Crítica: Godofredo e Alice une coragem à doçura

Drika Ferreira, Lucas Dantas e Giselle Millás em Godofredo e Alice - Foto: Arô Ribeiro

Drika Ferreira, Lucas Dantas e Gisella Millás em Godofredo e Alice – Foto: Arô Ribeiro

Por MIGUEL ARCANJO PRADO

O amor entre dois jovens transexuais pode ser algo repleto de doçura, ao contrário do que muitas mentes preconceituosas por aí pensam.

Este é o maior mérito do corajoso espetáculo Godofredo e Alice, escrito por Newton Moreno: mostrar que o diferente é igual a todos nós. É gente.

A dramaturgia conta a história dos dois adolescentes, que aos poucos descobrem que estão apaixonados, como tantos outros todos os dias.

Só que o frenesi do romance tem um entrave aos olhos da sociedade: Godofredo é uma menina que deseja ser um menino. E Alice é um garoto que prefere ser tratado como moça.

O roteiro lembra a história real do ator Léo Moreira Sá, transexual que também se envolveu com outra transexual do sexo oposto e foi parar nos programas vespertinos de TV na época. Hoje, Léo é ator — fez o espetáculo Lou & Leo com sua trajetória —,jornalista e militante da causa transexual.

Cena do musical Godofredo e Alice: olhar necessário para a diversidade - Foto: Arô Ribeiro

Cena do musical Godofredo e Alice: olhar necessário para a diversidade – Foto: Arô Ribeiro

Mas voltemos a Godofredo e Alice. A direção, assinada por Cecília Schucman e Tatiana Caltabiano, investe na sensibilidade desta relação não tão comum, mas nem por isso menos crível, construindo com toda a calma do mundo (um pequeno corte teria feito bem ao andamento da peça) o afeto entre ambos.

Escolhidas a dedo, as músicas de Lulu Santos, cantadas pelo elenco com acompanhamento ao vivo, ajudam a trazer o coração da plateia para a história. Afinal, são canções que fazem parte de nosso inconsciente afetivo.

No elenco, Drika Ferreira, como Godofredo, se destaca. A atriz tem bela e potente voz. Ouvi-la cantar é um dos maiores prazeres a quem assiste a obra. A voz tão suave de Drika, repleta de uma candura melancólica, contrasta com a busca de trejeitos masculinos de seu personagem, o que lhe dá maior potência.

Lucas Dantas, na pele de Alice e par cênico de Drika, prefere uma atuação perigosamente serena, mas que em alguns momentos ganha suspiros de vida para não ser engolida pelos artistas com quem contracena — alguns cheios de tesão pelo palco, caso de Edgard Pimenta e Caio Alencar.

Gisella Millás também chama a atenção como a avó de Godofredo, dando um respiro adulto e de peso a uma peça repleta de juventude.

No elenco, ainda estão Amanda Gasparetto, Bruno Lourenço (com uma energia adolescente em riste), Evelyn Klein, Karen Linhares, Letícia Félix, Luiz Gustavo Jahjah, Maíra Pagliuso, Mayara Alves e Vitor Arantes.

Num Brasil que prefere fingir que assuntos de gênero não existem — a não ser para ser estatística de crimes de ódio —, uma peça como Godofredo e Alice é mais do que necessária, para mostrar que é preciso falar sobre a diversidade sexual. Afinal de contas, o conhecimento, aliado a um pensamento inteligente, é a base do respeito que todos necessitam.

Godofredo e Alice * * *
Avaliação: Bom

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