Roberto Almeida: Quem  tem medo dos youtubers?

Roberto Almeida - Foto: Mila Milowski

Roberto Almeida – Foto: Mila Milowski

Por ROBERTO ALMEIDA*
Colaboração especial, de Belo Horizonte (MG)

Lançada recentemente, a  Pesquisa Brasileira de Mídia de 2015, realizada pelo governo federal, mostra que as pessoas já passam mais tempo online do que assistindo à TV.

Além disso, 66% dos jovens preferem a internet quando buscam entretenimento, percentual que já é superior ao registrado pela televisão. Os dados deixam de cabelo em pé os executivos das redes de TV e impactam as regras de distribuição das verbas publicitárias.

Nesse cenário de mudanças, quem tem feito uma pequena revolução no mercado das comunicações são pessoas comuns, que muitas vezes viram estrelas com uma câmara ligada dentro do quarto.

Nessa seara, o Youtube ainda é referência. Broadcast yourself, o gigante diz. Mal traduzindo, diga ao mundo o que você tem a dizer.

Imbuídos desse espírito, vlogers e youtubers de extração as mais diversas postam mais de 400 horas de vídeo por minuto na plataforma, de acordo com dados da própria empresa.

Há espaço para tudo: moda, maquiagem, games, humor, música e até auto ajuda. A lista de assuntos é virtualmente infinita, assim como é enorme — e crescente — quantidade de usuários do sistema, hoje na casa dos bilhões.

Youtubers: há espaço para as diferenças na rede - Foto: Divulgação

Youtubers: há espaço para as diferenças na rede – Foto: Divulgação

Palcos próprios

Ao contrário dos comunicadores que a TV aberta consagrou, as estrelas do Youtube fazem fama sem precisar se comunicar com o país inteiro. Eles constroem seus próprios palcos e fincam bandeira em um território do qual são reis e de onde onde acenam para milhares — as vezes milhões —  de súditos, espectadores pródigos em lhes conferir likes e compartilhamentos.

Exemplo típico dessa fauna são Andrew e David Fung, que comandam no Youtube o popular canal Fung Bros Comedy. Norte-americanos descendentes de chineses, eles falam na internet sobre a experiência de serem filhos de imigrantes e membros de uma minoria ética.

Na pauta, comida asiática, moda asiática, música asiática, relacionamentos inter-raciais, bem como o quem há de sofrido — e engraçado — em viver como orientais nos Estados Unidos da América, país que ainda não fez as pazes com a sua natureza cada vez mais mestiça.

Tratando de uma temática bem específica, os Fung já contam com quase 5 milhões de seguidores, além de um considerável séquito de fãs, muitos dos quais meninas que se derramam em elogios para seus olhinhos puxados.

Andrew e David Fung: dupla faz sucesso no Youtube - Foto: Divulgação

Andrew e David Fung: dupla faz sucesso no Youtube – Foto: Divulgação

Olhos para a diferença

Condenada a sempre buscar um denominador comum, a falar para um suposto e fugidio homem médio — a figura que encarnaria os atributos da “massa” — a televisão sempre se viu obrigada a lançar mão do expediente da homogeneização.

O que os programas de TV buscam são linguagem, abordagens e temática que possam agradar a todos, ou pelo menos que seja palatável à maioria.

Nessa jornada, a televisão acaba fechando os olhos para a diferença. Falta espaço para aquilo que escapa à torrente do gosto e dos interesses médios.

É aí que a internet e uma legião de novos comunicadores, como os youtubers, faz fortuna.

Assumindo como seus os chamados “públicos de nicho”, essas figuras devolvem para a cena pública sensibilidades, afetos e histórias que a televisão não sabe contar.

A diferença e os sotaques locais — as imagens e as cores que a TV desbota para alcançar mais audiência — estão todas ali. Basta saber usar a ferramenta de busca.

No oceano de diversidade da internet, nem todo youtuber tem coisas interessantes a dizer.

Todo espectador, no entanto, tem interesses que extrapolam os gostos do misterioso homem médio, tal qual imaginado pelos meios de massa.

Eis aí uma pontual mas relevante encruzilhada que se apresenta à televisão, especialmente a aberta. A internet tira isso de letra, e os anunciantes ja perceberam, para desespero dos executivos das emissoras.

*ROBERTO ALMEIDA é jornalista e mestre em Comunicação Social pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Ele escreve no site todo terceiro sábado do mês.

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