Crítica: Frida Kahlo vira princesa de musical em BH

Cena da peça A Princesa Frida, em cartaz em Belo Horizonte - Foto: Divulgação

Cena da peça A Princesa Frida, em cartaz em Belo Horizonte – Foto: Divulgação

Por LÉO KILDARE LOUBACK*
Colaboração especial, de Belo Horizonte (MG)

A febre dos musicais que se abateu sobre o Brasil nos últimos anos gerou uma corrida de vários produtores em busca da galinha dos ovos de ouro que vai lotar as plateias e os bolsos.

Em sua maioria importados tanto em formato quanto em equipes criadoras, montagens como Os Miseráveis, Hair e A Bela e a Fera deixam sempre a Broadway com sotaque nacional.

As temáticas originalmente brasileiras, abordadas em montagens como Elis, Tim Maia – Vale tudo, Gonzagão e Cássia Eller, por exemplo, já cumprem um desejo do público de ver retratadas suas figuras, seus heróis e suas questões históricas.

Em Minas Gerais, que recebe com casa lotada musicais vindos principalmente do Rio e de São Paulo, há um caminho a ser percorrido em busca de uma identidade que não seja ela mesma uma cópia da cópia.

Com tradição e respeito adquirido na música brasileira, ainda somos adolescentes tentando produzir musicais que possam ter êxito quando entram em concorrência com o milionário mercado Rio-Sampa.

Grupos como Burlantins e Dos Dez — que nos presenteou recentemente com a montagem de Madame Satã — já realizam trabalhos primorosos, mas ainda sem o retorno financeiro das grandes produções nacionais.

Um musical para Frida Khalo

E em meio a todo o burburinho, estreou em Belo Horizonte o musical infantil A Princesa Frida, de Leo Mendonza, com direção de Poliana Horta e Fernando Bustamante, que há anos vem trazendo aos palcos trabalhos do gênero, como Sítio do Pica-Pau Amarelo, Lampiãozinho e Maria Bonitinha, A Arca de Vinícius e A Pequena Sereia, todos premiados.

Leo Mendonza, autor e compositor, já é figura conhecida e respeitada no teatro mineiro, por sempre trabalhar com rigor em suas trilhas e também por encantar-nos com sua voz. Ao trazer à luz esse novo trabalho, mostra a força de seu lado compositor e dramatúrgico.

O musical A Princesa Frida descreve de forma livre a trajetória da pintora Frida Kahlo fazendo alusão a determinados acontecimentos da vida da artista, que se transforma em um conto de fadas infanto-juvenil.

Essa proposta gera outro olhar sobre fatos como o acidente que marcou seu corpo e sua relação com Diego Rivera, que aqui surge como um muralista, meio rapper, que sai por aí rebeldemente pintando os muros do reino.

Musical infanto-juvenil se inspira na história da pintora mexicana Frida Kahlo - Foto: Divulgação

Musical infanto-juvenil se inspira na história da pintora mexicana Frida Kahlo – Foto: Divulgação

Pontos fortes e desconexão

Há diversos pontos fortes no espetáculo, em que pese a delicadeza e cuidado de Leo Mendonza na arquitetura musical e textual que nos conduz e a voz de Maria Tereza Costa, responsável também pelos momentos de humor, quando as caveiras de Frida ganham corpo e contagiam a plateia com uma canção engraçadíssima.

Há, no entanto, uma desconexão entre o pensamento autoral de Mendonza e a condução da direção, que parece estar bem pouco envolvida com o elenco, e mais preocupada com a estética, com a beleza que a obra de Frida poderia levar aos palcos.

Há que se cuidar da unidade do espetáculo, que começa bem lento e demora muito para engatar. A segunda metade é ágil e bem resolvida.

Cuidados técnicos precisam ser tomados. Microfones na boca de atores novos pode ser muito perigoso, pois explodem as vozes e prejudicam o entendimento das letras. A banda ao vivo, excelente proposta, se sobrepõe, porém, aos atores e incomoda em certos momentos, pelo falta de equilíbrio com o elenco.

Há vida longa para A Princesa Frida, sem sombra de dúvidas. A coragem de abordar essa polêmica figura já vale o ingresso. Quando os detalhes que prejudicaram essa estreia forem alinhavados — e o serão muito rapidamente, com certeza  se abrirá longa estrada para as perninhas cambotas e fascinantes dessa encantadora heroína.

A Princesa Frida * * *
Avaliação: Bom

Léo Kildare Louback - Foto: Paulo Raic/Divulgação

Léo Kildare Louback – Foto: Paulo Raic

*LÉO KILDARE LOUBACK é ator, diretor, dramaturgo e tradutor de alemão radicado em Belo Horizonte, Minas Gerais. É mestrando em Estudos da Tradução pela Universidade Federal de Santa Catarina, especialista em Performance pela Faculdade Angel Viana e licenciado em Português e Alemão pela Universidade Federal de Minas Gerais, com intercâmbio na Universidade de Hamburgo, Alemanha.

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