Opinião: Íntegro com seu cinema, Andrea Tonacci jamais se vendeu

O cineasta Andrea Tonacci ao lado da montadora Cristina Amaral em Tiradentes - Foto: Leo Lara/Universo Produção

O cineasta Andrea Tonacci ao lado da montadora e sua mulher, Cristina Amaral, em Tiradentes, em janeiro de 2016 – Foto: Leo Lara/Universo Produção

Por Miguel Arcanjo Prado

O cinema brasileiro está pobre e triste nesta sexta-feira (16), com a morte do cineasta Andrea Tonacci, aos 72 anos, vítima de um câncer no pâncreas.

O diretor nascido em Roma e criado em São Paulo parte no mesmo ano em que foi o grande homenageado da 19ª Mostra de Cinema de Tiradentes, em janeiro último, quando foi ovacionado pelo público do festival e reverenciado por artistas da nova geração.

Tonacci construiu impecável carreira de meio século de dedicação ao cinema como expressão artística, feito com inteligência, coração e sensibilidade, que alguns teimam em chamar de marginal, por não se curvar diante das regras do mercado. Afinal, Tonacci jamais se vendeu.

O cineasta deixou obras fundamentais como “Bla Bla Bla”, de 1968, “Bang Bang”, de 1970, e “Serra da Desordem”, de 2006 — este último representou a redescoberta de seu nome e de sua importância para a sétima arte no Brasil.

Tonacci jamais abriu mão de seu olhar preciso e sensível, sempre acompanhado da montadora e também sua mulher, Cristina Amaral, companheira até o fim.

Em Tiradentes, Tonacci me confidenciou, com a simplicidade típica dos gênios: “Não é mercado que me atrai. Eu faço filmes”.

No mesmo papo, ele também contou que gostava de se afastar da cidade grande, “espaço de extermínio da criatividade”, segundo ele, para pensar suas obras. “É do relaxamento que surgem as coisas”, explicou-me, sabiamente, revelando que preferia “viver os filmes” a teorizá-los em um papel.

Por isso, o homem que definia cinema como “andar na corda bamba, aprendendo a se equilibrar”, sabia o que era. “Uma coisa é a indústria do cinema, que pensa em produção e público. Outra coisa é o artista”. Andrea Tonacci foi um grande artista do cinema. Já faz uma falta enorme.

Andrea Tonacci com o Troféu Barroco da Mostra de Cinema de Tiradentes em janeiro último - Foto: Leo Lara/Universo Produção

Andrea Tonacci com o Troféu Barroco da Mostra de Cinema de Tiradentes em janeiro último – Foto: Leo Lara/Universo Produção

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