Paulo Faria fala sobre os 15 anos da Cia Pessoal do Faroeste e como Renato Russo transformou sua vida

Paula Faria em cena no espetáculo Meio Dia do Fim (Foto: Lenise Pinheiro/Divulgação)


Por Bruna Ferreira, do R7

No início deste ano, a Cia Pessoal do Faroeste completou 15 anos desde a sua fundação, dedicando quase todos às pesquisas sobre o entorno da Estação da Luz, no Centro de São Paulo.

Com criações artísticas focadas na vida social e política brasileira, o grupo já ganhou inúmeros prêmios como um Teatro Jovem Coca-Cola, um Prêmio Funarte na Cidade, além do primeiro lugar no Concurso Nacional de Dramaturgia Plínico Marcos com A Mulher Macaco.

Paulo Faria é criador da companhia e idealizador do Projeto Boca Livre; dirige e, às vezes, atua em suas próprias obras como no espetáculo Meio Dia do Fim, em cartaz no “QG” do grupo, na Sede Luz do Faroeste.

Em entrevista ao blog, ele falou sobre os 15 anos da companhia, sua maior alegria durante este tempo e também sua grande derrota. Renato Russo também está nesta história, mas é o próprio Paulo quem explica a pequena, mas essencial participação do líder da extinta Legião Urbana.

Leia a entrevista na íntegra:
R7 — Nestes quinze anos, qual foi sua maior alegria ao lado do pessoal do grupo?
Paulo Faria — O julgamento simbólico de Augusto Amaral, no Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP, em parceria com a Defensoria Pública, Ouvidoria e Escola de Defensores. Augusto do Amaral foi personagem da peça Os Crimes de Preto Amaral, da Cia, levada à cena em 2006. Esse homem estava no Museu do Crime como primeiro assassino em série do Brasil, sem ter sido julgado, num crime de 1927. Ele foi absolvido simbolicamente no dia 20 de setembro de 2012. Este projeto virará um documentário a ser lançado no final do ano.

R7 —  Qual a maior dificuldade nos dias de hoje para uma companhia de teatro se manter?
Paulo — Patrocínio. Ainda é muito difícil. Além das criações teatrais a Cia mantém um espaço com produtores e técnicos.

R7 — Como foi a criação do grupo?
Paulo — O grupo surgiu quando montamos a peça Um Certo Faroeste Caboclo. Eu vim para São Paulo há 23 anos para fazer esta peça, queria encontrar o Renato Russo. Ele morreu em 1996 quando eu coordenava o Núcleo de Artes Cênicas da FAAP e ia assumir o teatro. Quando ele morreu, pedi demissão, escrevi a peça e reuni as pessoas para montar. O espetáculo teve boas críticas, teve prêmios e uma carreira de quase quatro anos em cartaz. O espetáculo contava ainda com Marcelo Médici, Luiz Miranda, André Frateschi, Beto Magnani, Lucia Romano, Daniel Alvim entre quase 30 atores e músicos que passaram pela trupe nessa primeira fase. Logo que estreamos, o espólio do Renato Russo nos processou. Isso foi parar nos jornais e fomos chamados de “o pessoal que faz o Faroeste”. Ganhei o processo e o nome ficou como nos deram.

R7 — O que você mudou profissionalmente e pessoalmente do início para cá?
Paulo — A prática, o exercício permanente da cena e do oficio nos torna mais experientes. A mala vazia de antes está sendo preenchida pelo tempo.

R7 — Você alguma vez se decepcionou em um trabalho feito pela Cia?
Paulo — Sim, quando ganhei em 2000 o Prêmio Plínio Marcos de Dramaturgia com o texto A Mulher Macaco, o montei no ano seguinte com nosso primeiro patrocínio. Saiu tudo errado. Errei na mão. O jovem diretor que eu era não havia entendido o autor, que já era bem mais maduro. Hoje, eu descobri através da permanência no meu oficio a escrever e dirigir junto. Sou um autodidata. Sou da ação. Do fazer. E naquele momento, aprendi tudo de como não ir por ali pelo caminho do ego, da falta de coerência, da falta de propósito. É no fracasso que colhemos as melhores experiências. Mas mesmo assim sempre trabalho em solo novo para nunca me distanciar do risco.

R7 — Quais as vantagens de integrar um grupo de teatro hoje ao invés de trabalhar sozinho?
Paulo — O teatro é um trabalho coletivo. Por mais que eu escreva sozinho o jogo da criação da cena é sempre uma criação coletiva e num grupo se tem mais liberdade para se escolher o que fazer, ter mais autonomia sobre suas produções. Adoro ter parceiros.

R7 — Quais são os futuros projetos da Cia?
Paulo — Estreamos em maio a nova peça Homem Não Entra, que narra um fato histórico, um decreto do prefeito Jânio Quadros, em 1953, que expulsa as prostitutas da zona livre, no Bom Retiro. Elas acabam vindas pra cá, pra Rua do Triunfo. Será um faroeste. Estou escrevendo com supervisão do jornalista e estudioso do gênero faroeste Rodrigo Pereira, que também assina o roteiro comigo. Vai ser o primeiro faroeste escrito para teatro no Brasil, obedecendo  a todos os cânones do gênero, que se popularizou no cinema. Estudamos um personagem que é o Django do Faroeste Spaguetti, que coincidentemente o Tarantino acaba de realizar um filme com o mesmo personagem. Tem muitos filmes com ele e um ator ítalo-brasileiro, Antonhy Steffen, que ficou famoso nas décadas de 1960 e 1970. O nosso se chamará Jango.  Tentaremos aproximar o fato histórico de 1953 a ação de expulsão dos usuários de crack, ocorrido em dezembro de 2011. Ambos os grupos se mudaram para a Rua do Triunfo.

Meio Dia do Fim
Quando: quartas, às 21h30. 60 minutos. Até 10/2/2013
Onde: Sede Luz do Faroeste (r. do Triunfo, 305, Metrô Luz, São Paulo, tel. 0/xx/11 3362-8883)
Quanto:  R$ 40 antecipado. Uma hora antes, pague quanto puder
Classificação etária: 16 anos

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2 Resultados

  1. Felipe disse:

    Miguelito, você é adorável! Conheci seu trabalho por causa do blog de Fabíola Reipert, porém tive de vir conferir o blog de alguém tão carismático.

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