para a arte, e para o universo “fantástico” de Miguel Falabella , não haja tal barreira cênica. Para você ter uma ideia, nas mãos dele eu já fui Hitler (“Os Produtores”), Judas (“Godspell, o Musical”), passando por Marcão/Markassa (mecânico e travesti em “Pé na Cova”, na TV Globo), entre outros personagens. Sinto que a diversidade de seu talento não o permita enxergar esta “barreira”. Acredito piamente que é um dos raríssimos que saiba se comunicar com maestria com todos os grupos. Não duvido um segundo sequer de seu bom gosto, refinamento e principalmente de seu ativismo e representatividade. Isto também aconteceu com o diretor Ivan Zettel, que em momentos de grande destreza me apresentou à Disney Channel no programa matinal infantil “Playhouse Disney” nos idos de 2002 a 2007. Ou ainda na série “Dalva e Herivelto”, da TV Globo dirigida, por Dennis Carvalho. Penso que estas ótimas oportunidades apareceram através do convite, da inteligência e insistência destes grandes diretores, ressalto todos os mencionados nesta entrevista, sem eles, não haveria uma forma de me manifestar artisticamente com qualidade e frequência. Os níveis de miscigenação sempre variam de região para região, mas traços de genealogia africana podem ser encontrados em grande quantidade em pessoas com características europeias. Dia desses, eu fiz um teste de Ancestralidade Biogeográfica num renomado laboratório de genética dos EUA e descobri que não sou 100% nada [risos]. Há muita mistura genética. Possuo boa parte de ascendência africana, 13% europeia, 5% americana e por aí vai. O conceito da representatividade pela cor da pele precisa ser revisto. Se todos rastrearem seus genes, certamente terão grandes surpresas. Um indivíduo pode até negar, mas a ciência exata está aí para comprovar. Enfim, acredito que os talentosos colegas citados na pergunta, o Rafael Machado e Renata Vilella, também devam pensar assim.

Miguel Falabella e Mauricio Xavier, respectivamente como Ruço e Markassa na série Pé na Cova, na Globo, em 2013 – Foto: Cinthia Salles/Divulgação – Blog do Arcanjo – UOL

Miguel Arcanjo Prado — Você tem novos projetos?
Mauricio Xavier —  2018 tem sido um ano curioso. É possível acompanhar a reprise da novela “O Direito de Nascer”, de 1997, na TV Aparecida. Lá, faço minha primeira aparição em teledramaturgia; calcule o drama [risos]. Fiz um pouso rápido e rasante em “Carcereiros”, série homônima de Drauzio Varela sob direção de José Eduardo Belmonte, na TV Globo. Existe também a primeira temporada da série “Samantha!”, que já foi gravada inteiramente para um importante canal de streaming, o Netflix, e mesmo sem ter estreado, já estudamos a gravação da segunda temporada. Escrevi e registrei devidamente minha primeira obra teatral/musical na Biblioteca Nacional e no SBAT. Após, fazer isto, imediatamente a engavetei, sempre fico me criticando, não acho que seja a hora de trazê-la à cena. Preciso reler, e verificar se ainda é o que eu gostaria de dizer. Sigo analisando com carinho os convites que sempre chegam no escritório de Berenice Lamônica, minha “guru” pra este tema “projetos”. Resumindo, o meu projeto para 2018 é me “manter em pé”, contrapondo como sempre a obviedade das “estatísticas” [risos].

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O ator Mauricio Xavier – Foto: Estevam Avellar/Globo – Blog do Arcanjo – UOL

 

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