Entrevista de Quinta: “Vendemos mais ingresso que o Rock in Rio”, diz Leandro Knopfholz, diretor do Festival de Teatro de Curitiba

Leandro Knopfholz, diretor do Festival de Teatro de Curitiba: mesmo sem Metallica na programação, ele tem mais público que o Rock in Rio: tem 220 mil contra 80 mil do concorrente musical – Foto: Daniel Sorrentino/Clix

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
Fotos de DANIEL SORRENTINO/Clix

Há 23 anos, esta época do ano é tempo de ver o teatro se espalhar por todas os cantos da capital paranaense no Festival de Teatro de Curitiba. O evento começou no último dia 25 e vai até 6 de abril com mais de 450 espetáculos, dos quais 66 têm entrada gratuita. E quem está à frente de tudo é o curitibano Leandro Knopfholz.

Na última terça (25), o empresário se viu diante de uma situação delicada. Um acidente, o primeiro grave em 23 anos de evento, marcou a festa de abertura no Expo Renault Barigui, quando uma peça de isopor da decoração caiu na cabeça do ator gaúcho Fagner Zadra, de 30 anos, que segue internado em um hospital paranaense. Leandro, que é amigo do artista ferido, acompanha de perto o caso, além de ter se responsabilizado por toda a assistência médica ao jovem. Após o ocorrido, definiu seu estado ao R7 como “Triste, muito triste”.

Apesar da tristeza em seu início, o festival segue no ritmo de sua programação vertiginosa. Leandro comanda um contingente de mais de 500 postos de trabalho diretos, além dos mais de 1.000 indiretos que o evento gera. Só para se ter uma ideia da quantidade de gente envolvida, neste ano são 216 profissionais envolvidos com cenários, 65 maquinistas, 15 camareiras, 12 motoristas, 60 técnicos de luz, 40 técnicos de som, 68 produtores, 22 fotógrafos, 30 montadores e mais de 60 jornalistas vindos dos quatro cantos do País.

Apesar de ter transformado o teatro em sucesso comercial e de público: o Festival de Teatro de Curitiba tem orçamento de R$ 6,5 milhões e público de 220 mil pessoas, Leandro Knopfholz também já se acostumou a ouvir críticas. Mas, diante delas, não se fecha. Diz que está aberto a quem quiser procurá-lo.

Nesta exclusiva Entrevista de Quinta ao Atores & Bastidores do R7, concedida antes da abertura do festival, ele dá detalhes de bastidores do principal evento das artes cênicas no Brasil e também comemora ter público maior do que o Rock in Rio, que vende 80 mil ingressos. Leandro faz questão de reforçar que isso se dá sem ter a banda Metallica entre suas atrações; o que ele tem a oferecer são espetáculos teatrais.

Leia com toda a calma do mundo.

Miguel Arcanjo Prado — Esta 23ª edição do Festival de Teatro de Curitiba está com 450 espetáculos e é a maior de todas. Como consegue crescer tanto?
Leandro Knopfholz — É que tudo cresce. A cidade de Curitiba cresceu e o teatro brasileiro também. Temos apenas de nos adequar. O festival tem uma característica que é descobrir e reinventar novas salas para a cidade. Nossa premissa é essa. No Fringe [a mostra paralela] garantimos espaço para todos que quiserem vir. Nossa regra é essa. A gente busca sala de teatro até em colégios antigos e salões paroquiais.

Qual característica você tem para fazer o festival dar certo há tanto tempo?
Eu estava pensando nisso esses dias. O festival me deu habilidade de relacionamento com as pessoas. Estamos suscetíveis a uma serie de situações que transcendem o evento. A gente trabalha com uma característica diferente: porque é gente para todos os lados. Não é uma fábrica com produto. Convivemos com muitas variáveis. Acho que uma característica que desenvolvi foi entender os tempos e os momentos de cada um. Porque o ego sempre está presente nas negociações. E precisamos conciliar tudo isso com nossa limitação logística, técnica e financeira.

Por que este ano o Festival não investiu em coproduções como no ano passado?
Em 2013, tínhamos uma situação diferente, com outros envolvidos. Estabelecemos parcerias como com o Sesc São Paulo e o Itaú Cultural. Agora, sozinho fica mais complicado produzir. Mas a gente não abandonou totalmente a produção. Para viabilizar a vinda de 2 x Matei estamos construindo o cenário aqui. Quem Tem Medo de Virginia Woolf? também estamos construindo o cenário, assim como o do The Rape of Lucrece e Sonata de Outono. O que abrimos mão neste ano foi pegar uma ideia do zero e transformar em um espetáculo, porque isso não depende só da gente.

Por que o Festival de Teatro de Curitiba é tão popular quando comparado aos outros festivais?
Não temos a pretensão de sermos o melhor. Mas temos três pessoas que assistem teatro no Brasil e no mundo o ano inteiro. Queremos fazer um recorte da produção nacional e internacional, dando prioridade sempre a companhias estáveis do teatro brasileiro e prestando atenção aos novos dramaturgos da cena contemporânea. Neste ano, temos um viés de histórias pessoais que viraram dramaturgia, como em BRTrans e Se Fosse Fácil Não Teria Graça. Também gostamos de peças que incorporam tecnologia à cena. Tentamos trazer representantes de tudo que vimos. Isso não quer dizer que trazemos os melhores. Trazemos aqueles que conversam com nosso discurso curatorial. Não somos melhores do que ninguém, só queremos fazer o nosso.

