Crítica: Bibi, uma Vida em Musical consagra Amanda Acosta como grande atriz
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
“Bibi, uma Vida em Musical” ✪✪✪✪✪
Avaliação: Ótimo
Conhecida de todos os brasileiros desde a mais tenra infância, quando marcou gerações à frente do Trem da Alegria na tela da TV, a atriz Amanda Acosta conseguiu o feito de se reinventar na vida adulta como atriz respeitada por seu talento inquestionável demonstrado no palco.
A mesma artista que havia hipnotizado o teatro musical brasileiro, ao protagonizar em 2007 o musical “My Fair Lady”, agora arrebata mais uma vez corações e almas diante de “Bibi, uma Vida em Musical“.
Com a intérprete ovacionada e aos prantos de felicidade, o espetáculo chegou ao fim no Teatro Bradesco em São Paulo neste domingo (1º) com a promessa (obrigatória de ser cumprida) de retorno rápido.
“Bibi, uma Vida em Musical” consagra Amanda Acosta como uma das grandes atrizes da história do teatro brasileiro.
Missão esta que não foi das mais fáceis. Apenas uma atriz tarimbada e experimentada nos palcos da vida, como Amanda Acosta o é, seria capaz de dar cabo dela: dar vida a Bibi Ferreira, o maior nome vivo do teatro nacional.
Não é qualquer atriz que estaria à altura de quase inalcançável desafio. Entretanto, Amanda dá conta do recado e deixa a todos assombrados com seu trabalho meticuloso de construção de personagem, exalando carisma que consegue preencher todo o gigantesco teatro.
Ela condensa todas as atenções durante as três horas de musical que dão conta de um século de vida e de grande parte da história do teatro brasileiro.
Outra coisa chama a atenção deste crítico e merece ser dita: Amanda não é do tipo de estrela vaidosa, preocupada com o próprio glamour.
Muito pelo contrário, assim como Bibi Ferreira, é atriz potente, consciente de seu talento, mas que o utiliza como poder de discurso artístico que denota enorme respeito pela cultura e pelo povo do Brasil.
Amanda não é atriz fútil. É potente, inteligente, sabe exatamente o que diz em cena. O público sente isso a cada palavra que soa de sua boca.
Por isso, Amanda Acosta não é apenas uma estrela de musicais vindos da Broadway. Pode até ser isso também, mas vai muito além: Amanda Acosta é uma grande atriz brasileira, estrela que tem o que dizer em cena ou fora dela. E que sabe fazê-lo como poucas.
Se “Bibi, uma Vida em Musical” tem o privilégio de contar com uma protagonista de tal envergadura, também dispõe de um elenco coeso e na mesma afinação, possibilitando jogo cênico farto.
Todos merecem ser nomeados: André Luiz Odin, Bel Lima, Caio Giovani, Carlos Darzé, Chris Penna — que merece todos os louros com uma construção irretocável e segura do grande ator Procópio Ferreira, pai de Bibi —, Fernanda Gabriela, Flavia Santana, Guilherme Logullo — que arrebata corações como o charmoso dramaturgo comunista Paulo Pontes, grande amor de Bibi —, João Telles, Julie Duarte, Leandro Melo, Leo Bahia, Leonam Moraes, Luísa Vianna, Moira Osório, Rosana Penna e Simone Centurione.
A obra ainda demonstra farta pesquisa e jogo de cintura dramatúrgico no texto proposto por Artur Xexéo e Luanna Guimarães, que tornam o mito uma mulher, repleta de medos, dramas, sucessos e fracassos, sobretudo no campo do amor, o que gera identificação imediata com a personagem.
O meticuloso diretor Tadeu Aguiar apresenta domínio técnico do estilo Broadway, fazendo com que ele converse com o nosso teatro de revista e a arte circense. Assim, consegue a proeza de fazer um musical de três horas que não pese para a público, mantendo o ritmo ágil e sabendo dosar cenas dramáticas ao canto e música sob direção musical de Tony Lucchesi e à bem trabalhada e envolvente coreografia de Sueli Guerra.
Merecem ainda destaque a música original de Thereza Tinoco, que dialoga sem rupturas com clássicos do cancioneiro brasileiro, e o bem pesquisado figurino de Ney Madeira e Dani Vidal — que na parte da década de 1970 irrompe no palco com elegância desmedida.
Ao acompanhar os bastidores da vida de Bibi Ferreira, o público aprende um século de Brasil, com a própria História sendo revisitada pela trajetória da grande artista — o que acaba por evidenciar a repetição de pensamentos ignorantes do passado em tempos políticos atuais.
Assim, no pais desmemoriado e que não sabe valorizar seus artistas pioneiros, “Bibi, uma Vida em Musical” é uma espécie de aula-homenagem obrigatória.
Este crítico encerra com um pedido encarecido: empresários que ainda têm amor por este país deveriam garantir todo aporte financeiro para que este ótimo espetáculo volte logo ao cartaz, onde deve permanecer por anos a fio. É o que “Bibi, uma Vida em Musical” merece.
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
“Bibi, uma Vida em Musical“ ✪✪✪✪✪
Avaliação: Ótimo