Crítica: Peça faz de relatos em diários um retrato sombrio do absurdo chamado guerra

Peça retrata no Tusp os horrores da guerra por meio de relatos em diários – Foto: Ligia Jardim

Por Miguel Arcanjo Prado

Considerados por muitos eruditos uma subforma literária, os diários são o mais despretensioso registro de uma vida, de um tempo. E, por isso, são tão preciosos. Afinal, diferentemente da imprensa e dos livros de história, eles não estão contaminados por ideologias ou apelos políticos, sendo apenas o registro do ser, de valor único e incomensurável.

Tais escritos, sobretudo os que foram feitos em períodos sombrios e enigmáticos de nossa história, logo, quando descobertos, são catapultados à condição de material primordial na construção da história. Além de virarem, automaticamente, best-sellers.

E foi após ler diários escritos em tempos de guerra, como os obrigatórios de Anne Frank e Zlata Filipovic, que a paulistana Cia. Provisório-Definitivo resolveu criar a peça As Estrelas Cadentes do Meu Céu São Feitas de Bombas do Inimigo, para a qual chamaram o experiente diretor Nelson Baskerville.

Este, por sua vez, apostou em uma encenação épica, feita na penumbra. O diretor acerta em trazer os atores caracterizados como seres cadavéricos, vindo de um mundo que já explodiu sob a saraivada de bombas. Que seguem pipocando mundo afora.

O impacto junto ao público é inicial, e a densidade do texto e o clima sombrio da iluminação faz o espectador entrar no clima dos relatos que vão sendo ditos – sobretudo quando as bombas começam a reverberar, num ótimo efeito sonoro.

Se a parte técnica está a contento, o diretor não conseguiu maquiar a irregularidade do elenco, que é perceptível. Algumas atuações estão próximas da caricatura, ficando aí o ponto frágil da obra.

A peça mistura as narrativas, não adotando um tempo linear, propondo uma visão universal da guerra.

Um acerto é o grupo ter inserido na dramaturgia relato de um jovem que vive a guerra urbana na periferia da cidade de São Paulo, onde pobres são mortos sem justificativa. A inspiração veio do menino Washington, retratado por Evaldo Mocarzel em seu documentário Jardim Ângela. Tal fala é contundente e faz a obra dialogar diretamente com o nosso tempo. Não são apenas sofrimentos dos livros de história, mas também os que povoam o jornal do dia de hoje.

As Estrelas Cadentes do Meu Céu São Feitas de Bombas do Inimigo consegue mandar seu recado principal: de que a violência da guerra é algo tão absurdo que nos leva a querer acreditar que tudo não passa de um filme de Hollywood. Mas, infelizmente, trata-se da mais cruel verdade que a humanidade insiste em manter ao longo dos tempos. E que infelizmente, não terminará tão cedo. Por isso, obras como esta continuam sendo mais do que necessárias para tentar despertar algo de bom dentro de alguém. Assim como fazem os diários sobreviventes.

As Estrelas Cadentes do Meu Céu São Feitas de Bombas do Inimigo
Avaliação: Bom
Quando: Sábado, 21h, domingo, 19h. 60 min. Até 25/8/2013
Onde: Tusp (r. Maria Antônia, 294, Consolação, Metrô Santa Cecília, São Paulo, tel. 0/xx/11 3123-5233)
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada)
Classificação etária: 14 anos

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2 Resultados

  1. Felipe disse:

    Miguelito, pus um comentário aqui e ele não apareceu. O que houve?

  2. Felipe disse:

    Ah, Miguel, que pena! Caprichei no comentário para esse “post” mas o comentário não apareceu. Será falha operacional?

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