Alyssson Salvador, o músico que o teatro encontrou

 

Mineiro de Belo Horizonte, Alysson Salvador integra o elenco de Zumbi – Fotos: Eduardo Enomoto

Por Miguel Arcanjo Prado
Fotos de Eduardo Enomoto

O mineiro Alysson Salvador, eleito Muso do Teatro R7, é um músico que se achou na turma do teatro. Ele é destaque no espetáculo Zumbi, apresentado nas últimas semanas no Sesc Pompeia, em São Paulo, e que aporta na Funarte de Belo Horizonte neste fim de semana [veja o serviço e a crítica ao fim do texto]. Os drads do moço fazem sucesso, sobretudo com o público feminino.

Caçula de cinco irmãos filhos do casal formado pelo metalúrgico Salvador Cruz e a dona de casa Adelina Cruz, foi criado no bairro Sagrada Família, em Belo Horizonte. O nome artístico é uma homenagem ao pai, que morreu em 2007.

A música sempre correu em suas veias. Tem avôs maestro e violinista. O pai lhe ensinou a apreciar grandes clássicos, chorinho e a música nordestina do centenário Luiz Gonzaga.

Alysson Salvador aprendeu a tocar violão sozinho – Foto: Eduardo Enomoto

Os laços com interior de Minas sempre foram fortes. O pai veio da histórica Mariana, a mãe, de Barbacena. Durante um tempo pensou que seria atleta. Jogou handball em clubes da capital mineira dos 11 aos 18 anos. Mas foi aos 16 que tudo mudou: aprendeu, sozinho, a tocar violão, emprestado por Tia Dadá. Djavan e Gilberto Gil embalavam seus primeiros acordes.

Logo, o esporte ficou de lado e a música ganhou vez. Integrou as bandas de forró Cipó Cravo e Cincopados, o Trio Ara, com Babu Xavier e Adriane Tocafundo, e o grupo Samba de Luiz. Tocou em casas importantes da noite belo-horizontina como Utópica Marcenaria e Vinil. Começou a compor.

A perda do pai foi um divisor de águas. “Quando ele se foi, passei a morar sozinho e comecei a pensar no futuro”, diz.

Em 2010, resolveu levar a sério os estudos musicais. Foi para a Bituca Universidade de Música Popular em Barbacena, apadrinhada por ninguém menos do que Milton Nascimento. “Fui estudar música na cidade em que meu avô foi maestro da banda militar”, conta.

O professor Gilvan de Oliveira o apresentou ao diretor teatral João das Neves e o teatro lhe abriu as portas. Logo, conheceu também Maurício Tizumba, grande agitador da cena cultural mineira, com quem passou a trabalhar. “Comecei fazendo música no teatro, mas sempre em cena também”.

No último ano, veio o convite para integrar o elenco de Zumbi, remontagem do texto clássico do teatro negro escrito por Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri 47 anos atrás. Após turnê no Rio e em São Paulo, o espetáculo aporta em sua cidade natal neste fim de semana. A família vai comparecer. E uma pessoa é especial: a mulher, a nutricionista Maria Fernanda Marent.

Já ensaia dois novos espetáculos para 2013, com Maurício Tizumba: Clara e o Avarento. E deixa as coisas acontecerem. “Sou muito tranquilo. Nada veio fácil, mas quando se caminha corretamente, as coisas vêm. Tenho o sonho de me consolidar como compositor. O passo é curto, mas é firme. Vou seguindo, dizendo algo com minha arte e buscando cada vez mais o conhecimento. Porque é um pilar que ninguém derruba”.

