MITsp cobra ingresso depois de prometer gratuidade; diretor explica o porquê da mudança

Cena da peça Canção de Muito Longe, da Holanda, do diretor Ivo van Hove; obra tem estreia mundial na MITsp, que coproduziu a peça – Foto: Jan Versweyveld

Por MIGUEL ARCANJO PRADO

“A MITsp vai continuar no ano que vem. E gratuita. A segunda edição será de 6 a 15 de março de 2015 e terá uma novidade: a única atividade que vamos cobrar ingresso vai ser o Cabaré”. Esta é a declaração de Guilherme Marques, diretor da MITsp (Mostra Internacional de Teatro de São Paulo), na Entrevista de Quinta publicada neste blog em 12 de junho de 2014.

O executivo do teatro se referia à edição de 2015, segunda da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, que será realizada entre 6 e 15 de março, com peças da Rússia, Suíça, Alemanha, Inglaterra, Ucrânia, Holanda, Itália, Israel e Brasil. Contudo, houve uma mudança importante na declaração dele: o festival agora cobra entrada na maioria de seus espetáculos — R$ 20 a inteira e R$ 10 a meia-entrada, à venda desde o último dia 5.

A cobrança de ingresso vem no momento em que o festival aumentou seu orçamento de R$ 2,8 milhões em 2014 para R$ 3,2 milhões em 2015. O festival conseguiu neste ano um grande patrocinador: o Itaú Unibanco. Além disso, tem correalização de Sesc em São Paulo e de dois órgãos públicos, a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo e a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

A MITsp ainda conta com dinheiro público vindo das Leis Estadual e Federal de Cultura e do Fundo Nacional de Cultural. Até ano passado, a direção da MITsp pensava que, justamente por contar com verbas do Estado, seria ético não cobrar ingresso do público.

Fato é que o sucesso da primeira edição se deu justamente pela junção de uma programação de alta qualidade internacional à gratuidade, o que gerou filas gigantescas em todas as apresentações. Setores da classe teatral louvaram o fato de a população fazer filas para ver teatro. Outra parte da mesma classe, criticou a gratuidade, que em sua visão gerava filas demoradas.

O Atores & Bastidores do R7 quis saber do diretor do evento, Guilherme Marques, o porquê da mudança de sua opinião sobre a gratuidade na entrada da MITsp. Ele concedeu a entrevista exclusiva abaixo:

Guilherme Marques, diretor da MITsp, que passou a cobrar ingresso no festival: “Houve muita reclamação, muita mesmo, de gente que não podia passar tarde inteira na fila” – Foto: Bob Sousa

MIGUEL ARCANJO PRADO — Por que garantiu que a segunda edição da MITsp seria gratuita e agora há cobrança de ingresso? Por que voltou atrás?
GUILHERME MARQUES — Naquele momento, em 2014, era um desejo – não uma garantia – muito forte nosso, da equipe da MITsp, que a Mostra continuasse gratuita, porque pudemos ver o interesse enorme da população pelo tipo de programação que propusemos. Foi arrebatador ver aquelas filas em torno de espetáculos de diretores que nunca haviam estado no Brasil. Entretanto, houve muita reclamação, muita mesmo, de gente que não podia passar uma tarde inteira na fila, esperar 4 ou 5 horas pelo ingresso. E outra reclamação foi a de que não conseguíamos garantir entrada para gente de fora do Estado de São Paulo, nem do Brasil, porque como a pessoa sairia de seu Estado sem saber se entraria nos espetáculos? Então, decidimos cobrar ingressos populares (20 e 10 reais) o que permitiria acesso a todos, gente de São Paulo e de fora. Porém , é importante lembrar que dois espetáculos da mostra (Arquivo e As Irmãs Macaluso) farão sete sessões totalmente gratuitas à população. Todas as atividades reflexivas (Olhares Críticos, Encontros Formativos e Reflexões Estético-Políticas) são totalmente gratuitas.

MIGUEL ARCANJO PRADO – Qual o valor total do orçamento da segunda edição da MITsp? Qual foi o valor total do orçamento da primeira edição da MITsp? Se ele cresceu, por que cobrar ingresso agora?
GUILHERME MARQUES — O valor da MITsp em 2014 foi de 2.850.000,00 (dois milhões, oitocentos e cinquenta mil reais), o valor total da MITsp em 2015 é 3.279.872,00 (três milhões, duzentos e setenta e nove mil, oitocentos e setenta e dois reais). O que determinou a cobrança de ingressos não foi o valor que pode vir a ser arrecadado pela bilheteria, mas sim o acesso maior a pessoas do País inteiro.

