Claudio Botelho defende violência contra transexuais: “Falta surra”

Claudio Botelho: "Falta surra", referindo-se a transexuais - Foto: Divulgação

Claudio Botelho: “Falta surra”, referindo-se a transexuais – Foto: Divulgação

Por Miguel Arcanjo Prado

O diretor Claudio Botelho fez comentários preconceituosos e violentos contra transexuais em uma rede social neste fim de semana. Disse que elas são assim porque não apanham dos pais. “Falta surra”, afirmou. Ele ensaia justamente um musical que tem esta temática, “The Rocky Horror Picture Show”, ao lado do companheiro Charles Möeller e com estreia prevista para novembro, em São Paulo. Após repercussão negativa de suas declarações, Botelho disse que elas eram “em tom de brincadeira”.

O fato acontece menos de oito meses depois da polêmica em Belo Horizonte, quando ele foi vaiado pelo público após xingar os ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva durante apresentação de “Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos”. Na época, vazou um áudio do diretor, nervoso, em seu camarim, no qual dizia: “Um ator não pode ser peitado por um negro”. Chico Buarque o proibiu de montar sua obra após este episódio.

Desta vez, o alvo de Botelho são as pessoas transexuais. Ele criticou a escalação da atriz trans Laverne Cox para o papel de Dr. Frank-N-Furter em um canal de TV norte-americano. Nas palavras de Botelho: “Gente, esse tipo de coisa está se propagando porque os pais não batem mais nos filhos. Falta surra!”.

Ele continuou defendendo a violência dos pais em caso de um filho transexual. “Se o pai bate, elas pelo menos sabem que é errado e vão dar pro amiguinho da escola pra se vingar, não ficam inventando que são trans, se dedicam logo a arrumar homem e param de querer holofote”, escreveu.

Botelho ainda criticou as oportunidades para transexuais no mundo do entretenimento. “Holofote é pra Judy [Garland], Barbra [Streisand] e pra Rogéria, o resto é bicha drogada de festa rave”, afirmou. E atacou ainda um vizinho transexual.

Quando o seu parceiro de trabalho Charles Möeller disse que a exibição da Fox era “Rocky PAVOR GLEE Show”, Botelho respondeu: “Na Disney tem essas trans também? Eles vão refilmar Branca de Neve? Eu queria sugerir um garoto aqui do meu prédio que é bicha, mas a mãe acha que pega mal, então estão inventando que ele é TRANS, porque diz que é a mesma coisa que bicha, mas é chique. Ele é bem bonito, mas a única música que ele ouve, com 15 anos, é um disco de uma tal de Selena [Gomez]. Tá?”.

O diretor ainda afirmou que tem “alma de loiro e olho azul”.

Após ser criticado pelo que escreveu, Botelho apagou os comentários.

Veja as declarações:

Claudio Botelho: comentários transfóbicos na internet - Foto: Reprodução

Claudio Botelho: comentários transfóbicos na internet – Foto: Reprodução

Outro lado

Claudio Botelho emitiu comunicado oficial nesta segunda (24), na página de sua produtora teatral, Möeller e Botelho. Afirmou que seus comentários violentos e preconceituosos foram “em tom de brincadeira”, mas reiterou que não acha “adequado” a escalação de uma atriz trans para o papel de uma transexual em “Rocky Horror Show”. Ele pediu “desculpas a quem quer tenha se sentido ofendido”.

Leia os principais trechos do comunicado de Claudio Botelho:

“Há dois dias fiz comentários no Facebook, não em minha página pessoal, mas dentro do post de um amigo onde havia um pequeno debate sobre a escalação da nova versão de ”Rocky Horror Show” produzida por um canal de televisão.

Meus comentários eram todos em tom de brincadeira. Resultaram, no entanto, como expressão de intolerância, uma vez retirados do contexto. Mas o contexto era uma discussão livre sobre o que os fãs do célebre musical inglês acham da escalação de uma atriz transexual para o papel de principal do show. Havia quem achasse adequado. Outros, como eu, não acham.

Minhas palavras ali dizem respeito somente àquela escalação. E como eu disse, são em tom de piada, de brincadeira, de troça. Nada mais que isso […].

Sinto imensamente que minhas palavras, repito, totalmente em tom jocoso e de piada, possam de alguma forma ter ferido ou no mínimo magoado quem quer que seja. Meu apreço por artistas em geral, sejam eles homossexuais, transexuais, heterossexuais, trans-gênero, ou o que quer que seja, é o apreço que tenho pelo Teatro, onde construí uma carreira de 30 anos de trabalho nos quais jamais escondi minha própria orientação sexual.

Compreendo ainda assim que o momento não é propício para qualquer tipo de brincadeira, gracejo, piada ou arremedo sobre qualquer assunto que se refira a identidade sexual, seja ela qual for, especialmente as que envolvem minorias. Assumo como falta de percepção e de sensibilidade ter agido sob o espontâneo clima de um bate-papo no Facebook, sem levar em conta a dimensão negativa que um comentário assim, desconectado de seu contexto pode atingir quem de mim só merece respeito, reverência, admiração.

Peço portanto as mais sinceras desculpas a quem quer tenha se sentido ofendido pelo que falei naquele contexto. Não foi minha intenção ferir qualquer grupo ou indivíduo; se o fiz, foi por descuido e pouco tato de minha parte.”

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