Opinião: Racismo no Brasil é comprovado por César Menotti e Altas Horas

O sertanejo César Menotti no Altas Horas: “samba é música de bandido” – Foto: Reprodução/Globo – Blog do Arcanjo – UOL

O cantor sertanejo César Menotti, ao declarar no programa “Altas Horas”, da Globo, que “samba é música de bandido”, comprovou o racismo estrutural do Brasil. Coisa que muita gente ainda insiste em dizer que não existe e é invenção da cabeça dos negros.

Ao darem risada diante da frase abjeta e fruto de um modo de pensar racista, o apresentador Serginho Groisman, bem como os irmãos Pedro Bial e Alberto Bial, além da plateia do programa, majoritariamente branca, também corroboraram o mesmo: o Brasil é um país de forte racismo estrutural e institucional. Todos, aquele que disse a frase e os que riram, foram racistas.

Afinal, o programa passou por edição prévia, como informou o colunista Mauricio Stycer, e mesmo assim a frase foi ao ar. Provavelmente, o editor e a direção também acharam a frase engraçada. Cegados pelo racismo estrutural brasileiro, parecem ter sido incapazes de enxergar a origem racista presente em tal frase. Ou, na pior das hipóteses, queriam mesmo legitimar e difundir o pensamento racista na TV aberta. Fica a pergunta: há negros com poder de decisão na equipe do “Altas Horas”?

O samba é música de origem negra e que nos deu compositores do quilate de Cartola e Dona Ivone Lara. O samba sempre foi alvo de estúpida perseguição, desde seu nascimento, quando sambistas chegavam a ser presos pela polícia no começo do século 20 pelo simples fato de tocar o ritmo inaceitável para uma sociedade tropical racista que tentava forçar de forma ridícula uma musicalidade europeia.

O samba também é o maior cartão-postal do Brasil, país conhecido internacionalmente pelo desfile das escolas de samba que hipnotizam o público de todo o mundo, no maior espetáculo da terra, produzido e criado pelos negros e transmitido e comercializado pela mesma Globo que levou ao ar a frase racista de César Menotti.

Ao tentar induzir o público a pensar que sua frase foi uma piada mal compreendida, César Menotti repete o mesmo tipo de raciocínio racista de William Waack, quando declarou nos bastidores de uma entrada ao vivo na Globo que as buzinas que o atormentavam do lado de fora eram “coisa de preto”, de forma pejorativa e racista que o fez perder o emprego.

O mesmo racismo estrutural e institucional que levou aquelas pessoas no “Altas Horas” a rirem da frase “samba é música de bandido” ou do comentarista que riu quando William Waack falou “é coisa de preto” faz negros serem os principais alvos da violência policial. Nas ruas brasileiras, agentes da polícia fazem associação semelhante à dos irmãos sertanejos César Menotti e Fabiano. O cantor, de forma racista, pensa: “se samba é música de negro, logo é música de bandido”. O policial racista pensa de forma igual: “se um jovem é negro, logo deve ser bandido”.

Levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta que a cada 100 pessoas mortas no Brasil 71 são negras. E, quando o foco é pessoas mortas pela polícia, os negros representam 76,3%. Ou seja: a cada quatro pessoas mortas pela polícia, três são negros. Racismo não é piada. Ele produz mortes.

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