Crítica: Musical Lisbela e o Prisioneiro conquista com energia e brasilidade

Cena do musical Lisbela e o Prisioneiro, que encerra temporada no Rio - Foto: Divulgação

Cena do musical Lisbela e o Prisioneiro, que encerra temporada no Rio – Foto: Divulgação

Por MIGUEL ARCANJO PRADO

A febre dos musicais montados no Brasil parece estar, cada vez mais, descobrindo que a Broadway não é o único modelo possível. Ainda bem.

Assim como Fernanda Couto fez história com o seu musical bossa-nova Nara, um dos melhores já apresentados no gênero neste século 21, Ligia Paula Machado capitaneia outro musical que tem excesso de brasilidade: Lisbela e o Prisioneiro. Ligia já tem histórico de atenção à cultura nacional nos palcos. Em 2008, montou com sucesso o musical O Primo Basílio.

Mas voltemos a falar de Lisbela. O público brasileiro já conhece a história criada pelo pernambucano Osman Lins no fatídico ano de 1964, sobretudo pelo filme produzido por Paula Lavigne e dirigido por Guel Arraes em 2003, com Débora Falabella e Selton Mello como protagonistas em atuações memoráveis, assim como a de Marco Nanini como o antagonista da história.

Ligia Paula Machado é Lisbela - Foto: Francisco Patrício/Divulgação

Ligia Paula Machado é Lisbela – Foto: Francisco Patrício/Divulgação

O roteiro narra o amor entre a jovem interiorana Lisbela, filha do delegado, com o jovem artista mambembe Leléu. Na trama, o amor é proibido não só pela distância social entre os dois, mas também porque a moça está de casamento marcado com o jovem playboy da cidade, Douglas.

Ligia Paula Machado se juntou a Dan Rosseto para dirigir a transformação da obra em teatro musical (com direito até a um número com patins), que contou com dramaturgia de Francisca Braga.

A própria Ligia vive Lisbela. A atriz empresta seu carisma e beleza à personagem, em uma construção crível, misturando força e fragilidade. Ligia demonstra ter certeza do que faz, sobretudo por também estar na direção. E não titubeia a cada entrada.

Luiz Araújo dá vida a Leléu - Foto: Francisco Patrício/Divulgação

Luiz Araújo dá vida a Leléu – Foto: Francisco Patrício/Divulgação

Luiz Araújo, como Leléu, se destaca. Técnico e preciso, mantém sua atuação em um registro verossímil, mesmo quando está rodeado de histrionismo. E Luiz mantém esta tranquilidade cênica mesmo tendo a fala submetida à brincadeira do sotaque nordestino, que, todos nós sabemos, nunca sai como realmente é e serve mais como uma pilhéria que só faz sentido para o público do Sudeste.

Outro destaque do elenco era Marilice Cosenza, que fazia Inaura na temporada paulistana, vista por este crítico. Na atual temporada no Rio, ela é substituída por Millene Ramalho. Nome já experiente do teatro musical brasileiro e atualmente no elenco de Raia 30 – O Musical, Marilice emprestou seu tempo cômico à personagem que vê Leléu escapar por entre seus dedos para se unir a Lisbela, sua grande rival. É na cena de embate entre as duas na qual Marilice mais cresce, mostrando também conseguir segurar uma cena dramática, e conta em Ligia uma colega capaz de responder o embate à altura.

Marilice Cosenza e Ligia Paula Machado: destaque no embate de atrizes - Foto: Divulgação

Marilice Cosenza e Ligia Paula Machado: destaque no embate de atrizes – Foto: Divulgação

O mundo do circo serve de ambientação para a história, com os acrobatas Roger Pedenzza, Tarik Henrique e Lucas Garavatti segurando a energia em riste. A banda também mostra estar sintonizada com o andamento das cenas no palco. O grupo de músicos é formado por  João Paulo Pardal (guitarra e violão), Renan Cacossi (pífano e flauta), Maristela Silvério (piano), Jonatan Motta (violino), Azael Rodrigues (bateria e percussão), Daniel Warchauer (acordeon), Augusto Brambilla (baixo acústico e elétrico).

Ainda na pegada circense da peça, Ligia se arrisca em um número de corda, numa corajosa tentativa da atriz em se aventurar na estética que propôs como diretora ao lado de Rosseto.

Kleber Montanheiro assina cenário e iluminação e figurinos, porém, se destaca mais nos dois últimos quesitos, mais propositivos e presentes no andamento da história.

Ainda compõem o elenco Beto Marden, Nill de Pádua, Fernando Prata, Dan Rosseto, Jonatan Motta e Milene Vianna.

A única coisa que incomoda em Lisbela e o Prisioneiro é um certo registro de teatro infantil em parte do elenco, que exagera na caricatura, não enxergando que o texto funciona por si só e que qualquer tentativa de sublinhá-lo pode soar demasiadamente forte.

A trilha, escolhida por Francisca Braga, investe em um caminho mais down do cancioneiro nacional, dando ao elenco a obrigação de manter o público em alerta. Talvez, uma dose maior de músicas dançantes (um grande número bem coreografado de baião e forró teria feito bem à peça) houvesse sido um bom estimulante energético.

Mas, isso são apenas observações. Nada que prejudique por completo o objetivo maior do musical Lisbela e o Prisioneiro: divertir sua plateia. E o musical consegue cumprir o que se propõe a fazer. A plateia compra a história, se envolve, vibra. Assim, Lisbela e o Prisioneiro é um espetáculo com nossas cores, com nosso povo; gente simples e envolvente.

Lisbela e o Prisioneiro
Avaliação: Bom * * *
Quando: Sexta e sábado, 21h, domingo, 18h. 105 min. Até 30/8/2015
Onde: Theatro NET Rio (r. Siqueira Campos, 143, sobreloja, Copacabana, Rio, tel. 0/xx/21 2147-8060)
Quanto: R$ 100 e R$ 150
Classificação etária: Livre

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