MIGUEL ARCANJO PRADO — Qual o montante de verba pública dentro deste orçamento (nas duas edições)?
GUILHERME MARQUES — Em 2015, 70% são de recursos públicos (via Proac e Pronac) e 30% de serviços e permutas. Em 2014, 100% foi de recurso público, via Pronac e Proac.

MIGUEL ARCANJO PRADO —  As verbas provêm de quais órgãos/recursos públicos?
GUILHERME MARQUES — Pronac/IR, Proac/ICMS e recurso direto do Município de São Paulo, via Secretaria Municipal de Cultura.

MIGUEL ARCANJO PRADO — As grandes filas de 2014 na MITsp foram encaradas como um problema pelo festival? Por quê?
GUILHERME MARQUES — As filas foram ao mesmo tempo uma satisfação e uma dor de cabeça. Explico. Era a primeira edição de uma mostra que não sabíamos o que poderia dar, se atingiria o público que queríamos, então, em um primeiro momento, ver a fila nos dava a certeza que o caminho era esse. Ao mesmo tempo, se víamos que uma parte da população poderia estar ali naquela fila, uma outra parte, também significativa, não poderia, pelos motivos acima apresentados. E as reclamações, todas justíssimas, nos fizeram rever o esquema dos ingressos. Para tanto, um fator primordial foi estabelecer como critério nessa mudança, o valor de ingresso a preço popular (10 e 20 reais).

Woyzeck, dirigido por Andriy Zholdak, representa a Ucrânia na MITsp 2015 – Foto: Vladimir Lupovskoy

MIGUEL ARCANJO PRADO — O fato de o evento cobrar ingresso em sua segunda edição não o torna menos inclusivo do que foi em sua primeira edição, quando foi gratuito? Por quê?
GUILHERME MARQUES — Se considerarmos que agora, em 2015, existem pessoas de Pará, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais, enfim, de vários estados brasileiros se organizando para vir a MITsp, com os ingressos comprados, na mão, e que em 2014 não havia essa possibilidade, desse ponto de vista achamos que houve inclusão de uma parcela de pessoas interessadas em teatro, não necessariamente de São Paulo, que pode agora ter acesso ao evento. Além disso, o fato de trabalharmos com ingressos populares garante a continuidade de um acesso mais democrático.

MIGUEL ARCANJO PRADO — A venda de ingressos de forma antecipada não pode tornar a MITsp um festival voltado mais para a classe artística? Não se corre o risco de que quando o grande público souber do evento não haja mais ingressos à venda? Por quê?
GUILHERME MARQUES — Anunciamos a data dessa MITsp quando terminamos a edição de 2014. Estamos falando publicamente sobre a programação dessa Mostra desde dezembro de 2014, quando divulgamos os espetáculos que viriam. E, desde então, a grande imprensa tem noticiado o evento, portanto, acreditamos que, como em qualquer evento artístico, as pessoas podem se programar para conseguir o ingresso.

MIGUEL ARCANJO PRADO — O dinheiro público investindo no evento não deveria garantir uma maior democratização do mesmo, com a gratuidade dos ingressos? Por quê?
GUILHERME MARQUES — Justamente. O dinheiro público é o que garantiu o acesso a espetáculos gratuitos e a preços populares e a todas as ações reflexivas (mesas redondas, debates e conferências, além de outras ações reflexivas) gratuitas, além de uma série de workshops e aulas, também gratuitos.

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1 Resultado

  1. marco disse:

    A venda de ingressos de forma antecipada não pode tornar a MITsp um festival voltado mais para a classe artística? Não se corre o risco de que quando o grande público souber do evento não haja mais ingressos à venda? Dito e feito, me programei com antecedência para comprar os ingressos, mas, como sempre acontece no Sesc, parece que se esgotam, misteriosamente, em segundos, e, claro, sem levar em conta o número considerável de ingressos que o Sesc sempre reserva para convidados, consegui comprar para Senhorita Júlia e Canção de Muito Longe, Ano passado fiquei na fila um tempão, mas, consegui ver tudo que queria, se você receber convites para assistir os espetáculos do Sesc Consolação, pode me convidar para ir junto.

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