Phedra D. Córdoba sai de cena aplaudida de pé

As múltiplas faces de Phedra D. Córdoba: diva saiu de cena aplaudida de pé - Fotos: Reprodução

As múltiplas faces de Phedra D. Córdoba: diva saiu de cena aplaudida de pé – Fotos: Reprodução

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
Fotos BOB SOUSA e
EDUARDO ENOMOTO

Foi sob vigoroso aplauso de pé que os amigos de Phedra D. Córdoba, todos de batom vermelho nos lábios, se despediram da atriz no Crematório da Vila Alpina, em São Paulo, na tarde deste domingo (10). Ela morreu neste sábado (9), aos 77 anos, no Hospital Heliópolis, para onde foi levada após passar mal em seu apartamento na praça Roosevelt.

Antes da despedida final à grande diva do teatro brasileiro, foram ouvidas três músicas, a primeira foi Yo Viviré, versão de Celia Cruz para I Will Surive, que Phedra dublava na peça Transex, de 2004, depois tocou Metamorfose Ambulante, de Raul Seixas e grande hit do show Phedras por Phedra, no Oficina, no último dia 25. Puxados por Ivam Cabral, todos os presentes cantaram juntos, aos prantos.

Depois tocou Phedra de Córdoba, música de Luiz Pinheiro para a diva, com o refrão: “Colibri, jatobá, loba”, também entoado por todos, sob muita emoção, seguido dos aplausos até que o caixão desaparecesse.

Antes da cerimônia no crematório, houve o velório durante toda a manhã no Espaço dos Satyros Um, na praça Roosevelt, palco onde Phedra se consagrou com o grupo Os Satyros.

Diva maior da praça Roosevelt: Phedra D. Córdoba (1938-2016), em frente ao Espaço dos Satyros Um, onde seu corpo foi velado - Foto: Bob Sousa

Diva maior da praça Roosevelt: Phedra D. Córdoba (1938-2016), posa em frente ao Espaço dos Satyros Um, onde seu corpo foi velado – Foto: Bob Sousa

Velório

Gustavo Ferreira, ator da companhia, foi quem abriu o espaço às 4h, para a entrada do caixão com a diva. Cléo De Páris e Robson Catalunha, também atores do grupo, foram os primeiros a chegar. Todos estavam muito abalados.

Divina Nubia, amiga íntima de Phedra de longa data, a preparou para o velório, como havia prometido à amiga. Colocou-lhe o mesmo vestido que ela usou no show Phedras por Phedra, no último dia 25 de março, no Teat(r)o Oficina. A penteou e maquiou, para que estivesse linda em sua despedida. E assim foi.

Ao longo da manhã, colegas do teatro, amigos e admiradores passaram pelo local, ao som da trilha escolhida pelo ator Laerte Késsimos, ao gosto de Phedra, que tocou a todos.

Durante toda a manhã, o diretor do Satyros, Rodolfo García Vázquez, esteve na companhia da atriz do grupo Maria Casadevall para resolver a burocracia para a liberação do corpo e a cremação, que necessitou de autorização da Justiça, por Phedra não ter parentes no Brasil.

Durante o velório, amigos se aproximaram do caixão para dar o último adeus. A maioria comentou que Phedra estava linda e serena.

Phedra D. Córdoba no antigo apartamento do Vale do Anhangabaú com seu gatinho, Primo Bianco - Foto: Eduardo Enomoto

Phedra D. Córdoba no antigo apartamento do Vale do Anhangabaú com seu gatinho, Primo Bianco – Foto: Eduardo Enomoto

Lembranças 

Paula Cohen lembrou da alegria de Phedra com a celebração no Oficina. “Eu arrasei, ela me disse”, contava Paula, imitando o jeito de falar da amiga.

Antes de o caixão ser fechado, Rodolfo García Vázquez incentivou os presentes a fazerem o último discurso diante de Phedra. Vários, emocionados, tomaram a palavra. Ivam Cabral lembrou de quando Rodolfo e ele conheceram Phedra e a convidaram a integrar o Satyros, afirmando que aprenderam muito com ela. Artistas cubanos também discursaram e cantaram uma canção de Havana para Phedra, lembrando que ela ajudou a difundir a arte de Cuba no Brasil.

