Crítica: Ricardo Nolasco se firma como um diálogo ambulante no Festival de Curitiba
Por Miguel Arcanjo Prado
Enviado especial a Curitiba*
Fotos Samira Chami Neves
Ricardo Nolasco é uma das figuras mais inquietas do teatro paranaense. Espécie de herdeiro direto de Zé Celso por aquelas bandas, neste Festival de Curitiba ele apresenta a peça “Momo: Para Gilda com Ardor”.
A obra é uma homenagem à barbuda travesti Gilda, icônica personagem do centro curitibano na década de 1970, que beijava os transeuntes no calçadão da rua XV de Novembro, e que morreu em 1983.
Em sua obra, Nolasco faz de Gilda um emblema da resistência contra toda a caretice e crueldade da família conservadora, em um desbunde ousado que sai do Teatro José Maria Santos e passeia pelas ruas do centro histórico de Curitiba, com o ator repetindo os beijos roubados de Gilda.
O ator assume no programa que a peça é uma “carta manifesto psicomagia rito jocoso para Curitiba carregada de sarcasmo e ironia”. Evocar Gilda, no contexto atual conservador curitibano, é um recado imenso por si só.
Se coragem e desbunde não faltam, a obra ainda está recheada de encontros antropofágicos de Nolasco com outros artistas tão potentes quanto ele, como Stefano Belo, Patricia Cipriano, Patricia Saravy, Marina Viana, Victor Hugo, Leonarda Glück, Melina Mulazani, Luciano Faccini, Márcio Mattana, Daniela Passarinho, Leo Bardo, Simone Magalhães e, claro, Alejandro Jodorowsky, uma das principais fontes de inspiração conceitual para o espetáculo.
Em “Momo: Para Gilda com Ardor”, Ricardo Nolasco se firma como um diálogo ambulante e carnavalesco no Festival de Curitiba. E na vida.
*O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do Festival de Curitiba.
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