Entrevista de Quinta: “Não abro concessões, e o público se sente respeitado”, diz Eloisa Vitz, diretora do Grupo Gattu

Eloisa Vitz (de azul), Miriam Jardim, Daniel Gonzales, Laura Vidotto, Fabio Gonzales, Mariana Fidelis em Amor - Foto: Divulgação Victor Delboni | Lilian Peres

Eloisa Vitz (de azul), Miriam Jardim, Daniel Gonzales, Laura Vidotto, Fabio Gonzales, Mariana Fidelis, Victor Delboni e Lilian Peres em Amor, a nova peça do Grupo Gattu – Foto: Renato Rebizzi 

Por MIGUEL ARCANJO PRADO

Depois de mergulhar em Nelson Rodrigues, fazer uma comédia policial e se aventurar em dois espetáculos políticos sobre uma rainha de ego inflado, o Grupo Gattu resolveu falar de amor.

E o título da peça escrita e dirigida por Eloisa Vitz é este mesmo, o nome do mais nobre sentimento: Amor. A obra, que se passa em um navio, está em cartaz com entrada gratuita no Teatro do Sol [veja serviço ao fim], a charmosa sede que o grupo conquistou em Santana, zona norte de São Paulo.

Eloisa, que além de dramaturga e diretora também é atriz, é formada em direito e letras, com pós-graduação em História da Arte. Ela ainda é atriz pela Escola de Arte Dramática da USP (Universidade de São Paulo).

Nesta Entrevista de Quinta, a mulher à frente do Grupo Gattu, fala sobre o novo espetáculo e a dificuldade de se fazer teatro na cidade, mas diz que é otimista, lembrando que São Paulo tem a mais efervescente cena de todo o Brasil. Cena na qual o Gattu sempre marca forte presença.

Leia com toda a calma do mundo.

Eloisa Vitz, uma mulher há frente do Grupo Gattu há 15 anos - Foto: Divulgação

Eloisa Vitz, uma mulher há frente do Grupo Gattu há 15 anos – Foto: Renato Rebizzi

MIGUEL ARCANJO PRADO — Eloisa, em Amor, você assina mais uma vez o texto do Gattu; agora vão investir em montagens de textos próprios?
ELOISA VITZ — Assino mais uma vez o texto do Grupo Gattu… Comecei a ser dramaturga por acaso. E agora gosto tanto! [risos] Costumo dizer que a vida é boa porque é variada. A cada início de ano, sentamos em roda e pergunto ao Grupo Gattu o que nos inquieta, sobre o que queremos falar, o que nos transborda. Muitas vezes, o tema tem um texto maravilhoso — quero ainda montar os clássicos e mais Nelson Rodrigues, uma verdadeira paixão para mim. Ultimamente, as inquietações acabam sendo muito particulares e então optamos por ter nossa própria dramaturgia. Tenho amado este desafio!

MIGUEL ARCANJO PRADO — Por que você quis ambientar sua história em um navio? De onde veio a inspiração?
ELOISA VITZ — Depois de quatro Nelson Rodrigues, uma comédia policial, Frisante, e duas peças políticas, Reino e Reino 2, meu elenco me pediu que falássemos sobre o amor. Aceitei o desafio. Porque ambientar em um navio? A ideia do navio me pareceu muito sedutora, porque é uma jornada rumo ao desconhecido. Embarcar em uma nau, agrega uma metáfora linda, de deixar-se levar pelo mar… Ir em busca de algo, sair da zona de conforto e se expor aos riscos, intempéries, ao que não se prevê. Requer um olhar novo, um estado de espírito disponível. Apaixonar-se é assim, um mergulho no desconhecido… Se perder e se achar… Sentir-se maravilhado e horrorizado, unir paradoxos, tirar os pés da terra firme, deixar-se ser conduzido. O Amor é esta nau que vai…

MIGUEL ARCANJO PRADO — Como tem sido a recepção do público ao espetáculo?
ELOISA VITZ — O público tem amado o espetáculo! Embarcam conosco na viagem e se envolvem bastante com a trama. Fico feliz e encantada com esta conexão com a plateia. Não abro concessões, que poderiam facilitar ou simplificar, e o público se sente respeitado.

