Ocupação Preta na Funarte SP cria grupo para garantir direitos aos negros

Artistas e ativistas negros reivindicam fim do genocídio da população negra em SP - Foto: Divulgação

Artistas e ativistas negros reivindicam fim do genocídio da população negra em SP – Foto: Divulgação

Por MIGUEL ARCANJO PRADO

Desde que o Ministério da Cultura foi extinto pelo presidente interino Michel Temer (PMDB), vários artistas ocuparam órgãos públicos ligados à pasta em todo o Brasil. Mesmo com a reinstalação do ministério, os grupos permaneceram as ocupações, não reconhecendo o governo interino, ao qual definem como “golpista”.

Na Funarte São Paulo não é diferente. Em meio aos variados grupos artísticos presentes no local, os negros resolveram se unir no Grupo de Articulação de Políticas Pretas (Gapp), formado artistas e ativistas negros.

A Ocupação Preta, criada em meio, foca nas reivindicações da comunidade negra e deu origem ao Gapp. Seu objetivo é “potencializar a participação de negros e negras em reuniões governamentais para criação de políticas públicas, focadas em combater o racismo institucional e o genocídio da população negra nas periferias de São Paulo”, informam seus organizadores.

“Somos militantes da dança, teatro, rap, samba, MPB, grafite, religiões de matrizes africanas, além disso, somos professores universitários, arte educadores, pesquisadores acadêmicos, profissionais do audiovisual e mídia”, conta Eric Justino, um dos fundadores do Gapp e também militante quilombola.

Segundo ele, a Ocupação Preta foi criada por “não ter as nossas demandas discutidas como prioridade dentro da ocupação”. Ele acredita que a iniciativa torna a Funarte um “espaço de manifestações culturais mais democrático e plural, reforçando a importância de criar políticas públicas em prol da população negra, que sofre todos os dias o impacto do racismo estruturante e da violência do Estado”.

Reuniões e rodas de conversa marcam a Ocupação Preta na Funarte SP - Foto: Divulgação

Reuniões e rodas de conversa marcam a Ocupação Preta na Funarte SP – Foto: Divulgação

Reivindicações

Entre as reivindicações está a criação de medidas governamentais para combater: a invisibilidade e o genocídio da população negra; a apropriação cultural de obras e projetos originais e criativos enraizados na cultura afro-brasileira; escassez de políticas públicas nacionais voltadas para produção de artistas negros; a intolerância religiosa, com base nas garantias do Estatuto da Igualdade Racial, Lei 12.288/2010; a garantia da implantação da Lei 10.639, que prioriza o ensino da cultura afro brasileira no ensino fundamental e médio; a homofobia aliada ao racismo que afeta diretamente o status social dos jovens negros e periféricos; repúdio ao discurso da bancada evangélica, para que haja entendimento sobre o real propósito das religiões de matrizes africanas, a fim de desmistificar conclusões e pontos de vista sem fundamento étnico e antropológico.

Para Gal Martins, também fundadora do Gapp e artista da Cia. Sansacroma, diz: “Nós queremos contribuir para a criação de políticas publicas que potencializem a voz do povo negro, juntamente com as suas raízes culturais. Desta forma, poderemos evitar o constante silenciamento da população negra na cidade de São Paulo”.

A Ocupação Preta realiza ações culturais na Funarte, como assembleias, debates, rodas de conversa, shows e intervenções culturais. “A nossa arte é intensa e ela toca as pessoas de uma forma indescritível. Por isso, estamos levando para o ocupação a essência da cultura negra e as suas mais diversas vertentes artísticas”, declara Rita Teles, atriz e arte educadora que apoia ações do Gapp e da Ocupação Preta.

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