Crítica: Roberto e a Filologia das Estrelas é grito de angústia de geração instável da modernidade líquida

Roberto e a Filologia das estrelas é primeira obra de A Tragédia Pop – Foto: Silvia Boriello

Por Miguel Arcanjo Prado

Marcio Tito Pellegrini é artista inquieto, cheio de ideias na cabeça fervilhante. Jovem diretor e dramaturgo expoente do teatro feito na praça Roosevelt, em São Paulo, acaba de criar o coletivo teatral Tragédia Pop, que inaugura o que ele chama de Tragédia Popular Brasileira com o espetáculo Roberto e a Filologia das Estrelas. A peça é encenada aos sábados, às 19h, no Espaço dos Satyros Um, até o fim do mês.

Marina Calvão é destaque no elenco – Foto: Silvia Boriello

Com roteiro e encenação de ares pós-modernos, aborda a vida e os questionamentos de Roberto Gustavo Reiniger (personagem que tem o mesmo nome do ator que o interpreta e na vida do qual a peça se inspira).

Trata-se de um jovem insatisfeito com o andamento do rumo da humanidade e que busca refúgio em um mundo de drogas farmacológicas e ilícitas, é claro. Porque é difícil aguentar de cara limpa.

Os devaneios do personagem, que questiona o rumo das relações humanas diante de um iminente contato alienígena, ganham corpo no elenco formado, além de Reiniger, por Thaís Giovanetti, Eduardo Prado, Gabriel Fernandez, Felipe Ferraciolli e Marina Calvão, que se destaca com forte carisma.

Apesar do ar impensado da trilha e da reiteração do recurso da vela de fogo de artifício como artefato de iluminação, a direção do jovem Pellegrini demonstra força ao conseguir coesão no elenco heterogêneo. O grupo surge em sintonia fina.

Contudo, a coordenação do diretor Rodolfo García Vázquez se faz presente e acaba por dar uma “cara Satyros” ao espetáculo – o que é esperado, já que o grupo foi forjado no espaço no qual Pellegrini se formou como artista.

Fruto de um contexto cultural globalizado pop-midiático, Pellegrini dá um berro feroz diante das incertezas e angústias do mundo pós-moderno, ou da modernidade líquida, como definiu o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, repleto de possibilidades fajutas e falta de modelo concreto para seguir.

Diante de tudo isso, até a falta de foco da obra, com sua metralhadora giratória, faz todo o sentido e consegue tocar o espectador, mergulhado na mesma angústia de uma geração cujo sonho de paz e tranquilidade lhe foi roubado. Diante do caos, realmente só é possível gritar. Como Marcio Tito Pellegrini faz.

Marcio Tito Pellegrini (à esq.), com o elenco de Roberto e a Filologia das Estrelas – Foto: André Stéfano

Roberto e a Filologia das Estrelas
Quando:
Sábado, às 19h. 55 min. Até 31/5/2013
Onde: Espaço dos Satyros Um (praça Roosevelt, 214, Centro, São Paulo, tel. 0/xx/11 3258-6345)
Quanto: R$ 20 ou nada
Classificação etária: 16 anos

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3 Resultados

  1. Júlio Lopes disse:

    assisti a peca no final de semana passado e recomendo ! parabens meninos !

  2. Felipe disse:

    Consigo compreender a proposta da peça, mas confesso que o conceito de “modernidade líquida” não me agrada. Entretanto, nada como ler um texto que alguém que realmente entende o assunto: consegui entender perfeitamente a proposta da peça. Se fosse outra pessoa descrevendo, talvez não conseguisse compreender tão bem. Seu texto foi muito bem redigido. De forma sintética, explicou com muita clareza.

  1. 09/05/2013

    […] aos sábados, às 19h, até o fim do mês, com a primeira peça de seu grupo, A Tragédia Pop: Roberto e a Filologia das Estrelas. A obra causa burburinho no Espaço dos Satyros Um, na praça Roosevelt, reduto do teatro […]

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