Cena da peça Amor, do Grupo Gattu, que se passa em um navio - Foto: Divulgação

Cena da peça Amor, do Grupo Gattu, que se passa em um navio – Foto: Renato Rebizzi

MIGUEL ARCANJO PRADO — O Teatro do Sol foi uma aposta do Gattu de fazer teatro na zona norte, em um lugar onde não tinha muita tradição teatral. Como tem sido este retorno?
ELOISA VITZ — Temos desde o início do Grupo Gattu como missão a excelência artística, formação de platéia e acessibilidade total. Acreditamos que contra qualidade não há argumento. Viemos para Santana, porque não conseguimos arcar com as despesas lá na rua dos Ingleses. E por um golpe de sorte ou ajuda dos Deuses do Teatro, temos mais público aqui do que na Bela Vista! Santana tornou-se uma agradável surpresa!

MIGUEL ARCANJO PRADO — Amor é uma comédia? Por que você gosta tanto deste gênero?
ELOISA VITZ — Ah, eu amo o Teatro e tudo que dele emana [risos] O Amor é uma comédia, coincidiu de estarmos pesquisando a comédia, assim como pesquisamos o Nelson Rodrigues. Se tivessemos pesquisando a tragédia… No entanto, confesso que sou apaixonada pelas comédias. O riso é uma ferramenta eficaz para aproximarmos corações e mentes. Eu amo o humor. O ser humano ri e isto nos distingui de todos os outros seres vivos. Ao rirmos juntos ficamos mais suaves, mais doces, quebra-se a barreira das intolerâncias, invade a alma com uma sensação agradável. A reflexão que brota do humor é mais doce. Dói menos.

MIGUEL ARCANJO PRADO — Como vocês conseguem oferecer entradas gratuitas?
ELOISA VITZ — Quando conseguimos ter apoio da iniciativa privada através das Leis de Incentivo, não cobramos ingressos. Sei que é uma prática polêmica. Mas acredito que o contribuinte já pagou pelo espetáculo, o dinheiro usado é do contribuinte; então, não vou cobrar novamente. Além disso, temos a missão de acessibilidade total, queremos ampliar o público de teatro, e quem usava a desculpa que teatro de qualidade é caro, fica surpreendido e surpreso com o Grupo Gattu.

Navegantes apaixonados dão as caras em Amor, do Grupo Gattu - Foto: Divulgação

Navegantes apaixonados dão as caras em Amor, do Grupo Gattu – Foto: Renato Rebizzi

MIGUEL ARCANJO PRADO — Qual a importância do incentivo público para a prática teatral?
ELOISA VITZ —  Toda! [risos] Precisamos do incentivo, principalmente para o trabalho de grupos teatrais, sem a visibilidade da TV. O teatro de pesquisa precisa de incentivo. Como manter um grupo de teatro em São Paulo com mais ou menos 20 pessoas com a bilheteria? Impossível! Pelo menos para nós do Grupo Gattu, por enquanto.

MIGUEL ARCANJO PRADO — Você acha que os governos municipal, estadual e federal ainda são falhos no quesito apoio ao teatro?
ELOISA VITZ — Olha, Miguelito, eu acho que toda nossa política é falha. No entanto, sou otimista, não tenho tendências catastrofistas e o Grupo Gattu sobrevive graças às Leis de Incentivo. Poderia ser melhor? Com certeza poderia, mas não posso colocar tudo em uma conta pequena. Há projetos políticos e pessoas absolutamente idôneas, na área Cultural. Acredito que vamos progredir muito e o teatro avança a passos largos…. A cidade de São Paulo tem uma oferta invejável de ótimos espetáculos!

MIGUEL ARCANJO PRADO — Qual a cara do teatro feito pelo Gattu?
ELOISA VITZ — O Grupo Gattu é apaixonado, dedicado, disciplinado. Estamos desenvolvendo uma pesquisa e acredito que hoje fazemos o que eu chamo de realismo fantástico. Mas para conhecer a cara do Grupo Gattu é preciso vir assistir ao Amor!

Amor se passa na década de 1920 em um navio - Foto: Divulgação

Amor se passa na década de 1920 em um navio – Foto: Renato Rebizzi

Amor
Quando: Quinta 21h, Sexta 21h30, Sábados às 21h, e domingo às 20h. 75 min. Até 29/11/2015
Onde: Teatro do Sol (r. Damiana da Cunha, 413, Santana, São Paulo, tel. 11 3791.2023)
Quanto: Grátis (retirar uma hora antes)
Classificação etária: 14 anos

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