Crítica: Após pedrada homofóbica, Toda Deseo enfrenta e conquista Curitiba

por Blog do Arcanjo · 05/04/2017

Cena de “Nossa Senhora [da Luz]” no Festival de Curitiba – Foto: Leonardo Lima/Clix

Por Miguel Arcanjo Prado
Enviado especial a Curitiba*
Fotos Leonardo Lima/Clix

O Coletivo Toda Deseo demonstrou que tem farta coragem durante sua passagem pelo 26º Festival de Curitiba.

Após um agressor homofóbico ter jogado uma pedra durante apresentação da performance Campeonato Interdrag de Gaymada na região da Boca Maldita, o grupo não se calou nem demonstrou medo.

Muito pelo contrário, os integrantes denunciaram a agressão e mantiveram as apresentações do espetáculo seguinte, “Nossa Senhora [da Luz]”, na região da praça Santos Dumont e rua Saldanha Marinho, uma das mais perigosas do centro curitibano.

Os artistas mineiros responderam com talento e conquistaram o público curitibano nas apresentações deste espetáculo, que fez o público caminhar pelas ruas decadentes de Curitiba para justamente falar da decadência de um modelo familiar tradicional e violento, que produz pessoas capazes de atirar pedra naqueles que consideram diferentes.

Espetáculo do Coletivo Toda Deseo ocupou ruas curitibanas – Foto: Leonardo Lima/Clix

David Maurity, Ju Abreu, Rafael Lucas Bacelar, Ronny Stevens, Thales Brenner Ventura e Cristal Lopez incorporaram uma tradicional família de senhoras mineiras, que vão revelando ao público, de pouco a pouco, a tristeza e frustração que nelas habitam, no que definem de “melodrama queer”, com texto de Daniel Toledo e direção de Raquel Castro.

Poético, o espetáculo dialogou com a arquitetura do centro de Curitiba, e apresentou uma ousada troca de roupa em frente à Catedral da cidade, repleta de simbolismos pelo fato de a atriz Ju Abreu, protagonista desta cena, estar grávida.

Ao fim, aplaudidos pelos curitibanos, os artistas convidaram o público para uma animada roda de samba, em clara demonstração de força e alegria.

Emocionada, Cristal Lopez, musa e diva do grupo, afirmou ao Blog do Arcanjo do UOL: “Podem nos apedrejar, podem nos matar, mas nós continuaremos ocupando lugares em praças e ruas de todo o Brasil. Nós somos e continuaremos sendo, gostem ou não, porque misóginos, homofóbicos, transfóbicos e racistas não passarão!”.

“Nossa Senhora [da Luz]” * * * *
Avaliação: Muito bom