Crítica: Animais de Hábitos Noturnos mostra crueza do fracasso
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
Nem sempre os sonhos que temos para nós condizem com a realidade. E a não realização da expectativa sempre gera angústia e frustração. Estes sentimentos estão presentes na peça Animais de Hábitos Noturnos.
A obra tem texto e direção de Robson Phoenix, que se baseou na obra do gaúcho Caio Fernando Abreu (1948-1996) — autor que soube como poucos dissecar o vazio da solidão na urbanidade.
No desfile de seres desiludidos, o clima soturno impera na obra, seja na escolha estética, casada com a própria temática, seja no caminho denso de atuação escolhido pela maioria do elenco, formado por André Fusko, Rodrigo Caetano, Wanessa Morgado e Einat Falbel.
Mas é esta última, ao propor um olhar irônico para o texto, que torna-se o destaque. Einat tem tempo preciso de fala e respiração que enchem de sentido, verdade e ironia qualquer coisa que diga. Assim, suas aparições são altamente interessantes e indispensáveis à obra.
André Fusko consegue se sobressair no monólogo no qual faz um homem abandonado, em uma atuação minimalista e convincente. Faz a gente lembrar de como é dura a fossa. Porque, mesmo sem querer, a gente acaba conhecendo algum dia o outro lado do amor.
Se o tema da peça vai ao encontro de muitos espectadores, sobretudo por ser apresentada na praça Roosevelt, cenário onde os personagens poderiam facilmente perambular, o excesso narrativo e as reiterações acabam tirando ritmo da obra. Um pouco de ação teria atenuado a sensação.
De todo modo, Animais de Hábitos Noturnos consegue construir sem julgamentos a dureza do fracasso e encontra no palco do Parlapatões, uma sala de teatro ao fundo de um movimentado bar, seu lugar ideal de diálogo artístico.
Animais de Hábitos Noturnos
Avaliação: Bom
Quando: Quinta e sexta, 21h. 80 min. Até 27/2/2015.
Onde: Espaço dos Parlapatões (praça Roosevelt, 158, metrô República, São Paulo, tel. 0/xx/11 3258-4449)
Quanto: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada)
Classificação etária: 18 anos
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Nada é mais verdadeiro do que a frase que abre a crítica: “Nem sempre os sonhos que temos para nós condizem com a realidade.”.