Depoimento de Zé Celso à polícia é adiado; diretor foi intimado a delatar atores de ato na PUC-SP

Policía quer que o diretor do Teatro Oficina, Zé Celso, diga os nomes dos atores que participaram de ato artístico na PUC-SP em novembro de 2012 – Foto: Julia Chequer/Arquivo R7-7/4/2010

Por Miguel Arcanjo Prado

Foi adiado o depoimento do diretor José Celso Martinez Corrêa à Policía Civil do Estado de São Paulo, que deveria ocorrer nesta terça-feira (11), às 17h. O artista, de 76 anos, foi intimado pelo 23º Distrito Policial de Perdizes, em SP, a comparecer ao local para prestar esclarecimentos e ainda identificar atores de sua companhia que participaram de uma ação artística durante protesto político na PUC-SP em novembro de 2012.

A notícia foi dada pelo blog Atores & Bastidores do R7 nesta segunda-feira (10) e teve ampla repercussão nas redes sociais.

O motivo do adiamento seriam questões burocráticas da própria delegacia, apurou o R7. Ainda não foi marcada a nova data do depoimento de Zé Celso ou de algum representante do Oficina à Polícia Civil do Estado de São Paulo.

Zé Celso fez parte do grupo de artistas que defendeu a democracia e o fim do regime militar (1964-1985). Ele chegou a ser indenizado por ter sido perseguido e torturado durante a ditadura.

Protesto pelo ensino laico

O motivo da intimação que Zé Celso recebeu, assinada pelo delegado Percival de Moura Alcantara Junior, seria “elucidar os fatos e reconhecer atores de teatro em fotos ou vídeos postadas na web sob o título ‘Decapitação do Papa na PUC’ na ‘Ocupação da PUC’ pela Democracia’”.

Em novembro de 2012, Zé Celso e artistas do Teatro Oficina participaram de uma manifestação de estudantes da PUC-SP contra a indicação da professora Anna Cintra à reitoria da universidade, já que ela havia ficado em terceiro lugar na eleição — ela tomou posse em fevereiro deste ano. O ato contou com a adaptação de uma cena da peça Acordes, na qual um boneco gigante, vestido com roupas sacerdotais para a ocasião, era degolado.

O Oficina, em nota, diz que estudantes “foram procurar os artistas do Oficina quando estávamos fazendo a peça Acordes, baseada em texto de Bertolt Brecht”. Ainda de acordo com a nota enviada pelo Oficina ao R7, “os estudantes tinham ocupado a PUC e convidaram a Uzyna Uzona para participar de uma ação pela liberdade do ensino laico. Em Acordes havia uma cena em que um boneco, representando o Capitalismo, era despedaçado por dois palhaços. A cena foi adaptada para a situação que a PUC estava passando e apresentada no evento promovido por estudantes e professores”.

“É um atentado à arte”, diz Zé Celso

Zé Celso comentou a intimação recebida em seu blog.

Ele afirmou que “querer incriminar artistas de teatro por esta cena é um atentado à liberade de expressão do ator”. O diretor afirmou que o teatro é “o espaço da liberdade”. E lembrou de sua luta pela democracia e liberdade de expressão durante os anos de chumbo da ditadura militar.

— Nós das artes, que lutamos contribuindo para abolir a censura no Brasil durante a ditadura militar e ganhamos esta conquista não podemos recuar e aceitar a censura à nossa atividade […] Este instrumento jurídico, que a Inquisição da PUC conseguiu passar para  uma delegacia de polícia, é uma intimação contra a Constituição do Estado Democrático Laico no Brasil, a favor da reinstauração da censura, contra a qual tanto lutamos nos tempos da ditadura militar. É um atentado à arte, considerada como crime. Não desejo ser cúmplice deste crime por isso vou por a boca no trombone do mundo.

Outro lado

O R7 falou com a assessoria da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo e também com a assessoria de imprensa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

A assessoria da PUC afirmou: “Checamos a informação e a PUC-SP não abriu nenhum processo contra o diretor José Celso Martinez Corrêa”.

Abaixo, a resposta da Secretaria de Estado de Segurança Pública de São Paulo:

“Apuramos que, por requisição do Ministério Público, a Polícia Civil instaurou inquérito para apurar o fato. A natureza da investigação é o artigo 208 do Código Penal: ‘Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso’. O delegado que preside o inquérito é o titular do 23° DP, Marco Aurélio Floridi Batista.”

No começo do ano, a peça Edifício London, do grupo teatral Os Satyros, foi proibida de estrear em São Paulo por conta de uma decisão judicial.

O diretor José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, foi intimado a ir a uma delegacia por conta de um trabalho artístico feito com o Teatro Oficina – Foto: Julia Chequer/Arquivo R7/7-4-2010

Veja a intimação recebida por Zé Celso:

Cópia da intimação policial recebida pelo diretor Zé Celso no Teatro Oficina – Foto: Reprodução/Blog do Zé Celso

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2 Resultados

  1. Felipe disse:

    Pelo visto esse assunto ainda renderá vários “posts”… Espero que isso se resolva da melhor maneira possível!

  1. 11/06/2013

    […] Depoimento de Zé Celso à polícia é adiado; diretor foi intimado a delatar atores de ato na PUC-S… […]

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