Domingou: Fauzi Arap tinha visão ampla do mundo

Por Aguinaldo Cristofani Ribeiro da Cunha*
Especial para o Atores & Bastidores 

Fauzi Arap foi um ser humano especial, sempre atento ao outro, interessado nas verdades mais profundas da vida.A primeira vez que o vi, eu tinha 15 anos, fui assitir O Inspetor Geral, de Gogol, memorável espetáculo do Teatro de Arrena de São Paulo, direção de Augusto Boal.

Fauzi Arap morreu aos 75 anos – Foto: SP Escola de Teatro

Fauzi fazia, brilhantemente, o papel do Governador. Tinha um presença forte no palco, marcante, era um ator possuído por seus personagens.

Um ano ou dois depois, o vi novamente em cena no antigo Teatro Cacilda Becker, da avenida Brigadeiro Luis Antônio, fazendo O Fardão, ótimo texto de Bráulio Pedroso (nessa peça, a grande Yara Amaral fazia um pequeno papel, mas já era uma atriz de impressionante presença em cena).

Nos anos seguintes, Fauzi enveredaria por outros caminhos, interessado em outras buscas. Passou a escreveu, é autor de textos teatrais relevantes, um nome importante da dramaturgia brasileira.

Como diretor, encenou espetáculos magníficos, a começar pelo musical Rosa dos Ventos, com a maravilhosa Maria Bethânia, no início da década de 1970.

Eu o vejo como um grande diretor autoral, com dimensão imensa, da mesma forma que assim vejo também Antunes Filho e José Celso, com marcas próprias e registradas no teatro brasileiro.

Ficamos amigos, eu tinha verdadeiramente prazer em ficar junto a ele, conversar com ele, impressionado com sua inteligência aguda, sua sensibilidade, sua cultura, e principalmente com sua visão de mundo.

Não era homem convencional, preso a regras, formalismos etc. Tinha visão ampla e dinâmica do mundo.

Saímos juntos certa vez da casa de Myriam Muniz, depois de uma longa e agradável noite de conversa, e continuamos a conversar num barzinho da praça Oswaldo Cruz, perto de onde ele morava, até alta madrugada.

Quando me iniciei na crítica profissional, Fauzi demonstrou grande carinho e amizade, com um olhar cúmplice, amigo.

Estava há pouco como responsável pela coluna de crítica teatral do jornal Diário Popular, quando nos encontramos num ensolarado sábado pela manhã, na esquina da alameda Santos com rua Manuel da Nóbrega.

Fauzi demonstrou muita alegria pelo encontro, e me incentivou a escrever, deu-me apoio, dizendo mais ou menos o seguinte: você gosta tanto de teatro, que suas críticas vão contribuir, vão incentivar o teatro brasileiro.

Foi fundamental para mim essas palavras, vindas de quem vinha. E sempre escrevi críticas para isso, para contribuir, para somar, do ponto de vista teórico, afastado da criação artística.

Essa generosidade e interesse de Fauzi pelo outro, bem visíveis no exemplo pessoal que dei, se multiplicava em relação aos artistas, aos seus colegas de teatro.

Um ser humano especial, um nome fundamental do teatro brasileiro contemporâneo.

*Crítico teatral membro da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), entidade da qual é ex-presidente, Aguinaldo Cristofani Ribeiro da Cunha escreveu este texto a convite do blog. A coluna Domingou, uma crônica semanal, é publicada todo domingo no blog Atores & Bastidores do R7.

Leia: Morre Fauzi Arap aos 75 anos

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1 Resultado

  1. Felipe disse:

    Que Arap e Mandela descansem em paz!

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