Entrevista de Quinta – Bob Sousa lança Retratos do Teatro e diz: “Fotografei quase todo mundo”

Em primeira mão, a capa do livro Retratos do Teatro, de Bob Sousa, com o ator Thiago Lacerda, de costas: o livro do fotógrafo será lançado dia 27, no Teatro Anchieta, do Sesc Consolação, em São Paulo – Foto: Bob Sousa

Por Miguel Arcanjo Prado

Diante de tantos rostos fotografados, Bob Sousa escolheu a imagem de um ator de costas, voltado para a sala de teatro, à espera do público, para ilustrar seu livro. O personagem em questão é Thiago Lacerda, e o retrato foi realizado no Tuca, em São Paulo, durante temporada de Hamlet, de William Shakespeare, uma das principais obras do teatro mundial em montagem dirigida por Ron Daniels.

Bob Sousa é parte de nosso teatro brasileiro. Fotógrafo dedicado ao registro de espetáculos e dos artistas que o fazem na contemporaneidade, é figura conhecida nos palcos paulistanos pelo cotidiano de seu trabalho.

Trabalho este que agora é imortalizado no livro Retratos do Teatro [Editora Unesp], que será lançado às 20h da próxima quarta (27), em encontro para convidados no Teatro Anchieta do Sesc Consolação, em São Paulo.

A pedido do autor, que quer ver a memória do teatro preservada, o livro será gratuito e terá uma versão digital disponibilizada na internet no site da editora.

Nas 240 páginas da obra, 169 nomes cruciais do teatro paulistano aparecem em 164 imagens garimpadas por Bob ao longo de quatro anos, período no qual visitou cerca de 300 montagens, em projeto orientado por Alexandre Mate, pesquisador de teatro da Universidade Estadual Paulista (Unesp), onde o fotógrafo faz mestrado. O livro traz desde nomes consagrados até atores que dão seus primeiros passos na carreira, mostrando o olhar abrangente e perspicaz.

Aos 41 anos, o paulistano que mantém a coluna semanal O Retrato do Bob aqui no Atores & Bastidores do R7, conversou sobre este momento importante de sua carreira nesta Entrevista de Quinta.

Leia com toda a calma do mundo:

Bob Sousa, em pose para a filha, Isabela Sousa: 169 personalidades do teatro brasileiro retratadas

Miguel Arcanjo Prado – Bob, o que representa para você lançar este livro?
Bob Sousa – Olha, Miguel, você sabe: é a realização de um sonho. Sempre achei algo muito distante do cotidiano da minha fotografia a ideia de lançar um livro, mas, de uns tempos pra cá, resolvi focar nessa atividade e buscar uma possibilidade de realização. Também tive muito apoio da classe teatral. As pessoas torceram muito por isso, para que o livro virasse realidade. Em cada teatro por onde passei, recebi palavras de incentivo.

Como você escolheu a capa?
Eles estavam ensaiando Hamlet no palco e fiz várias imagens. Quando fui editar, percebi que esta imagem, com o ator de costas, remetia a uma ideia que busquei para o livro: quem são estes retratados do livro? Abra e veja. A segunda, é que a figura do Thiago Lacerda ficou parecendo apenas um tecido que flutua no palco. E me lembrei na hora de uma frase de A Tempestade, de Shakespeare, que diz: “Somos do tecido de que são feitos os sonhos”. Era a capa.

Quem são os seus fotografados?
Dizer que fotografei todo o teatro paulistano é uma utopia, mas cheguei bem perto [risos]. Fotografei quase todo mundo!

Por que você fotografou desde nomes já consagrados até principiantes?
Procurei ser o mais abrangente possível nas escolhas e eleger ao menos um representante das várias vertentes teatrais praticadas na cidade de São Paulo. O recorte apresenta 164 retratos de 169 pessoas. Também tenho a grande sorte de ter o Alexandre Mate como orientador do meu mestrado no Instituto de Artes da Unesp. Segui meus instintos, é claro, mas também contei com a orientação dele.

Qual importância você acha que seu livro terá no futuro?
Acho ainda prematuro fazer essa análise… Mas acho que o caráter documental e artístico do projeto pode abrir várias possibilidades para a obra. Porque não tem nada parecido com o Retratos do Teatro. E, como será doado para bibliotecas e escolas de teatro, penso que possa ser usado como fonte de consulta. Tenho muito orgulho de ter aberto essa porta. E é bom lembrar que pesquisa continua.

Por que você se interessa pelas pessoas mais do que pelos personagens?
Passei grande parte da minha carreira fotografando espetáculos. Os retratos surgiram da necessidade de me aproximar dos artistas, trocar ideias, falar de teatro. Foi um mergulho intenso no universo teatral da cidade. Não sou mais o mesmo do início da pesquisa.

Qual é a cara da sua fotografia?
Minha fotografia é simples. Sempre foi. Retratos são encontros. O resultado desses encontros está revelado na fotografia. Cada um dá o que tem.

