Entrevista de Quinta – “As feministas ainda existem?”, diz ator de A Vida Sexual da Mulher Feia
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
Otávio Muller nunca foi um galã. Seus personagens costumeiros, como Djalma do seriado Tapas & Beijos, jamais tiveram a beleza como foco.
Talvez, por isso mesmo, seja o ator ideal para fazer Maricleide, protagonista do monólogo A Vida Sexual da Mulher Feia, dirigido por ele mesmo.
Baseada no livro homônimo de Claudia Tajes, com texto adaptado por Julia Spadaccini, a obra estreia nesta sexta (10), no Teatro Folha, em São Paulo.
Com ela, celebra 30 anos de carreira e faz seu primeiro monólogo.
Mas nada de drama, muito pelo contrário; trata-se de uma comédia rasgada que marca seu retorno ao teatro após sete anos afastado do palco.
A peça em breve virará filme, como contou nesta Entrevista de Quinta ao Atores & Bastidores do R7, na qual ainda falou como acha que as feministas irão reagir à obra.
Leia com toda a calma do mundo:
Miguel Arcanjo Prado – Como é fazer 30 anos de carreira?
Otávio Müller – Estou ficando velho, né? Eu até fiquei com medo de falar isso. Mas fazer o quê? Estou com 48 anos. Na minha primeira novela, Vale Tudo, ainda era adolescente.
Por que um monólogo agora?
Com relação a monólogo é isso aí. Não era realmente um desejo que eu alimentasse há um tempão. A coisa que eu mais gosto é de contar as histórias. Eu achei interessante o formato do monólogo. Acho que cada projeto, cada ideia, principalmente depois que parte de mim, tem uma cara. Eu gosto de ser uma pessoa que passeia por tudo quanto é área. Às vezes tem mais cara de teatro, às vezes de cinema, de televisão. A única coisa que eu não tenho projeto é de um documentário, mas adoraria.
A peça vai virar filme?
Este projeto eu inventei. Tem um desdobramento para o cinema, sou dono dos direitos. E a produção já está em andamento. É o Maurício Farias, que dirige Tapas e Beijos, quem vai dirigir no cinema também. Devemos rodar ainda neste ano.
É verdade que você chegou a pensar em fazer a peça em dupla?
Sim. Eu pensava em fazer junto com o Leandro Hassum, que é meu irmão gêmeo [risos]. Mas ele tinha outros projetos e não conseguiu. Então, resolvi encarar sozinho.
Como a história chegou a você?
Foi a Heloísa Périssé quem me apresentou o livro. Gostei muito e vi que rendia além da literatura.
O que as feministas vão achar desta peça?
As feministas ainda existem? Acho que para achar uma feminista tem de fazer uma busca arqueológica. Mas se elas ainda existem, deveriam ver o espetáculo. A peça não trata a mulher de forma desrespeitosa.
É mais fácil ser um homem feio do que uma mulher feia?
Não sei dizer, acho muito particular. Cada caso é um caso, essa coisa de feio é absolutamente relativa. Todos temos a chance de termos companheiros, de nos apaixonarmos.
Por que você ficou tanto tempo longe do teatro?
A última peça que fiz em São Paulo foi No Retrovisor, do Marcelo Rubens Paiva, na qual contracenava com o Marcelo Serrado no Centro Cultural São Paulo. Agora, ela vai virar filme também, com direção do Mauro Mendonça Filho, que vem para o projeto assim que Amor à Vida acabar. Acabei ficando longe porque tive filhas pequenas, ficava mais difícil.
Qual sua relação com São Paulo?
Sou completamente apaixonado por São Paulo. É uma cidade respeitosa com o teatro. A cidade cresce de um jeito muito bacana. A questão cultural é incrível aqui. Tem muitos grupos de teatro. Já morei aqui e fiz teatro milhões de vezes na cidade. Estou felicíssimo de estar aqui. Mesmo no calor, não é igual aquele calor do Rio. Ontem fez uma noite tão gostosa! Porque o mundo está maluco, estamos cozinhando aqui no Brasil e os Estados Unidos está congelando!
Você pretende ver a exposição sobre o Cazuza no Museu da Língua Portuguesa aqui em São Paulo, já que ele era seu primo?
Pois é, o Cazuza era meu primo e meu amigo. Ainda não fui ver, mas quero ir, sim. O Cazuza me viu sem querer na escola de teatro, a CAL (Casa de Artes Laranjeiras), porque ele era amigo de um professor meu e fez uma música para nossa peça. Ele e minha tia Lucinha [Araújo, mãe de Cazuza], me indicaram para o Gilberto Braga. E foi por causa dele que um ano depois de formado eu fui fazer minha primeira novela, Vale Tudo.
A Vida Sexual da Mulher Feia
Quando: Sexta, 21h30; sábado, 20h e 22h; domingo, 19h30. 60 min. Até 2/3/2014
Onde: Teatro Folha (Shopping Higienópolis, 2º piso, av. Higienópolis, 618, São Paulo, tel. 0/xx/113823-2323)
Quanto: R$ 50 a R$ 70
Classificação etária: 14 anos
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Creio que rende mesmo um filme, no estilo de MINHA MÃE É UMA PEÇA.