Zé in London: Morte de cachorro na vizinhança e fantasmas instigam plateia teatral inglesa
Direto da capital inglesa, o diretor teatral paulista Zé Henrique de Paula conta no R7 as principais novidades do efervescente teatro londrino
Por Zé Henrique de Paula, de Londres
Especial para o Atores & Bastidores*
A pacata vizinhança onde moram o garoto Christopher e seu pai é abalada por um estranho crime: Wellington, o cachorro de sua vizinha Sra. Shears, aparece morto de manhã, no meio da rua, com um ancinho cravado em seu corpo.
Durante duas horas e quarenta minutos, Christopher irá fazer de tudo para tentar desvendar o cruel assassinato e, em meio à investigação (como um Sherlock Holmes adolescente) ele mal sabe que, além do criminoso, irá descobrir a si próprio.
Esta é a premissa do espetáculo The Curious Incident of the Dog in the Night-Time (O Curioso Incidente com o Cachorro Durante a Noite), adaptado do romance escrito por Mark Haddon em 2003.
A peça, em cartaz até outubro de 2014, arrebatou nada menos do que sete Olivier Awards – o maior prêmio do teatro inglês – em 2013, além de ter recebido cotação máxima de quase todos os críticos nos periódicos londrinos.
A peça aborda de maneira consistente e, ao mesmo tempo, delicada, uma condição que afeta o jovem protagonista: a síndrome de Asperger.
Como ele mesmo se define no início da peça, Christopher é “um perito em matemática com algumas dificuldades de comunicação”.
A encenação de Marianne Elliot (que foi co-diretora do mega sucesso War Horse) traduz brilhantemente em imagens o mundo que povoa a mente de Christopher: números, equações e formas geométricas invadem o palco através de sofisticados efeitos de luz e projeções nas paredes e no chão do cenário.
O efeito é arrebatador, mas o que mais fascina na montagem é o trabalho dos atores, que alternam com extrema competência momentos de absoluto realismo e detalhadas sequências de teatro físico. O trabalho de preparação corporal e coreografia dessas sequências foi feito por dois renomados diretores daqui, Steven Hogget e Scott Graham, que respondem pela direção artística de uma companhia chamada Frantic Assembly. Confira tudo isso no clipe do espetáculo!
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Muitos teatros de Londres recebem subsídio do governo, em diferentes níveis e quantias. Normalmente, esse subsídio responde parcialmente pela sobrevida dos espaços; o restante vem da arrecadação de bilheteria, assinaturas, patrocínio privado e doações (muito comum por aqui).
Um destes espaços é o Almeida Theatre, um tradicional reduto dedicado aos clássicos e à nova dramaturgia.
Atualmente em cartaz, está o drama Ghosts (Espectros), do norueguês Henrik Ibsen (veja também o clipe do espetáculo).
Dirigida pelo veterano Richard Eyre e em cartaz até 23 de novembro, a montagem tem tratamento de época e atores impecáveis.
Quando assisti ao espetáculo, boa parte da plateia estava visivelmente tocada ao final. Vale lembrar que o brasileiro Francisco Medeiros também dirigiu Espectros em São Paulo dois anos atrás, com Clara Carvalho, Flavio Barollo e Nelson Baskerville no elenco.
Pois clássico de verdade é assim: dialoga com a plateia em qualquer lugar!
*Zé Henrique de Paula é diretor teatral no Núcleo Experimental, em São Paulo, e e atualmente faz mestrado na University of Essex, em Londres, de onde colabora para o blog cobrindo a cena inglesa.
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