Crítica: Peça põe público na escuridão para contar história de viúvo apaixonado de Nelson Rodrigues

Teatro Cego faz público apurar os sentidos para vivenciar obra de Nelson Rodrigues – Foto: Ana Righi

Por Gabriela Quintela*
Especial para o Atores & Bastidores

A peça O Grande Viúvo, em cartaz em São Paulo, mergulha a plateia no breu total para contar sobre um viúvo em desespero.

O espetáculo do grupo Teatro Cego conta com cinco atores, sendo três deles deficientes visuais. O lema da turma é: O que você enxerga quando não vê?

Nesta proposta, desde antes de a peça começar, os espectadores já têm que ir se adaptando ao escuro, sendo conduzidos até suas cadeiras em fila indiana e com o auxílio de lanternas.

A peça é baseada no conto homônimo de Nelson Rodrigues, um dos muitos que o jornalista e dramaturgo publicou no jornal Última Hora, de Samuel Wainer, na década de 1950.

Fala sobre um viúvo que, inconformado com a morte da mulher, comunica à família que quer morrer e ser enterrado ao lado da defunta.

A história é divertidamente burguesa, com aquele jeitão charmoso do Rio dos Anos Dourados.

Quando a peça começa, tem-se primeiro a impressão de estar ouvindo uma novela de rádio, reforçando, aliás, a sensação de estarmos naquela época rodrigueana, talvez mais do que qualquer cenário ou figurino seria capaz.

Pois é, o espetáculo não tem iluminação, não tem cenário nem figurinos. Mas o oferece ao público uma experiência sensorial ampla: além das vozes dos atores e dos ruídos de passos e objetos, há também o cheiro de café, de sopa, do perfume de Dalila… E até uma chuva.

Os quatro músicos responsáveis pela trilha sonora tocam na mais completa escuridão durante os 50 minutos do espetáculo.

Elenco

Os atores estão engraçados na medida certa, sem exageros, deixando o humor surgir com naturalidade do ridículo das situações mostradas. Afinal, como diz o pai do viúvo:

— Por que uma grande dor é sempre ridícula?

O pai (Manoel Lima, que enxerga), aliás, é um dos destaques do elenco. O viúvo, Jair, é interpretado por Paulo Palado, que também dirige o espetáculo, mas, na sessão conferida pelo R7, foi vivido por Leonardo Santiago, que também se destacou.

Além de dar ao espectador uma chance de experimentar o teatro de outra forma, a peça ainda dá a atores cegos a chance de interpretar personagens que enxergam. Uma ótima sacada.

*Gabriela Quintela é jornalista, editora de homepage e colunista do R7.

Teatro Cego – O Grande Viúvo
Avaliação: Ótimo
Quando: Sexta, 21h30; sábado, 21h; domingo, 19h. 50 min. Até 28/7/2013
Onde: Tucarena (rua Monte Alegre, 1024 – entrada pela rua Bartira, na esquina, Perdizes, São Paulo, tel. 0/xx/11/3826-0938 e 3670 8455)
Quanto: R$ 40 (sex. e dom.) e R$ 50 (sáb.)
Classificação etária: 14 anos

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