Entrevista de Quinta: “Parcerias são fundamentais para a cultura”, diz Liliane Rebelo, do British Council

Liliane Rebelo (ao centro, de vestido branco e rosa) com a equipe vitoriosa no último Prêmio Shell - Foto: Divulgação

Liliane Rebelo (ao centro, de vestido branco e rosa) com a equipe vitoriosa no último Prêmio Shell – Foto: Divulgação

Por MIGUEL ARCANJO PRADO

O 8º Ciclo do Núcleo de Dramaturgia SESI-British Council, projeto que levou o último Prêmio Shell na categoria inovação, pegou carona em aspectos políticos presentes nas peças de William Shakespeare, cuja morte completa 400 anos, para abordar as relações de poder que foram sacudidas nos últimos tempos no Brasil.

Liliane Rebelo, gerente de artes do British Council no Brasil, conta mais sobre a edição do projeto neste ano nesta Entrevista de Quinta. Entre outras coisas, abordou a falta de iniciativas direcionadas ao jovens e o empoderamento das pessoas trans. Leia com toda a calma do mundo.

MIGUEL ARCANJO PRADO — O tema do 8º Ciclo do Núcleo de Dramaturgia SESI-British Council foi Dramaturgia e Relações de Poder, além dos aos 400 anos de morte William Shakespeare. O Brasil vive um período turbulento politicamente. O tema deste ano teve uma escolha baseada na época em que vivemos?
LILIANE REBELO — O tema do 8º Ciclo do Núcleo de Dramaturgia SESI-British Council responde, sim, aos anseios do período em que vivemos e abre espaço para o diálogo e a reflexão do que entendemos sobre as relações de poder. A escolha do tema não se deu somente por conta do momento político atual brasileiro, mas na relevância da questão para a dramaturgia como uma poderosa ferramenta de expressão.

MIGUEL ARCANJO PRADO — Na programação teve profissionais de diversas áreas como a presença do Leandro Karnal e de figuras carimbadas do teatro como Imara Reis, Marcelo Lazzaratto, Pedro Brício. Como foi reunir todos esses convidados a dialogar sobre o mesmo tema?
LILIANE REBELO — Foi uma grande alegria chegarmos à 8ª edição com figuras tão potentes na discussão deste tema. Reunir experiências e olhares diversos dos nossos renomados convidados nos possibilitou mergulhar na questão de forma profunda e rica. Cada qual trouxe uma contribuição, seja ela dramatúrgica, filosófica, acadêmica e isso é o que tornou o Ciclo um evento completo e especial.

MIGUEL ARCANJO PRADO — Todas as edições trazem nomes renomados para a programação. Existe algum momento especial que você considera na trajetória do Núcleo de Dramaturgia SESI-British Council?
LILIANE REBELO — É difícil comparar os anos e as programações já que cada Ciclo tem um foco específico e diferente. O ano de 2016 foi bem especial para o programa.  O Núcleo de Dramaturgia SESI-British Council foi indicado ao 28º Prêmio Shell de Teatro, na categoria Inovação pelo trabalho desenvolvido em uma das áreas mais carentes das artes cênicas: a descoberta e a formação de novos escritores – do qual levou o prêmio esse ano; e isso nos trouxe a certeza de que estávamos trilhando um caminho importante na formação continuada de dramaturgos.  O Ciclo deste ano teve um papel primordial ao trazer à tona os conflitos que o grande dramaturgo britânico antecipou séculos atrás e conectar com os dias de hoje. Foi uma oportunidade ímpar para desconstruir alguns paradigmas e desmistificar alguns conceitos.

MIGUEL ARCANJO PRADO — O Núcleo de Dramaturgia SESI-British Council fomenta a formação de dramaturgos. Nesses quase 10 anos de trajetória como você avalia a importância de investir e revelar novos talentos? Você pode destacar dramaturgos que passaram pelo Núcleo e alguns resultados que você considere importante?
LILIANE REBELO — Alguns destaques que considero valiosos são a formação do Coletivo Dramaturgia em Movimento em 2014 que foi criado por parte dos dramaturgos da 6ª turma do Núcleo de Dramaturgia; Diego Cardoso, participante da 7ª turma do Núcleo, foi contemplado pelo Edital ProAC nº 34 – Bolsa de Incentivo à Criação Literária – Dramaturgia com a peça In Memoriam: Um Sepultamento de Guerra em 4 Movimentos, em 2015. O dramaturgo Péricles Silveira foi o vencedor da 25ª Competição de Dramaturgia para Rádio (BBC International Radio Playwriting Competition) promovida pela BBC Londres em parceria com o British Council com a peça “The Day Dad Stole a Bus”. O programa serviu de inspiração para uma residência artística na Escócia em outubro de 2015 e que teve a participação de 3 dramaturgos brasileiros selecionados, entre eles Marco Catalão, formado pelo Núcleo de Dramaturgia SESI-British Council. O projeto tem gerado frutos significativos nos últimos anos à medida que solidificamos essa trajetória de 10 anos com 85 novos autores que passaram pelo programa.

MIGUEL ARCANJO PRADO — O British Council também promove outros projetos ligados ao teatro. Como você vê o trabalho realizado nessa área, que inclusive, trouxe a dramaturga/atriz Jo Clifford para o Brasil e que rendeu uma montagem brasileira da peça O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu?
LILIANE REBELO — Temos desenvolvido projetos de teatro que tenham foco em áreas incomuns das artes cênicas. Estamos interessados em áreas que trabalhem a formação e a capacitação e na maioria dos casos públicos marginalizados ou com vozes oprimidas. Esse norte tem sido bastante importante na escolha de projetos que apoiamos ou realizamos. O Conexões, por exemplo, é um projeto voltado à dramaturgia jovem, mais precisamente à faixa etária de 12 a 19 anos. Um projeto feito para jovens e por jovens que geralmente não encontram no teatro e na dramaturgia um espaço de dialogo e reflexão com o universo deles. A vinda da Jo Clifford ao Brasil e a montagem da versão brasileira O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu é um exemplo de projeto que norteia a estratégia do British Council.  A temática LGBT precisa ser discutida e revisitada e é muito importante que façamos isso através da excelência artística e do empoderamento das pessoas trans.

MIGUEL ARCANJO PRADO — Qual a importância da união entre instituições, como no caso da parceria com o SESI para realização de projetos?
LILIANE REBELO — Parcerias institucionais são de vital importância para o setor cultural, especialmente nos dias de hoje onde o investimento está vinculado apenas a entregas e projetos de curto-prazo. Vivemos um grande desafio no Brasil com a vulnerabilidade de financiamento, a descontinuidade de investimento e a dependência dele, dificultando a permanência de projetos que são de relevância para a formação artística e social.

Leia entrevista de Liliane Rebelo ao Blog do Arcanjo no UOL

 

 

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