Crítica: Butusov liberta A Gaivota para voar com o público

Poética e técnica: cena da peça russa A Gaivota, que abriu a 2ª MITsp: veja galeria– Foto: João Valério

Por MIGUEL ARCANJO PRADO

Remontar um clássico requer coragem e, sobretudo, autenticidade. Para mais do mesmo, é melhor a lembrança e os registros do já feito. E o diretor russo Yuri Butusov demonstra saber disso muito bem com seu olhar contemporâneo para sua encenação de A Gaivota, escrita por Anton Tchekhov (1860-1904).

A obra foi a escolhida para abrir a programação da 2ª MITsp (Mostra Internacional de Teatro de São Paulo). É preciso saudar aos diretores do evento, Antonio Araújo e Guilherme Marques, pela eleição assertiva. Afinal, nada seria mais apropriado do que a obra criada por Butusov e o Teatro Satirikon para a abertura de um festival internacional tão significativo, como vem se tornando a MITsp.

Escrita em 1895 como uma comédia e encenada pela primeira vez em 1896, em Moscou, com vaias e fracasso, A Gaivota só alcançou o sucesso dois anos depois, em 1898, na montagem de Constantin Stanislavski (1863-1938). Na obra, o teatro é o meio e o veículo do enredo, autorreferenciando-se por meio do metateatro.

A encenação russa é repleta de referências ao próprio fazer teatral – Foto: João Valério

A proposta estética de Butusov está dentro das bases que norteiam o teatro pós-moderno. O diretor encena um olhar contemporâneo ao nosso contexto social (do século 21). Ele materializa o texto clássico por meio de recursos potentes que ironizam a própria obra.

O diretor propõe um encontro com o público, convidando-o a participar, co-criando nas lacunas propositais com os diversos enunciadores do discurso que aparecem simultaneamente na peça.

Obra de Butusov faz conversa de formas – Foto: João Valério

Revelar os recursos com os quais são criadas cenas é a base da versão de Butusov; encena-se o processo e é a partir daí que se revelam as diferentes camadas do metateatro. Há diálogo constante, por meio de referentes de outras expressões artísticas, como a música, a dança e as artes plásticas.

A obra é uma colocação política do diretor cujo resultado se dá na experiência do espectador e não em uma forma. Evidencia-se a qualificação técnica do elenco, revelando destrezas performáticas, tal qual o diretor, presente no palco ao fim de cada ato, deixando-se afetar pela sonoplastia.

Dividida em quatro atos, somando quase cinco horas de espetáculo, a peça desperta interesse a cada minuto. O estado de presença (no presente) dos atores (vivos) convida o público a jogar o jogo proposto, levando-o a um estado lúdico, repleto de prazer criativo e autonomia, a partir de referências pessoais. Butusov liberta A Gaivota para voar com o público.

E é nesta conversa de formas que o diretor apresenta sua extraordinária (que foge dos padrões comuns) versão de A Gaivota. Afinal, como diz o próprio Tchekhov no texto encenado: “Precisamos de novas formas. Formas novas são indispensáveis e, se não existirem, então, é melhor que não haja nada”.

A Gaivota (direção Yuri Butusov)
Avaliação: Ótimo

A Gaivota dialoga com expressões artísticas como música, dança e artes plásticas – Foto: João Valério; veja galeria

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1 Resultado

  1. Phillipe disse:

    Cotação Ótimo? Então essa peça é imperdível e as pessoas devem ir voando para lá, que A GAIVOTA deve ser uma maratona dramatúrgica.

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