Opinião: Sucesso do Carnaval de BH é mérito do povo, não do poder público
Por Miguel Arcanjo Prado
Causou assombro nas pessoas que reconstruíram o Carnaval de rua de Belo Horizonte nos últimos anos a tentativa de políticos de se apropriarem do sucesso da festa. Sobretudo após o público recorde de 3 milhões de pessoas neste 2017.
O Carnaval ganhou força a partir de 2009 justamente porque o poder público, na época representado pelo prefeito Marcio Lacerda, fez decretos que proibiram a ocupação do espaço público, como o que vetou eventos na praça da Estação, cartão-postal da cidade.
As proibições geraram reação do povo, que resolveu ocupar as ruas, de forma espontânea e democrática, o que gerou um verdadeiro recomeço do Carnaval na capital mineira.
Isso aconteceu, sobretudo, após o evento Praia da Estação, quando um grupo, formado por jovens, estudantes, artistas e movimentos sociais, resolveu se banhar na fonte da praça da Estação, em afronta às proibições.
Logo, começaram a pipocar blocos pela cidade. Muitos foram duramente reprimidos, com direito à bomba de gás, igualzinho aconteceu nesta semana em São Paulo.
Só quando a festa se tornou grande e potencialmente lucrativa foi que o poder público resolveu cooptá-la, sem sucesso até o momento – o que se viu neste ano, mais uma vez, foi um Carnaval intensamente politizado e ligado aos movimentos sociais nas ruas de Belo Horizonte.
Inclusive com a Prefeitura tendo de voltar atrás em relação à exclusividade concedida a uma determinada empresa de cerveja. A popular catuaba e outras bebidas foram liberadas após forte protesto de ambulantes e da população.
Como diz a pesquisadora em comunicação e movimentos sociais, Regiane Lucas Garcêz, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), “o Carnaval de Belo Horizonte cresceu justamente em função das constantes proibições do prefeito; quanto mais Marcio Lacerda cerceava o uso dos espaços públicos, mais o Carnaval de luta se fortalecia com a bandeira do direito à cidade”.
É por isso que não adianta políticos – e seus apaniguados – tentarem roubar o protagonismo popular na retomada da folia belo-horizontina. Porque o sucesso do Carnaval de BH é mérito do povo, não do poder público. Como este mesmo colunista escreveu em 2016, o Carnaval de rua de BH é ato político, de resistência.
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