Como será o lançamento do livro?
Recebi um convite maravilhoso do Sesc, grande parceiro na minha trajetória, e a festa será no Teatro Anchieta, templo sagrado do teatro brasileiro. Teremos uma mesa de bate-papo sobre a “A importância da documentação iconográfica (fotográfica) para a construção da memória histórico/cultural da produção teatral paulistana e brasileira”. Espero que todos os retratados possam comparecer para brindarmos esse momento. Estou muito feliz. Tenho de agradecer à turma do Sesc Consolação, que tanto me apoiou: Felipe Mancebo, Tiago de Souza e Adriana Macedo.

É verdade que seu livro será disponibilizado gratuitamente para todos; foi uma escolha sua?
Sim. O livro não será vendido. Ele será doado para os retratados, bibliotecas e escolas de teatro. Como a tiragem é limitada, teremos uma versão on-line no site da Editora Unesp. Essa foi a forma encontrada para que a obra pudesse ser apreciada por um número maior de pessoas. Sempre foi a premissa básica do projeto a socialização desse trabalho.

Marcos Caruso: retrato foi feito em clima descontraído por conta de uma foto do passado – Foto: Bob Sousa

Conte uma história de bastidor dos retratos…
O livro é repleto de histórias maravilhosas. Encontros fantásticos. Poderia escrever um livro sobre essas histórias… [pensativo] Uma que me marcou foi a do Marcos Caruso. Levei para ele um exemplar do livro do César Vieira [dramaturgo e pesquisador teatral], que tem o Caruso na capa. Quando ele viu a foto, com ele cabeludo há mais de 40 anos, ele ficou bem emocionado. Depois disso, foi ótimo fazer a foto dele. Outra foto que não me esqueço foi a do Antunes Filho. Na época, ainda tínhamos um relacionamento incipiente, mas, apesar disso, nosso encontro artístico me emocionou muito. Ele gostou tanto do ensaio que solicitou uma das imagens depois para ilustrar uma entrevista que deu. A do Danilo Santos de Miranda também foi interessante. Ele foi bem humilde, e me perguntou por que ele? Falei era porque ele apoiava muito o teatro! [risos]

Qual retrato deu mais trabalho para fazer e qual foi o mais fácil?
Algumas pessoas não se sentem confortáveis com uma lente apontada para si. Alguns retratos foram mais demorados, mas nenhum foi difícil. Um bem fácil foi o da Nathália Rodrigues. Ela foi modelo e é uma pessoa maravilhosa. Foi tudo muito fácil. Difícil foi escolher um entre tantos retratos bacanas. E você foi um dos que mais me enrolou para fazer [risos].

É que em casa de ferreiro o espeto é de pau… [risos] Mas, me conta, foi muito difícil fazer a seleção final do livro?
A pior parte é a edição. A edição do recorte, do momento, do ângulo na hora do clique e a escolha da imagem final. Mas o instinto sempre aponta para uma imagem derradeira. A imagem que vai representar aquele encontro. A experiência ajuda bastante.

Quem lhe ajudou para que o livro virasse realidade?
Tenho uma lista imensa para agradecer, gastaria toda a sua Entrevista de Quinta [risos]. Mas, claro, preciso agradecer a todo mundo da Editora Unesp: José Castilho Marques Neto, Jézio Bomfim, Leandro Rodrigues, Célia Demarchi, Jennifer Rangel e Luciana do Vale. Ao pessoal da Fundação Vunesp na figura da presidente Sheila Zambello de Pinho.

Eita, teve muita gente nos bastidores, hein?
O livro já é um agradecimento ao teatro paulistano, mas destacaria, fundamentalmente, minha esposa, Daniela, meus filhos, Isabela, Letícia e Pedro, e toda a equipe de produção, representada nas figuras da Renata Araújo, produtora do livro, e do Camilo Vannuchi, que editou tudo. Tem também o Oscar D’Ambrosio, Marcelo Carneiro, o Tiago Cheregati, o Adriano Castro, a Nanci Roberta, a Laura Salerno e a Fernanda Moura. Formamos um grupo muito bom. Tenho muito orgulho dessa equipe.

Quem não saiu neste terá outra chance de estampar um livro de Bob Sousa?
O projeto continua. Foram feitos mais de 400 retratos pra esse trabalho. Penso em lançar outros volumes. Vamos ver até onde o fôlego aguenta.

Por que você fotografa os artistas de teatro?
É o meu mundo. Minha paixão de infância. A fotografia e o teatro. Sou um privilegiado em poder unir essas duas paixões. Lewis Hine, fotógrafo americano que passou grande parte da vida fotografando injustiças sociais, dizia: “Se eu pudesse contar a história com palavras, não precisaria carregar uma câmera”. Essa é a minha história. Vamos em frente.

Bob Sousa, em autorretrato: ele conta a história do teatro contemporâneo com suas fotos

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3 Resultados

  1. Felipe disse:

    1. Primeiramente, parabéns a Bob pela iniciativa e pela obra!
    2. O autorretrato dele ficou ótimo.

  1. 25/11/2013

    […] Leia a Entrevista de Quinta com Bob Sousa […]

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