Peça grátis, Eleguá Menino e Malandro desmistifica Exu para as crianças

“Eleguá, Menino e Malandro” tem sessões grátis em São Paulo – Foto: Gal Oppido

Por Miguel Arcanjo Prado

O espetáculo infantil “Eleguá, Menino e Malandro”, escrito e dirigido por Antonia Mattos, quer apresentar às crianças uma visão sem preconceito sobre um orixá muitas vezes incompreendido por muitos que têm visão distorcida para as religiões de matriz africana.

Eleguá, também conhecido no Brasil como Exu, é o ema central da obra, que descortina as semelhanças entre as religiões afro-brasileiras e a santería cubana.

Assim, a ancestralidade africana no Brasil e em Cuba se juntam nesta obra do grupo Clã do Jabuti que estreia neste sábado (15), no Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000), onde fica em cartaz até 21 de maio, sempre sábado e domingo, às 16h, com entrada gratuita.

Ao ver a peça, as crianças têm contato com cosmogonia africana para a criação do mundo. Ritmos negros como rap, funk e blues estão presentes na trilha sonora sob batuta de Jonathan Silva, que busca sair da musicalidade eurocêntrica.

O grupo lembra a fala do sociólogo francês Roger Bastide sobre o orixá apresentado pelo espetáculo: “Exu, ou Eleguá, é o orixá mais incompreendido e caluniado do panteão afro-brasileiro”. Basta lembrar que muitos o demonizam de forma injusta.

“Desde que decidimos realizar uma pesquisa sobre o orixá Exu percebemos que ele era sempre aquela figura que deveria ser temida, cercada sempre de muito mistério. Aquele que era combatido com todos os argumentos por pessoas de outros seguimentos religiosos que não os de matriz africana”, lembra a diretora.

“E nos perguntamos porque? Existe uma relação de poder e preconceito ancoradas na figura de Exu e nas histórias contadas sobre ele desde o primeiro colonizador que pisou na África e se escandalizou com Exu até as histórias que chegaram no Brasil e que estabeleceram um ponto de vista branco e colonizador sobre ele como uma história definitiva”, fala Antonia Mattos.

Pois a peça quer, justamente, mudar essa visão distorcida (e racista) sobre o orixá nas gerações do futuro.

A diretora Antonia Mattos, à frente, com o elenco – Foto: Gal Oppido

“Exu não é o diabo”

“Dentro do pensamento eurocêntrico coube a Exu o papel da personificação do “mal”, o diabo judaico-cristão. E de lá pra cá foram muitas as informações distorcidas e equivocadas aos quais essa divindade foi submetida. Insistir nessas histórias negativas é um erro histórico que muitos símbolos e valores associados a cultura negra vem sofrendo através dos séculos. Isso é superficializar essa figura mítica e negligenciar as muitas outras histórias que existem sobre ele. Exu não é o diabo!”, afirma Antonia.

A equipe tem a luz de Luciana Ponce, além de cenário e figurino de Éder Lopes, com auxílio técnico de Edson Luna. Na produção comandada por Sandra Campos, Alexei Ramos fez a preparação em danças afro-cubanas, enquanto que André Mello criou e confeccionou os bonecos.

No elenco, estão Giselda Perê, Renato Caetano, Rubens Alexandre, Rômulo Nardes e Jonathan Silva.

“Acreditamos ser tão importante trazer outros pontos de vista, recuperando os atributos originais africanos que foram escondidos pelas características que lhe foram impostas. Desejamos com a nossa peça contar outras histórias sobre ele e contribuir assim para a desmistificação dessa figura tão importante do panteão africano e afro-brasileiro e também contribuir para desfazer esses equívocos construídos e preservados ao longo de tantos séculos.”

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Veja imagens da peça:

ELEGUÁ, MENINO E MALANDRO from Enoá on Vimeo.

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