A Nany People apresentava há dez anos o Risorama, que é o maior sucesso de público do festival com suas noites de stand-up. Por que ela deixou o evento neste ano?
Aconteceu porque não chegamos a um acordo comercial que agradasse a ambas as partes. A Nany é madrinha do Risorama, começou na primeira edição. Isso ninguém vai mudar. Ela faz parte da história do evento. Ela continua super bem-vinda. Como não fechamos com ela, estamos com o Marcio Ballas de mestre de cerimônias neste ano. Teve um ano em que a Nany precisou faltar alguns dias e substituímos pela Dani Calabresa. A falta da Nany é uma perda enorme. Ela tem espaço para voltar quando quiser. Inclusive a chamamos para vir nem que fosse um dia, mas ela preferiu não. Quem sabe no próximo ano ela está de volta?

O empresário curitibano Leandro Knopfholz transformou o teatro em um grande negócio e administra orçamento de R$ 6,5 milhões no Festival de Teatro de Curitiba: “Passo o fim de semana buscando promoção de passagem aérea barata na internet” – Foto: Daniel Sorrentino/Clix

Por que tanta gente fala mal do Festival de Teatro de Curitiba? É inveja?
Sinceramente, não sei porque falam mal. O que a gente pretende é ser aberto a todo mundo e coerente com nossa proposta. Conversando muito com nosso público. Chamar a gente de comercial ou entretenimento para mim é elogio, não é ofensa. Temos 200 mil lugares para vender. O Rock in Rio tinha 80 mil entradas, mas tinha o Metallica de atração e é um evento casado com uma grande emissora. Nós, não. Somos independentes e fazemos teatro. E mesmo assim vendemos mais ingresso que o Rock in Rio. Se tem gente que acha que nos tachando de comerciais faz insulto, está nos fazendo um grande elogio na verdade.

O que o evento tem de bom e de ruim?
Em relação a organização, temos evoluído em todos os sentidos. Questões técnicas é difícil reclamarem. Somos conhecidos por entregar bastante as necessidades técnicas, mas existe uma reclamação do Fringe, que ele é grande e não dá apoio. Que no Fringe é cada um por si, mas essa é a proposta. A gente quer continuar crescendo. Existe gente mais acomodada, acostumado a outro modelo. Eu acho que as pessoas têm o direito e muitas vezes tem razão de criticar, não tenho pretensão de ser perfeito. Pretendo usar as críticas para melhorar cada edição. Gosto que a critica seja feita direta à gente. Eu sou um cara acessível. Ninguém precisa falar pelas costas. Se alguém tem um incômodo, pode me ligar que eu vou escutar. Estou aberto a entender as reclamações e tentar ajeitar tudo.

Chegou a circular o boato de que você sairia do Festival de Teatro de Curitiba e alguém de sua família assumiria. Isso é verdade?
Teve esse boato? Isso não é verdade. Não procede. O que eu adoraria é que, cada vez mais, o festival fosse menos personificado em mim e que, cada vez mais, pudesse ter profissionais dedicados ao evento trabalhando nele. Tenho esse plano de tentar achar mais gente que possa assumir situações. Só que estes gestores precisam ter características específicas.

[interrompendo] Que só tem quem faz o festival há 23 anos…
Pois é… Mas, a ideia ainda é trazer pessoas para fazer comigo. Mas eu te garanto, Miguel, que num prazo dos próximos três ou quatro anos eu não me vejo fora do Festival de Teatro de Curitiba.

Qual o orçamento do Festival de Curitiba?
Ele está orçado em R$ 6,5 milhões em gasto financeiro. Só que as coisas ficariam na realidade bem mais caras se não houvesse uma boa gestão. Contamos com permutas e negociações comerciais. Passo o fim de semana buscando promoção de passagem aérea na internet. Se não fossem coisas assim, o orçamento seria o dobro.

Qual a importância do curitibano para o sucesso do Festival?
O curitibano se acostumou bastante com o teatro e com o Festival. Hoje, em termos de produção teatral, Curitiba só perde para São Paulo e Rio. Só no ano passado foram produzidos 120 espetáculos na cidade. Além disso, cada vez mais na TV temos artistas saídos de Curitiba, que também foram ajudados pela visibilidade que o Festival traz aos artistas da cidade. O Festival de Teatro de Curitiba traz luz e visibilidade para a cena curitibana. Ele encurta caminhos de muitos profissionais e promove muitos encontros. Além disso, é fundamental na formação de público teatral. Hoje, para o curitibano médio, teatro é uma linguagem familiar. Não é mais mitificada.

Você tem muitos olheiros nesta edição?
Só de olheiros de emissoras de TV temos seis. Fora olheiros do Sesc, do Sesc e 25 diretores de festivais internacionais. De jornalistas, temos mais de 60 vindos de todos os cantos do País, como você. Temos jornalistas de Manaus a Porto Alegre.

Como é esta época do ano para você: no meio do festival acontecendo?
Quer que eu seja sincero? É o período do ano que eu mais sofro. O dia mais feliz para mim é quando o Festival de Teatro de Curitiba termina e eu vi que deu tudo certo.

Com 450 espetáculos em 13 dias e público de 220 mil pessoas, Festival de Teatro de Curitiba, dirigido por Leandro Knopfholz, é o maior evento teatral do Brasil – Foto: Daniel Sorrentino/Clix

Leia a cobertura completa do R7 no Festival de Teatro de Curitiba!

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1 Resultado

  1. Felipe disse:

    Incrível como a indústria do boato ainda impera! Uma tolice. Felizmente, Leandro, por conta de suas respostas, parece ser realmente alguém acessível e apto para interpretar as críticas (construtivas) como oportunidades de melhoria.

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