Crítica: Claudia Raia prova amor pelos musicais em Cantando na Chuva

Claudia Raia em cena de Cantando na Chuva – Foto: Caio Gallucci/Divulgação

Por Miguel Arcanjo Prado

É digno de aplauso o afinco que a atriz Claudia Raia tem pelos palcos. Ela poderia ser mais uma estrela de TV acomodada com o paparico e as capas de revistas, emendando uma novela na outra.

Mas, não. Jamais abandonou o teatro.

Muito pelo contrário, fez dele sua grande indústria locomotiva, na qual pode não só fazer o que move sua alma como também gerar emprego para dezenas de artistas e técnicos.

Elenco de Cantando na Chuva dança debaixo de 10 mil litros de água – Foto: Caio Gallucci/Divulgação

Prova deste amor ao teatro é o mais recente musical que capitaneia, “Cantando na Chuva”, sucesso absoluto de público no Teatro Santander, em São Paulo, até 17 de dezembro nesta primeira temporada. Porque há pedidos inclementes e cada vez mais irrecusáveis para que o musical volte em 2018.

Se custou R$ 9 milhões, a superprodução emprega 30 atores e 14 músicos em um total de 120 funcionários de forma direta. Nada mal para um país em crise e no qual artistas são chamados, de forma leviana, de “vagabundos”.

Pois o nome de Claudia Raia e sua turma é trabalho.

O desafio imposto desta vez foi gigante: reproduzir no palco uma das cenas mais emblemáticas da história do cinema, parte já do inconsciente coletivo mundial. Aquela na qual Gene Kelly dança debaixo de uma chuva torrencial enquanto canta “Singing in the Rain”, no filme “Cantando na Chuva”, de 1952.

Reiner Tenente, Jarbas Homem de Mello e Bruna Guerin em “Cantando na Chuva” – Foto: Caio Gallucci/Divulgação

O musical de Claudia não só recria a famosa cena, agora com seu marido Jarbas Homem de Mello e com a ajuda de 10 mil litros de água aquecida que caem generosos sobre o ator, como ainda muda a letra do inglês para o português, na cuidadosa versão de Mariana Elisabetsky e Victor Muhlethaler. “Eu canto por aí”, Jarbas canta.

Uma ousadia e tanto. Porém, o público, ávido por encanto, logo compra a nova versão dirigida pelos meticulosos Fred Hanson e Carlos Bauzys, que respeitam o clássico do cinema, sem arroubos ou invencionices.

Como Lina Lamont, a estrela decadente do cinema mudo que não tem uma bela voz para os novos tempos falados, Claudia retoma com propriedade a veia cômica que marcou boa parte de sua carreira: no palco e, sobretudo, na TV. E saber rir de si mesma é uma dádiva concedida pelos céus a pouquíssimas estrelas.

Detalhe do coro de “Cantando na Chuva”: sapateado traz charme à superprodução Jarbas Homem de Mello, Bruna Guerin e Reiner Tenente em “Cantando na Chuva” – Foto: Caio Gallucci/Divulgação

Assim, Claudia abre mão do posto de mocinha da história, que cai no colo de Bruna Guerin, atriz de talento já comprovado em “Urinal, o Musical” e que mais uma vez imprime à protagonista, como atriz perspicaz que é, um olhar irônico e potente, como é de seu feitio. Já Reiner Tetente, o jovem galã, é técnico e correto.

Estão ainda no elenco Sérgio Rufino, Dagoberto Feliz, Thiago Machado, Nábia Villela (sempre um furacão cênico), Fabio Saltini, Alessandra Dimitriou, Andreza Meddeiros, Carla Vazquez (destaque no coro por sua vivacidade), Carol Tanganini, Claudia Rosa, Conrado Helt, Gabriela Rodrigues, Johnny Camolese, Julio Assad, Elcio Bonazzi, Luciana Milano, Marcelo Santos, Mariana Barros, Mariana Gallindo, Marisol Marcondes, Matheus Paiva, Nina Sato, Pedro Paulo Bravo, Sandro Conte, Leandro Naiss e Vanessa Mello.

Boa parte desta turma já integra a história recente do teatro musical brasileiro.

E se tecnicamente o espetáculo é impecável e as coreografias de Chris Matallo trazem de volta o charme do sapateado ao musical brasileiro –que deveria se ater mais à potência cênica desta dança intrinsecamente ligada a este estilo —, por vezes, parte do elenco entra em um automatismo que tira frescor das cenas.

Com tanta pirotecnia ao redor, não se pode descuidar da composição de personagens e sua verossimilidade. Afinal, quando atores soam sentir de verdade o que dizem, tudo se torna mais crível e impactante. Até mesmo os 10 mil litros de água aquecida que fazem chover “de verdade” no palco.

“Cantando na Chuva” ✪✪✪
Avaliação: Bom
Quando: Quinta e sexta, 21h, sábado, 17h e 21h, domingo, 16h e 20h. 150 min. Até 17/12/2017
Onde: Teatro Santander – Shopping JK Iguatemi (av. Presidente Juscelino Kubitschek, 2041, Itaim Bibi, São Paulo)
Quanto: R$ 50 a R$ 260
Classificação etária: Livre

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