Crítica: Mineiros fazem o teatro encontrar a crônica em Cachorros Não Sabem Blefar, da Cia 5 Cabeças

Cachorros Não Sabem Blefar chamou a atenção na programação do CIT-Ecum – Foto: Marco Aurélio Prates

Por Miguel Arcanjo Prado

Minas Gerais é celeiro farto de cronistas. Parece que o viver no alto das montanhas costuma ser propício ao desenvolvimento de uma visão perspicaz e poética do mundo ao redor. A começar pelo próprio tempo e a comunicação humana, temas recorrentes dos cronistas das alterosas.

Tal talento típico de um bom cronista é percebido no texto do dramaturgo e diretor Byron O’Neill, Cachorros Não Sabem Blefar, que cumpriu temporada até o último fim de semana no CIT-Ecum, em São Paulo, com a belo-horizontina Cia. 5 Cabeças.

Além de escrever, O’Neill também assume a direção da montagem que gira em torno de uma absurda conversação entre cinco personagens presos em uma sala.

O mérito da direção é conduzir a história, por mais louca que possa parecer, por um caminho de suspense e atenção constante do espectador.

A ironia, fina e inteligente, está presente a todo o instante, com frases que soam como pitadas de pequenas provocações.

O elenco formado por Carol Oliveira, Luisa Rosa, Mariana Câmara, Saulo Salomão e Ronaldo Jannotti surge coeso e alinhavado em um mesmo registro cênico.

Acreditam no texto até o fim e seguem em frente. E se esforçam para fazê-lo crível e coloquial mesmo em seus momentos mais literários. Luisa Rosa, com uma certeza que traz inabalável dentro de si, se sobressai. Carol Oliveira também causa impacto em sua aparição.

Daniel Ducato assina figurino, cenografia e maquiagem, que contribuem de forma decisiva na estética pós-moderna da montagem, mesmo tendo a verborragia dos diálogos modernos. A luz de Marina Arthuzzi imprime ar futurista à cena e dialoga com os acontecimentos.

O grande dilema entre os personagens é descobrir quem é o Caio entre eles, nome carregado de coisas ruins, em uma metáfora direta a prejulgamentos absurdos que o ser humano costuma fazer sem base alguma.

Com um relógio para sempre parado, o tempo não passa naquela sala, enquanto os personagens precisam resolver os dilemas de suas vidas como uma virgindade a ser perdida ou um cachorro preso no apartamento sem conseguir abrir a geladeira para saciar sua fome.

Cachorros Não Sabem Blefar evidencia que o mundo contemporâneo é mesmo absurdo e cheio de demandas e urgências inexplicáveis diante de um mínimo respiro. E é este seu grande mérito. Tal qual um blefe, o espetáculo chuta sua visão ácida sobre o seu tempo, podendo acertar ou não. Como costuma fazer a boa crônica mineira.

Cachorros Não Sabem Blefar
Avaliação: Bom

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1 Resultado

  1. Felipe disse:

    Bacana!

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