Domingou – O tal do aplauso em pé
Por BRUNA FERREIRA*
É certo que qualquer coisa que banaliza incomoda mesmo. Criticamos, queremos saber os motivos, entender os processos e prever as consequências. Na semana passada,o jornal Folha de S.Paulo levantou a questão que já andava causando burburinho nas rodas de bate-papo após os espetáculo teatrais: o tal do aplauso em pé.
Claro que todo mundo já ficou emocionado com uma obra única, uma atuação ímpar ou um exemplo de superação nos palcos, como quando a atriz Cissa Guimarães voltou ao tablado com o espetáculo Doidas e Santas, após a morte do filho Rafael Mascarenhas, em 20 de julho de 2010, ao ser atropelado dentro de um túnel no Rio de Janeiro.
Só que nós também sabemos que não é qualquer espetáculo que nos traz esse tipo de arrebatamento. E vamos, sim, com o coração aberto! Essa história de “falta de sensibilidade” do público, me parece mais história da carochinha ou, como minha avó dizia, conversa para boi dormir.
O fato é que nem todos os espetáculos merecem o tal do aplauso em pé. Só que a gente aplaude. Todos. Como um estourar de pipoca, vai levantando um aqui, outro acolá, e quando vemos estamos lá ovacionando o diretor, o elenco, nós mesmos — que nos comportamos direitinho e desligamos os celulares.
Eu levanto. O Miguel Arcanjo Prado, a sábia voz da consciência deste blog, que está curtindo merecidas férias, já usa melhor o aplauso. No último Festival de Curitiba em que estivemos juntos, vi este bravo colunista censurar com o olhar só de “cogitar” aplaudir uma apresentação ruim. Foi sofrível mesmo, ele tinha razão.
Acontece que eu fico com pena daquele senhor, daquela menina, ou daquele perdido que foi o primeiro a se levantar para o aplauso. Não sei qual é a motivação deles. Se eles realmente amaram o espetáculo, se eles têm parentes no palco, se eles se sentem na obrigação de aplaudir em pé ou só estão deslocados.
É só um mais desavisado levantar, que lá vou eu, convicta, animada, assobiando até… Não adianta, os párias são sempre a minha nação. Os excluídos do teatro, então.
No fundo, a gente está lá aplaudindo, pois sabe que fazer de teatro no Brasil é trabalho para cabra valente. Viva todo mundo! Viva!
*Bruna Ferreira é repórter do R7. É formada em jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP (Universidade de São Paulo), onde cursa mestrado. Ela escreve interinamente neste blog até 18/2/2014, período de férias do colunista Miguel Arcanjo Prado.
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Sobre a Cissa, por que aplaudi-la? Outras mães também perdem os filhos e voltam ao emprego normalmente. Só porque é famosa? Reynaldo Gianecchini deve ser aplaudido, mesmo tendo várias atuações sofríveis, por conta da doença que teve? E quantos anônimos que enfrentaram doenças iguais ou até mais agressivas e não são aplaudidos? Eu aplaudo, sim, os párias. Porque esses fazem por amor à arte. Não são famosos (não que os famosos, quando merecidamente, não devam receber aplausos), mas aplaudir simplesmente porque alguém é famoso, para mim, não é justificativa. Mas em tempos de programas como o atualmente famigerado BBB (no início não era do nível que se apresenta hoje), há uma cultura de celebração da fama pela fama. Ou pela infâmia.
Em tempo: A Cissa deve ser aplaudida, sim, pela boa atriz que é. Mas isso de aplaudir alguém por causa da perda de um ente querido me parece injusto. É óbvio que lamento a perda dela. Foi algo tristíssimo. Estive no Rio de Janeiro e passei pelo local e é claro que me lembrei da luta dela, que é notória. Mas não a aplaudiria por conta da fama. Porque seria injusto com todas as mães que perdem filhos e que não recebem os aplausos porque não são famosas. Aí eu acharia injusto para com elas. É MINHA opinião pessoal. Eu, por exemplo, perdi um ente querido e voltei ao trabalho e ninguém me aplaudiu. Por que aplaudiriam? Agora, a quem entende de aplaudir por conta da perda de um ente querido, simbolizando superação daquele momento específico da vida da pessoa, eu respeito o ato, embora não concorde. Mas, enfim, democracia é respeitar a opinião de todos.