Celso Sim também cantou para Phedra uma versão de Drume Negrinha, de Caetano Veloso, adaptada para Drume Phedrita.

Cléo De Páris recordou que em um Réveillon Phedra lhe contou por telefone ter feito oferendas para Yemanjá. Intrigada pela amiga na época morar em um apartamento no Vale do Anhangabaú, Cléo quis saber como a oferenda foi feita. Phedra lhe respondeu: “Eu jogava as flores pela janela e depois um balde de água”.

Casos bem humorados como este ajudaram os presentes a suportar a dor da despedida, assim como os que contaram que em algum momento da vida brigaram com Phedra, por conta do gênio da diva, como a amiga Kelly Cunha. Mesmo nas brigas, todos a amavam.

Na parede do Satyros, ficaram pendurados ao lado das coroas de flores, como a enviada pelo ator Otávio Martins, os quadros em preto e branco com a imagem da diva cubana que decoravam seu apartamento.

Phedra D. Córdoba em frente aos prédios da praça Roosevelt, onde morava - Foto: Eduardo Enomoto

Phedra D. Córdoba em frente aos prédios da praça Roosevelt, onde morava – Foto: Eduardo Enomoto

Emoção

A atriz Andressa Cabral estava muito abalada e chorava ao lado do caixão nos momentos finais. A atriz Julia Bobrow também chorava copiosamente. E se mostrava preocupada com os dois gatos de Phedra, Primo Bianco e Rebecca, dizendo que será preciso encontrar alguém que adote os dois bichanos neste momento em que sentem juntos a falta da dona.

Outro bastante comovido foi o ator Diego Ribeiro, que foi uma espécie de anjo da guarda de Phedra em seus últimos dias de vida. Foi ele quem a levou ao hospital pouco antes de ela descobrir a doença e cuidou dela nos primeiros dias. Maria Casadevall, que levou a amiga ao hospital nas últimas vezes, onde chegou a dormir com Phedra, também estava muito abalada.

O fotógrafo André Stefano lembrou que nos últimos 14 anos fotografou quase todos os momentos da diva nos palcos e que ela foi uma corajosa que lutou para ser quem era a vida inteira, não se importando com o preconceito alheio.

Os atores Thiago Mendonça e Henrique Mello foram ao velório travestidos, em homenagem à amiga. O ator Hugo Godinho e o arquiteto Rodolfo Brunhari também fizeram a homenagem.

Outros como a cartunista Laerte Coutinho, a produtora Daniela Machado, a cineasta e atriz Helena Ignez, e os atores Paulinho Faria, Elisa Fingermann, Dione Leal, Joaquim Gama, Fábio Penna, Lorena Garrido, Bel Friósi, Felipe Moretti, Silvio Eduardo, Marcelo Thomaz, Sabrina Denobile, José Sampaio, Bárbara Salomé, Samira Lochter, Eric Lenate, Bruno Gael, entre outros, também foram se despedir.

Após o funeral da amiga, Rodolfo García Vázquez declarou:

“Quando ninguém discutia a questão da transexualidade, ela assumiu que não era homem, que era mulher. Isso foi na ditadura militar. Passou mais de 20 anos desafiando a repressão. Dizia que era espanhola, pois tinha medo de que, se dissesse que era cubana, poderia ser presa. Trabalhava em casas noturnas gays, teve amantes estáveis que lhe deram algum auxílio, vivia na semiclandestinidade. Chegou a passar fome quando deveria estar descansando da labuta. Ao entrar nos Satyros, quebrou todos os tabus. Frequentava as premiações da classe teatral e, nos primeiros anos, foi olhada com suspeita e assombro. Era profundamente apaixonada pela vida e pela arte. Odiava e amava ao mesmo tempo. Era egoísta, brega, grosseira. Era delicada, generosa, altiva. Mas, acima de tudo, amava o palco profundamente. E amava todos aqueles que fizessem do palco sua vida. Phedra de Córdoba, a mulher que nunca existiu, nos deixou abandonados neste plano e foi passear em algum planeta distante!”

Phedra D. Córdoba (1938-2016) - Foto: Bob Sousa

Phedra D. Córdoba (1938-2016) – Foto: Bob Sousa

Veja Phedra na peça Transex, de 2004:

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  1. 10/04/2016

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