Alysson Salvador ensaia dois novos espetáculos para 2013: Clara e O Avarento – Fotos: Eduardo Enomoto

Zumbi
Avaliação: Regular
Quando: Quinta a sábado, 20h; domingo, 19h. Até 16/12/2012
Onde: Funarte de Belo Horizonte (r. Januária, 68, Floresta, BH, Metrô Estação Central)
Quanto: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada)
Classificação: 14 anos

Crítica de Zumbi:

Marco do teatro político e da própria história da dramaturgia nacional, o texto de Zumbi, escrito por Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri em 1965, ganha montagem 47 anos depois de marcar época no Teatro de Arena. O diretor João das Neves assume a nova versão. Após passar pelo Rio e por São Paulo, a saga de Zumbi dos Palmares chega a Belo Horizonte, com suas músicas compostas por Edu Lobo.

O destaque da remontagem é a boa direção musical, assinada pela cantora mineira Titane, que criou inventivos arranjos e afinou os atores. Mas o bom som não esconde a inexperiência cênica do elenco, que incorre em uma interpretação rasa e pouco convincente.

O cenário é inventivo, mas peca por encobrir boa parte da encenação, deixando o público em uma busca frustrada pelas expressões do elenco. Apesar do mérito em remontar um texto que fez história em nosso teatro e de recuperar a história de um importante líder negro, a sensação final que se tem é que o espetáculo é datado, bem como sua dramaturgia. É como se entrássemos em uma máquina do tempo e fôssemos transportados para aquela época em que o discurso maniqueísta e simplório fazia sentido, em um tempo onde havia a luta do bem contra o mal. As coisas não são mais tão simples assim. Nem o teatro.

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2 Resultados

  1. carlos eduardo disse:

    Meu amigo, colega de colégio estadual, contemporâneo Miguel, não sou especialista em teatro, mas como espectador. Sobre o espetáculo ZUMBI publiquei em meu facebook, o seguinte, sobre a apresentação que assisti aqui em BH. O espetáculo é marcada pela excelente direção musical dos mineiros Titane e Maurício Tizumba. Pela direção cênica de João das Neves que cada vez mais se impõe como um grande diretor de musical. Musical não é só no estilo Broadway. O encontro de boa música e texto, já era esperado deste clássico com composições de Edu Lobo (que ganhou várias versões da MPB principalmente em um super disco de Elis Regina e Zimbo Trio) e texto de Guarnieri. Datado sem dúvida, mas e talvez por isto ainda bastante interessante, por exemplo tento imaginar o impacto do texto sobre a tortura sofrida pelos escravos em plena ditadura. Ou a denúncia da violência imposta por um sistema legal. Enfim os tempos hoje são outros e digamos que a própria questão negra se tornou mais complexa e porque não mais dramática. Mas ainda assim um grande texto. A direção de cena (incluindo algumas novidades poucas e bem pontuais mas algumas novidades ao texto) e a solução cênica (que sim não é das mais interessantes para aqueles que ficam perto do palco) me parece apesar disto acertada, além de ser uma solução bastante interessante para as famosas paliçadas que teriam existido em Palmares e permite uma série de surpresas que não contarei aqui em termos de interatividade com o público. Por tudo isto, por ser uma remontagem corajosa quase 50 anos depois, por ser formado por um elenco de atores negros (bailarinos, capoeiras, atores , cantores e músicos, tudo gente conhecida nossa dos corres pela cidade de BH) o espetáculo Zumbi me emocionou bastante. Parabéns a amiga Junia Bertolino a quem disse e reafirmo após o espetáculo fiquei absurdado em vários momentos. Uma ópera só é mesmo grande no conjunto dos elementos que a formam e Zumbi cumpri bem em minha opinião. Sugiro que corram até lá, a sala é bem pequena e os ingressos viram uma raridade. Acima de tudo penso que o espetáculo ajuda o Brasil a refletir o Brasil.

    • Miguel Arcanjo Prado disse:

      Carlos, bonito o que escreveu. Concordo realmente que o espetáculo ajuda a refletir o Brasil. E a iniciativa em remontar esse texto tão importante há 47 anos é digna mesmo de aplausos. Abração e obrigado pela leitura!

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