Gil cria realidade paralela ao reencontrar João

Gilberto Gil toca sambas consagrados por João Gilberto no Theatro NET São Paulo – Foto: Bob Sousa

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
Foto BOB SOUSA

A lágrima clara sobre a pele escura de Gilberto Gil, no meio do show, faz lembrar muita coisa. Comove. Mexe com a gente.

Ele inaugurou o Theatro NET São Paulo neste fim de semana com o show de seu novo disco, Gilbertos Samba.

O álbum é uma volta ao começo, homenagem explícita a João Gilberto e seu violão.

Gil surge em palco enxuto, acompanhado de seu filho Bem Gil, de Domenico Lancelotti e Maestrinho, em sintonia fina.

Tudo começa com Aos Pés da Cruz, seguida de Você e Eu. A serenidade da bossa nova invade tudo e tira o ritmo frenético da metrópole. A gente embarca na doce viagem de Gil.

Ele diz que estar em São Paulo é uma satisfação e conta que o disco nasceu “das coisas naturais e fantasias da cabeça do artista”.

Foi em pleno deserto australiano que ele pegou o violão e as músicas de João foram surgindo, naturalmente, começando pela Aos Pés da Cruz. “Aí veio Doralice, O Pato… E me dei conta que era o disco de sambas do João Gilberto que estava vindo”. Gilbertos Samba, uma mistura dos dois.

Gil revela que fez nova música para o Rio, trilha do filme Rio, Eu te Amo. A cidade já ganhou a emblemática Aquele Abraço, quando ele partiu para o exílio em Londres mais de 40 anos atrás, deixando amargura no sorriso de quem ficou.

Explica o novo refrão, uma brincadeira com as palavras “choro e rio”. O público aprende rápido, e Gil comemora: “O Brasil tem essas coisas incríveis: São Paulo cantando para o Rio”.

Gil grita “Ajayô”. A banda responde, prontamente, “ê”. Os Filhos de Gandhy se fazem presentes num átimo de segundo antes de Doralice. “Cantar na atmosfera do João é tudo de bom”, pondera o cantor.

Diz que João abriu portas. “O João facilitou a vida da gente, prestou esse serviço a todos nós, cantar com nossas vozes, do nosso jeito”.

Conta que decidiu deixar um pouco o acordeom de lado e se aventurar no violão quando ouviu Chega de Saudade tocada e cantada por João na emblemática gravação de 1958. E lembra que não foi só ele: “Eu, Milton, Chico, Caetano, Edu… Todos nós fomos tocar violão por causa do João. Até rima [risos]”.

Gil se atreveu a colocar letra em Um Abraço no Bonfá, de João, durante uma viagem à Tunísia. Depois, para que houvesse reflexo no espelho musical criado por ele, compôs também, em Itajubá, Minas Gerais, Um Abraço no João, sem palavras.

Canta Ladeira da Preguiça e explica o porquê: “É uma forma de lembrar dela, a Pimentinha, que gravou essa canção”, referindo-se à amiga Elis Regina que o lançou para todo o Brasil. Curiosamente, é a voz dela que recebe o público antes de o show começar.

As coisas caminham para o fim, quando Gil anuncia: “Este samba vai para Dorival Caymmi, João Gilberto e Caetano Veloso”. A plateia delira e sucumbe à música. E ele vai mandando Aquele Abraço. O aplauso é forte. Gil sai do palco e fica difícil viver sem a realidade paralela criada por ele. E João.

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