Zé Celso é chamado para depor no Fórum Criminal; diretor ataca marcha a favor da ditadura militar

Zé Celso terá de depor no Fórum Criminal da Barra Funda, em SP – Foto: Julia Chequer/Arquivo R7-7/4/2010

Por MIGUEL ARCANJO PRADO

Nesta quarta (5), José Celso Martinez Corrêa, o  Zé Celso, 77 anos, terá de depor, às 14h, no Juizado Especial Criminal do Foro Central Criminal Barra Funda, em São Paulo, onde tem audiência preliminar do processo 0056740-71.2013.8.26.0050, no caso movido por um promotor da Justiça Pública.

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A Associação Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona, da qual Zé Celso é diretor, é acusada de “crime contra a paz pública”. Tudo porque Zé Celso e seus artistas encenaram uma adaptação de uma cena do musical Acordes em 2012, no campus da PUC-SP.

A encenação pública do texto inspirado em Bertolt Brecht foi realizada em novembro de 2012 a convite dos estudantes em protesto contra a posse de Anna Maria Marques Cintra, que havia ficado em terceiro lugar na eleição para o cargo de reitor da instituição.

Os artistas da companhia farão um ato pela paz em frente ao Fórum no horário do depoimento.

Em texto publicado em seu blog quando a ação foi movida, Zé Celso definiu sua convocação pela Justiça de “um ato contra a liberdade de expressão”.

— Querer incriminar os artistas de teatro por esta cena é um atentado à liberdade de expressão do ator.

Assombro

O diretor vê com assombro o crescente conservadorismo no País. Ele e seus artistas também ficaram assustados com a passeata na avenida Paulista que pediu a intervenção militar no País no último sábado (1º).

Sempre antenado com seu tempo, a marcha da extrema direita estará no palco do Oficina no próximo fim de semana, quando o grupo encerra o Festival das Cacildas, com entrada gratuita. O depoimento desta quarta (5) também deverá entrar na obra.

Vítima da ditadura

O Teat(r)o Oficina foi uma das grandes vítimas da ditadura civil-militar que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985.

Zé Celso, no dia em que recebeu o pedido de desculpas de representates do governo federal por ter sido torturado durante a ditadura militar, em 2010 – Foto: Julia Chequer/Arquivo R7/7-4-2010

Durante os anos de chumbo, os atores do grupo foram violentamente agredidos, e Zé Celso precisou partir para o exílio na década de 1970, após ser preso e torturado.

Mas ele e seu Oficina sobreviveram ao horror e estão aí para confrontar com arte o rompante antidemocrático da extrema direita brasileira.

Cenas reais

Zé Celso colocou no palco cenas reais dos golpistas em marcha pela Paulista, com suas vestimentas ufanistas em verde e amarelo e até discurso do cantor Lobão.

O ator Beto Mettig conta ao R7 que imagens reais passarão nos telões do Oficina.

— Tanto Cacilda!!!!! quanto Walmor y Cacilda são montagens vivas. A cada semana elas refletem o que os artistas vivem e o que o próprio País está passando, tanto no texto quanto nas interações que o espetáculo tem.

Só mais duas sessões

Serão apenas duas sessões: uma apresentação de Cacilda!!!!! A Rainha Decapitada, no sábado (8), 19h, e de Walmor y Cacilda 64 – Robogolpe, no domingo (9), 19h. Ambas com legendas em inglês.

Cerca de 60 artistas desfilam pela passarela-palco do Oficina nas duas montagens, agora, mais politizadas do que nunca.

Cacilda!!!!! descortina o embate entre Cacilda Becker e Tônia Carrero, mostrando o fim de uma era do teatro nacional, marcada pelas produções luxuosas do TBC, o Teatro Brasileiro de Comédia.

Walmor y Cacilda é um espetáculo-manifesto de Zé Celso sobre os horrores praticados pelo golpe civil-militar de 1964, sobretudo no mundo artístico.

Festival e dezembro pulsante

Ainda neste mês, o grupo se apresentará com Walmor y Cacilda no Fentepp (Festival Nacional de Teatro de Presidente Prudente), que acontece entre 22 e 29 de novembro.

Em dezembro, o Oficina fará outra maratona: apresenta cinco espetáculos da série Cacilda um após o outro, entre 12 e 23 de dezembro. Antes, fará a Lavagem do Bixiga, no dia 2 de dezembro, e no dia 5 de dezembro uma concorrida festa em homenagem a Lina Bo Bardi.

Zé Celso e sua aguerrida turma não param. Ainda bem.

A atriz Juliane Elting em cena de Walmor y Cacilda 64: Robogolpe – Foto: Gal Oppido

Festival das Cacildas
Quando: sábado (8) e domingo (9), às 19h
Onde: Teat(r)o Oficina (r. Jaceguai, 520, Bixiga, São Paulo, tel. 0/xx/11 3106-2818)
Quanto: R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia-entrada) e R$ 5 (moradores do Bixiga)
Classificação etária: 14 anos

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5 Resultados

  1. Maria Eugênia Milet disse:

    Zé Celso é mestre, homem público como poucos dedicado ao Brasil! Respeitem o Zé e sua poesia-lida de cada dia, Uzina de Zés e Marias, nele, em nós vivos em sorrisos, respeitem nosso país! Axé, Zé!

  2. zelio alves pinto disse:

    A denuncia contra o Zé Celso é mais um episódio da burrice institucionalizada que sempre assola nossa gente e nossos gerentes. Por um lado é uma injustiça do mal e por outro é uma injustiça do bem, pois trás lux pra uma amostragem da truculência da extrema direita que nos sitia, dia-a-dia.

  3. Felipe Pires disse:

    esse país está cada dia mais careta, hipócrita e triste de se viver, com tanta gente babaca e sem opinião própria, zé celso deveria ser aclamado como guerreiro, pensador e realizador do novo. fez e continua a fazer muito pela cultura do nosso país. seu jeito original, debochado e inteligente de fazer as coisas, teria que ser motivo do povo para se orgulhar muito dele.

  4. Paulo Barja disse:

    Zé Celso, gênio, samurai do teatro, guerreiro do afeto: obrigado por existir!

  5. Antonio disse:

    São Paulo só afunda mais…

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