Domingou: O que faremos sem os Paulos?

Paulo Goulart, que morreu aos 81 anos, deixa um vazio no mundo das artes – Foto: Divulgação/Globo

Por MIGUEL ARCANJO PRADO

Não bastasse a dor de termos perdido há quase sete anos o primeiro, agora vem a partida do segundo que nos dilacera a todos. Afinal, os Paulos sempre foram fundamentais ao teatro brasileiro e, sem ambos, tudo se torna absolutamente vazio. Porque o buraco que deixaram não é capaz de ser preenchido. Porque ambos eram gigantes no que faziam.

Paulo Goulart, que o Brasil perdeu nesta última semana aos 81 anos, era generoso em seu ofício. E não guardava tal qualidade para si. Fazia questão de compartilhá-la com todos ao redor e também fez questão de perpetuá-la aos filhos e netos, todos com sua mesma índole admirada por todos. O que poderia sair da mistura de genes de Paulo Goulart e Nicette Bruno, o casal mais querido do mundo das artes? Só coisa boa, definitivamente. Sua obsessão com o outro era tanta que criou o projeto Teatro nas Universidades, que leva há dez anos as artes cênicas a estudantes, exemplo na formação de público teatral e desenvolvimento cultural.

O outro Paulo também era marcado por sua generosidade extrema. Paulo Autran, que nos deixou aos 85 anos em 2007, era um grande. Quem acompanhou o teatro sabe que ele fazia questão de ir a todas as estreias para prestigiar o trabalho dos colegas, fossem famosos ou não. Chegava discreto e tratava a todos os jornalistas e fotógrafos como colegas. A fotógrafa Silvana Garzaro é testemunha. Porque Paulo Autran amava mesmo era o teatro e sua magia que acontece uma vez só, a cada sessão. E sabia que ele carece de divulgação e que sua simples presença tornava cada fato relevante.

Por que os meios de comunicação deram aos dois despedidas dignas de um chefe de Estado? Porque ambos eram reis da arte. Porque tanto Autran quanto Goulart sempre viram nos meios de comunicação uma maneira de fazer difundir aquilo no qual acreditavam. A elegância com que manejavam entrevistadores e fotógrafos garantia um respeito a ambos inquestionável. Simples assim.

Nossos dois gigantes souberam conquistar não só o público de seus teatros, como também os telespectadores de suas novelas e os jornalistas encarregados de cobri-las bem como os fotógrafos que tudo registram para a posteridade. Tal humildade no manejar da vida os tornavam ainda mais brilhantes. Ainda mais referência de todos. E é por isso que pergunto, neste mundo apinhado de celebridades ocas: o que faremos sem os Paulos?

Paulo Autran em Morte e Vida Severina, direção de Silnei Siqueira, 1969 – Foto: Acervo Cedoc-Funarte

*Miguel Arcanjo Prado é jornalista e amava os Paulos. A coluna Domingou, uma crônica semanal, é publicada todo domingo no blog Atores & Bastidores do R7.

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6 Resultados

  1. Sandra de Lima disse:

    Pois é Miguel falou tudo, a ilustre geração de grandes atores estão nos deixando infelizmente, o que nos resta agora é um bando de celebridades egocêntrica, que me desculpa não dá pra engolir(por isso à 10 anos não assisto mais novelas), certamente ainda existem excelentes atores e atrizes no Brasil mas é minoria, bem falou Carlos Vereza em seu vídeo no youtube só nos restou essa geração de celebridades pret-a porter.

  2. Anette disse:

    O que mais vemos são pessoas amantes de si mesmas em detrimento da arte que decidiram fazer. Não sabem valorizar quem os aplaude nos palcos e preferem o título de celebridade do que de artista.
    Sim, Paulos fazem falta.

    • Miguel Arcanjo Prado disse:

      Anette, obrigado pela leitura. Você disse tudo! Faltam artistas para nós hoje em dia. Por isso, temos de valorizar os poucos que sobram!

  3. Vólia Nielsen disse:

    Não costumo comentar com muita frequência, ao ler o título “O que faremos sem os Paulos”?, lembrei-me de acrescentar outro Paulo incomensurável: Paulo Gracindo.
    Abraco da leitora,

    • Miguel Arcanjo Prado disse:

      Vólia, você está coberta de razão. Mais um Paulo que deixou um rombo nas artes com sua partida!

  4. Felipe disse:

    A mim, parecia-me que o Autran, apesar de genial, era um pouco áspero com a imprensa (das entrevistas que vi e/ou li). Ou talvez ele fosse áspero com perguntas tolas (!?). Com as repetitivas, muito provavelmente. De qualquer forma, desejo aos três Paulos que descansem em paz! Na minha modesta opinião, o Autran era o esteta, o Goulart era o magnânimo e o Gracindo era a quintessência de nossa brasilidade.

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