“Cazuza está colado no artista que procuro ser”, diz cantor Luis Aranha

Cazuza, à esq., e Luis Aranha, à dir.: unidos pela música - Fotos: Divulgação e Diego Ciarlariello

Cazuza, à esq., e Luis Aranha, à dir.: unidos pela música – Fotos: Divulgação e Diego Ciarlariello

Por MIGUEL ARCANJO PRADO

Cazuza, o grande poeta do rock brasileiro que nos deixou 25 anos atrás, será homenageado pelo cantor e compositor paulistano Luis Aranha no show Exagerados!.

A apresentação será no deck do jardim do Sesc Santana (av. Luís Dumont Villares, 579), em São Paulo, no próximo sábado (15), às 19h, com entrada gratuita.

Formado em música pela Unicamp, Luis Aranha sobe ao palco acompanhado por André Bordinhon, na guitarra, Gabriel Cantazaro, no baixo e Marcelo Effori Loco Sosa na bateria.

No intervalo dos ensaios, o músico conversou com exclusividade com o site sobre a apresentação e sua relação com Cazuza e sua obra.

Leia com toda a calma do mundo.

MIGUEL ARCANJO PRADO — Por que você gosta do Cazuza?
LUIS ARANHA — Eu gosto da poesia do Cazuza, porque ela consegue ser extremamente universal ao tratar de questões de forma muito pessoal. É aquela dor ou busca comum que todo mundo que é sensível carrega em silêncio na alma saca….Mas, pra além disso, eu tenho um negócio com a música dele que eu não consigo explicar, que não passa pelo racional e que toda a minha formação acadêmica dentro da música e do teatro não consegue abalar.

MIGUEL ARCANJO PRADO — Como assim?
LUIS ARANHA — Por mais que eu estude, por mais que ouça e goste das coisas novas que aparecem, o som dele me atravessa na hora. Acho que o rock é assim, né?… Acho que ele mescla profundidade e densidade poética (ele lia e ouvia muuuuita coisa fora do rock e do pop) com essa vibe do rock bem feito! Ele está colado no artista que eu procuro ser…

MIGUEL ARCANJO PRADO — O que vai ter no repertório do show Exagerados?
LUIS ARANHA — O show se chama Exagerados, então, é claro que essa não vai faltar. Mas vão ter vários outros clássicos. Codinome Beija-flor, Preciso Dizer que te Amo, Poema, Pro dia nascer feliz … Outras eu ainda estou definindo. Como o show é costurado com fragmentos do Livro do Desassossego, do Fernando Pessoa, eu ainda estou amadurecendo essa relação dramatúrgica entre esses dois gênios. Muita coisa vai ficar de fora porque simplesmente não caberiam nem em dez shows, mas os clássicos estarão lá. Vai ser bem lado A mesmo… [risos]

Luis Aranha faz show grátis cantando Cazuza no Sesc Santana, sábado, 19h - Foto: Divulgação

Luis Aranha faz show grátis cantando Cazuza no Sesc Santana, sábado, 19h – Foto: Divulgação

MIGUEL ARCANJO PRADO — Você acha que faltam mais Cazuzas hoje em dia?
LUIS ARANHA — Não acho que falta, não. Um só tá mais que bom! [risos] A arte tem essa coisa incrível da obra ser única mesmo em tempos de banalização das coisas. É importante se espelhar em exemplos como ele mas acredito que o objetivo nunca pode ser o da cópia. Nesse ponto, eu fico com o Antropofagismo do Oswald de Andrade. A gente digere tudo, o bom e o ruim, e depois gesta uma coisa nova. Acho aliás que esse tempo de gestação da arte tem sido muito sacrificado em função do “hiper-conteudismo” do nosso tempo e daí a gente acaba caindo na banalização que eu tava falando.

MIGUEL ARCANJO PRADO — Cazuza foi um marco de coragem.
LUIS ARANHA — Sim, voltando pro Cazuza acho que, além da obra dele ter coisas absolutamente incríveis, ele deixou, sim, um exemplo de inconformismo e de inadequação aos modelos sociais da época dele, uma chama de querer viver mais intensamente do que a própria vida permite numa época que isso podia ser fatal por causa da Aids. Acho que essa inadequação é fundamental em vários níveis, e não só na arte, pra gente construir uma sociedade mais tolerante com a diferença e mais amadurecida. Antigos padrões e valores precisam sim ser revisitados e mudados. Cazuza, nesse sentido, é um convite a essa visita assim como Fernando Pessoa, afinal “Navegar é preciso, viver…”.

Luis Aranha no palco: ele vai misturar Cazuza e Fernando Pessoa - Foto: Divulgação

Luis Aranha no palco: ele vai misturar Cazuza e Fernando Pessoa – Foto: Divulgação

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