Crítica: Satyros se reencontra em Não Fornicarás

Como nos velhos tempos: Satyros volta a ser ousado e debochado em Não Fornicarás – Foto: André Stéfano

Por MIGUEL ARCANJO PRADO

Uma forma inimaginável de dublagem da delicada canção Codinome Beija-Flor, de Cazuza, surge diante dos olhos do público da peça Não Fornicarás, em performance do ator Ivam Cabral. A entrega é desmedida e digna de respeito.

Diante do impacto, o espectador costumeiro do grupo Os Satyros se satisfaz em reencontrar aquela velha conhecida ousadia que se mistura à própria história da trupe e que andava um pouco sumida ultimamente. Em Não Fornicarás, vemos o Satyros dos velhos tempos.

A montagem, dirigida por Rodolfo García Vázquez, faz parte do pacote comemorativo dos 25 anos da trupe da praça Roosevelt no projeto E Se Fez a Humanidade Ciborgue em 7 Dias. Em pauta, as relações do homem com a tecnologia.

Em Não Fornicarás, o texto-provocação da colunista do R7 Rosana Hermann serve de base para explicitar como o homem não detém seus impulsos sexuais primitivos diante da máquina. Muito pelo contrário, a utiliza como forma de obter prazeres inconfessáveis.

A encenação de Vázquez abusa de recursos simples, porém eficientes, para criar o clima no qual o pecado mora ao lado. Ou, melhor, bem próximo, a um clique.

Acima, Robson Catalunha brinca com a boneca inflável; abaixo, Julia Bobrow discute a perda da inocência e o abuso tecnológico – Foto: André Stéfano

Cheio de libido, o elenco está comprometido com o discurso da obra e leva o público o tempo todo à atmosfera proibida que a peça revela.

O horário da meia-noite, no qual o R7 viu a montagem, talvez fosse mais apropriado, já que ajudava a entrar no clima — agora, a peça está no horário carola de domingo, às 19h, mas nada que a prejudique.

O ator Robson Catalunha é uma espécie de mestre de cerimônias, papel em que sempre se sai muito bem. Conversa com a plateia e conduz as cenas. Aos atores Fabio Penna e Julia Bobrow cabem viver as situações dramáticas apresentadas, como a da garotinha púbere que se vê conectada com um pedófilo.

É impressionante ver a mesma Bobrow que encarna a lascívia na cena da abertura, usando apenas sua voz, logo depois virar o retrato da inocência prestes a ser desmantelada.

Pablo Benitez Tiscornia e Giovanna Romanelli, desnudos, são uma espécie de Adão e Eva dos novos tempos tecnológicos, expondo seus corpos sem pudor aos olhares devoradores por todos os lados.

Completa o elenco o casal Marcelo Thomaz e Nina Nóbile. Ambos intensos sob a segunda pele de zebra e responsáveis pela cena que fez a fama da peça antes mesmo de sua estreia: o tal do sexo explícito transmitido pela internet para todo o mundo em tempo real. Esta crítica prefere não se ater aqui a detalhes sensacionalistas, mas dizer a quem morre de curiosidade para saber o que realmente se passa: vá ver a peça.

No dia em que o R7 assistiu à montagem, completaram o elenco Ivam Cabral, com sua perfomance de impacto já mencionada, e Henrique Mello, aniversariante do dia que entrou em cena para ganhar os parabéns — que público e elenco cantaram de bom grado no meio do espetáculo (nada mais Satyros).

E são coisas simples assim, sem pompas ou medos, que fazem da peça um reencontro do grupo consigo mesmo. Em Não Fornicarás, o Satyros lida muito bem com um tema que lhe é velho conhecido: o sexo, ainda visto por muitos como tabu.

Em uma encenação pulsante, volta a dialogar com seu público primeiro, aquele que lotava todas as sessões da Trilogia Libertina do Marquês de Sade, formado por jovens de todas as idades perdidos pela praça Roosevelt. Gente que encontra no palco do Satyros um sentido para o absurdo da repressão e da hipocrisia que rodeia a vida contemporânea.

Em Não Fornicarás, o Satyros volta para os braços do underground. É debochado, atrevido, contestador. É, sobretudo, jovem. É Satyros. Nem que por apenas mais uma sessão cheia de verdade artística.

Não Fornicarás
Avaliação: Muito bom
Quando: Domingo, 19h. 50 min. Até 28/9/2014
Onde: Espaço dos Satyros Um (praça Roosevelt, 214, metrô República, São Paulo, tel. 0/xx/11 3258-6345)
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada)
Classificação etária: 18 anos

Cena de Não Fornicarás: Satyros volta a tocar em tema que domina: sexo tabu – Foto: André Stéfano

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1 Resultado

  1. Phillipe disse:

    Realmente não é o tipo de teatro que me atrai.

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