Crítica: Les Misérables mostra que mercado de musicais no Brasil está consolidado

Filipe Bragança e Daniel Diges em “Les Misérables” – Foto: Karime Xavier/Folhapress

Por Miguel Arcanjo Prado

Com 32 anos de história e visto por 70 milhões de pessoas em 44 países, o musical “Les Misérables” tem relação especial com o Brasil e, sobretudo, com São Paulo.

Afinal, ele foi a primeira grande produção vinda da Broadway na retomada do gênero por aqui, em 2001, inaugurando o então Teatro Abril, hoje Teatro Renault, abrindo uma nova era para os grandes musicais nacionais, episódicos até então.

A volta de “Les Misérabels” ao mesmo palco, 16 anos depois, comprova que o gênero se consolidou no Brasil, sobretudo nas cidades de São Paulo e Rio.

Após décadas em que uma superprodução do gênero era exceção nos palcos, “Les Misérables” prova que, agora, é uma realidade cotidiana. São dezenas de musicais lançados todos os anos em um mercado robusto e que conta com público fiel.

Além disso, há artistas cada vez mais preparados para encarar o desafio que o gênero propõe — apesar de ainda faltar a muitos atores culhão no campo da interpretação, ainda atrás da dança e do canto em muito casos.

Destaques do elenco

“Les Misérables” traz um elenco afinado em sua maioria. E mostra ainda que o teatro brasileiro honra sua veia cosmopolita, que vem dos muitos gringos que construíram nosso teatro moderno no histórico TBC (Teatro Brasileiro de Comédia).

Assim, quem protagoniza a superprodução é o astro espanhol Daniel Diges, intenso e fazendo bonito mesmo com um português principiante.

Nando Pradho, nome forte do gênero, defende com propriedade o antagonista Javert. O casal protagonista jovem, formado por Clara Verdier e Filipe Bragança, tem o frescor que os papéis pedem, mas não tem o mesmo peso que outros colegas de elenco.

Assim, se sobressaem Kacau Gomes, enérgica como Fantine, Pedro Caetano, seguro na pele de Enjolras, e Laura Lobo, totalmente entregue à trágica Éponine — a trajetória da própria atriz se confunde com a dos musicais no Brasil, já que ela viveu em 2001, ainda criança, o papel da pequena Cosette.

As crianças do elenco, como sempre, enternecem a plateia. No núcleo cômico da história, como dois vilões carismáticos, estão a ótima Andrezza Massei, a Madame Thénardier, e Ivan Parente, como Thénardier e cuja atuação faz lembrar o carisma que tinha Francarlos Reis na montagem de “My Fair Lady” de 2007.

Com uma saga épica que se passa na efervescente França do século 19, “Les Misérables” é do tipo de musical que exige atenção redobrada do público. Seu ritmo vertiginoso e muitas vezes soturno pode fazer com que uma piscadela mais longa provoque a perda de detalhes preciosos da história. Portanto, fique desperto que vale a pena.

“Les Misérables” * * * *
Avaliação: Muito bom

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