É coisa de preto: Frase racista de Waack é ressignificada no Museu Afro

Pelé está retratado em foto de Walter Firmino na mostra Isso É Coisa de Preto – 130 Anos da Abolição da Escravidão no Museu Afro Brasil a partir deste sábado (12) – Foto: Walter Firmino/Divulgação – Blog do Arcanjo/UOL

“É coisa de preto”. A polêmica frase racista que foi a causa da demissão do jornalista William Waack do “Jornal da Globo” no ano passado agora é ressignificada no título da nova exposição do  Museu Afro Brasil, em São Paulo: “Isso É Coisa de Preto — 130 Anos da Abolição da Escravidão”.

A exposição abre às 11h deste sábado (12), um dia antes do 13 de Maio, quando se completarão apenas 130 anos da abolição da escravidão no Brasil, feita tardiamente em 1888.

A mostra celebra artistas e personalidades negras brasileiras dos séculos 19 e 20, além da arte afro-atlântica de Cuba e do Haiti, países com forte população negra.

Paulo Sotero e William Waack no “Jornal da Globo”: comentários racistas geraram a demissão do apresentador, que disse “é coisa de preto” nos bastidores de forma pejorativa – Foto: Reprodução/Globo

A curadoria da mostra é de Emanoel Araujo, diretor do Museu Afro Brasil.

“Isso é Coisa de Preto é um jargão, um termo preconceituoso e racista nacional, muito usado para descriminar a condição de ser afro-brasileiro. Ressignificar tal terminologia, com o objetivo de ressaltar que ‘coisa de preto’ é ter excelência nas artes, ciências, esportes, medicina e em outros campos relevantes da sociedade, é um dos objetivos da exposição”, afirma Emanoel Araujo.

Paulinho da Viola também está na mostra Isso É Coisa de Preto – 130 Anos da Abolição da Escravidão no Brasil – Foto: Henrique Luz/Divulgação – Blog do Arcanjo/UOL

Entre os negros retratados na mostra estão o médico Juliano Moreira, o poeta Luiz Gama, o escritor Manuel Querino, a cantora Elza Soares, o editor Francisco Paula Brito, os músicos Dorival Caymmi, João do Vale, Cartola, Milton Nascimento, Luiz Melodia, Jamelão, Pixinguinha, Paulinho da Viola e Itamar Assumpção, a bailarina Mercedes Baptista, o abolicionista José do Patrocínio, a atriz Ruth de Souza, o jogador Pelé e o ícone boêmio Madame Satã.

“Se por um lado a data marca os 130 anos da extinção do trabalho escravo no Brasil, por outro ainda somamos 400 anos de preconceitos, racismo e indiferença das elites oligárquicas desse país com relação aos negros e negras. São 400 anos de ausência de políticas públicas capazes, ao menos, de sanar esses absurdos que não só envolvem a questão de cor e de raça, mas também a pobreza que atinge as comunidades onde a maioria negra é constantemente objeto do maltrato, do isolamento e da violência noticiada todos os dias pela imprensa, como se normal fosse o mal que atinge em pleno século 21 essa camada da população excluída da educação, da saúde, da moradia e dos direitos e privilégios das outras classes sociais”, afirma o curador sobre os 130 anos da abolição da escravatura no Brasil.

Quem for à vernissage, neste sábado (12), às 11h, poderá prestigiar ainda a apresentação do grupo Os Escolhidos, com músicos refugiados do Congo. Localizado dentro do Parque Ibirapuera, o Museu Afro Brasil tem entrada grátis aos sábados. Nos outros dias o ingresso é R$ 6 e R$ 3.

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